Parte da comunidade científica ligada ao planejamento florestal trabalha com o conceito de que, para restaurar áreas degradadas, não é necessário adotar somente o plantio usual de mudas de espécies nativas. O biólogo Ingo Isernhagen compartilha desse propósito. Inserido no Programa de Pós-graduação em Recursos Florestais da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), Ingo é autor da tese Uso de Semeadura Direta de Espécies Arbóreas Nativas para Restauração Florestal de Áreas Agrícolas, Sudeste do Brasil.
Orientado pelo professor Ricardo Ribeiro Rodrigues, do Departamento de Ciências Biológicas (LCB), o pesquisador indica que a semeadura direta pode, em alguns momentos, ser uma dessas técnicas alternativas de restauração florestal. "Entre essas técnicas alternativas podemos citar, além da semeadura direta, a indução e condução da regeneração natural, o transplante de plântulas e bancos de sementes, o adensamento e enriquecimento de florestas com algum grau de degradação, entre outros."
O estudo partiu da observação da necessidade de criar métodos alternativos ou complementares para o plantio de mudas de espécies arbóreas nativas para restauração florestal de áreas degradadas, eficientes do ponto de vista técnico e econômico. "O trabalho teve como objetivo geral avaliar a eficiência técnica e econômica da semeadura direta de espécies arbóreas nativas para a colonização inicial de áreas agrícolas abandonadas com baixa capacidade de auto-regeneração e para o enriquecimento de áreas florestais restauradas com baixa riqueza de espécies", conta o biólogo.
Financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a pesquisa foi desenvolvida em duas áreas experimentais localizadas em duas Áreas de Preservação Permanente (APP) na Usina São João (USJ), em Araras (SP).
Assim, especificamente nesse projeto, foram testadas diferentes densidades de sementes de espécies arbóreas nativas necessárias para a ocupação inicial das áreas degradadas. Uma vez instalados os experimentos, avaliaram-se também o tempo para ocupação dessas áreas e os investimentos financeiros necessários, além de parâmetros de desenvolvimento da comunidade florestal. Para a primeira ocupação da área degradada foram utilizadas espécies arbóreas nativas de rápido crescimento e que fornecessem boa cobertura de copa (semeadura de preenchimento, com espécies denominadas "espécies de preenchimento").
Uma vez ocupadas as áreas, foi feita a semeadura de enriquecimento, com espécies diferentes das primeiras, promovendo a auto sustentabilidade da floresta. Os resultados mostraram que houve excelente cobertura da área degradada em cerca de dois anos e meio, período semelhante ao que normalmente acontece com o plantio de mudas.