Pouco mais de um ano após a implementação do Método Wolbachia, Joinville, cidade do Norte de Santa Catarina, já é vista como referência no combate à dengue.
Os resultados do método ainda são apurados, mas na prática já é possível perceber mudanças drásticas no cenário da doença na região. Nos primeiros seis meses de 2024, o município registrou mais de 20 mil casos e 64 mortes, já no mesmo período de 2025 foram cerca de 800 casos e nenhuma morte.
— Nós fizemos algo aqui que está dando resultado — comemorou o prefeito de Joinville, Adriano Silva, em evento realizado nesta terça-feira (26).
Durante o encontro com diversas autoridades da área da saúde, o município passou, oficialmente, para uma nova fase do método e será o centro de produção de Wolbitos para atender também outras duas cidades catarinenses: Blumenau e Balneário Camboriú.
Nesta nova etapa, aproximadamente 400 mil pessoas serão beneficiadas no Estado e o investimento, somente do Ministério da Saúde, chegará a R$ 5,5 milhões. A expectativa é de que as solturas ocorreram nas próximas 26 semanas, encerrando no início de 2026. Ao término da fase, 75% do território joinvilense será beneficiada com o Método Wolbachia.
Como Joinville se tornou referência no combate à dengue
O gerente de Implementação da Wolbito do Brasil, Gabriel Sylvestre, define Joinville como o topo da inovação do Método Wolbachia. Durante o primeiro ano de implementação, a cidade se tornou relevante o suficiente para produzir e exportar o método para outros municípios catarinenses.
A biofábrica estabelecida no Bairro Nova Brasília será o centro de toda a produção catarinense de Wolbitos. O local foi montado durante a primeira fase do projeto, ainda sob o comando do World Mosquito Program (WMP).
Agora com a coordenação da Wolbito do Brasil, a metodologia foi modificada, simplificada e se tornou mais eficiente, segundo Sylvestre. A expectativa é que, semanalmente, a biofábrica produza 1,4 milhão de unidades dos famosos Wolbitos — que possuem uma tecnologia natural, autossustentável e segura para a redução da transmissão de arboviroses como dengue, zika e chikungunya.
— Fizemos pequenas adaptações em parceria com a prefeitura, mandamos materiais lá de Curitiba para cá, potes de refrigeração, caixotes e outros insumos. Os servidores da prefeitura de Joinville aprenderam um novo método de produção de insumos e vai ser possível usarmos o mesmo espaço para atender não só Joinville, mas também Blumenau e Balneário Camboriú. Então, ganhamos eficiência no processo, reduzimos tempo de trabalho e aumentamos muito a qualidade. É mais um agradecimento a Joinville — disse o gerente de Implementação da Wolbito do Brasil.
Já de acordo com o assessor da vice-presidência de produção e inovação em saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Jorge Costa, o sucesso do Método Wolbachia em Joinville mostra como a ciência e a tecnologia podem, juntas, funcionar em prol da saúde pública.
Expectativa de resultados
A Wolbito do Brasil espera que Joinville tenha resultados significativos como Niterói, cidade do Rio de Janeiro, que reduziu em 89% o número de transmissões de dengue. Gabriel Sylvestre ainda compartilhou que, em todo o Brasil, já foram liberados aproximadamente 400 milhões de Wolbitos.
Para o prefeito de Joinville, Adriano Silva, o resultado também é mérito de todos os servidores e moradores da cidade.
— Esse resultado exige um trabalho constante. Nós em momento nenhum paramos de fazer os mutirões e limpezas. Todos os meses nós fazemos ainda os grandes mutirões de limpeza, de acompanhamento. O trabalho nas escolas com os detetives infantis, que a gente chama de detetives da dengue. Então, tudo isso a gente permanece — afirma.
Expansão da vacinação e do Método Wolbachia
O secretário adjunto da secretaria de vigilância em saúde e ambiente do Ministério da Saúde, Fabiano Pimenta, ainda revelou durante o evento que no próximo ano a faixa etária para a vacinação gratuita contra a dengue será expandida. O Instituto Butantan produzirá em torno de 37 a 50 milhões de doses da imunização que tem como público alvo a população de 02 a 59 anos.
Em paralelo, o Ministério da Saúde já planeja ampliar o Método Wolbachia a outros municípios brasileiros, começando com o Distrito Federal e região nos próximos meses. Há ainda a expectativa para abarcar outros municípios de Santa Catarina.
— Para que nós consigamos alcançar o nosso principal objetivo, né? Que é a qualidade de vida da população, para que não seja afetada por dengue, chikungunya, zika vírus e, mais importante ainda, evitarmos óbitos — disse.
Avanço em Joinville
A segunda etapa do Método Wolbachia em Joinville irá contemplar 15 bairros, como Adhemar Garcia, Anita Garibaldi, Boehmerwald, Bucarein, Dona Francisca, Glória, Itinga, Jardim Paraíso, Nova Brasília, Pirabeiraba, Profipo, Rio Bonito, Saguaçu, Santo Antônio e Vila Cubatão.
A cidade terá 3.844 pontos de soltura, distribuídos em 84 rotas. Em cada ponto, será aberto um frasco com cerca de 200 a 250 mosquitos. As liberações ocorrerão de terça a sexta-feira, sempre no início da manhã, a partir das 6h, aproveitando as condições climáticas favoráveis e o pico de atividade do mosquito. Cada rota leva, em média, duas horas para ser concluída.
Mariana Costa