O novo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou nesta terça-feira (25) ter “profunda admiração” por Nísia Trindade, cuja demissão foi feita mais cedo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva . Ao elogiar a agora ex-ministra, Padilha agradeceu líderes partidários no Congresso Nacional , e o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O novo titular da Saúde também citou o ex-presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e os novos presidentes das duas Casas, eleitos no início de fevereiro — Hugo Motta (Republicanos-PB), da Câmara, e Davi Alcolumbre (União-AP).
“Símbolo de compromisso e seriedade à frente da Fiocruz e do Ministério da Saúde, Nísia deixa um legado de reconstrução do SUS, após anos de gestões negacionistas, que nos custaram centenas de milhares de vidas”, escreveu Padilha em uma rede social.
A substituição de Nísia por Padilha ocorre na esteira da segunda reforma ministerial deste mandato de Lula — nos primeiros dias de janeiro, o presidente trocou o comando da Secom (Secretaria de Comunicação Social da presidência), após ter criticado publicamente a divulgação das ações do governo federal. Paulo Pimenta, que estava à frente da pasta desde o início do governo, foi substituído pelo publicitário Sidônio Palmeira, responsável pela campanha do petista de 2022.
Um dos motivos que levaram às mudanças na Esplanada diz respeito à relação entre Executivo e Legislativo. O Centrão pressiona por mais espaço no governo, e uma das pastas cobiçadas pelo grupo era, justamente, a Saúde. Nos bastidores, as principais críticas à gestão de Nísia são a falta de uma “marca” na Saúde e a condução do combate à dengue ( leia mais abaixo
“Agradeço, também, as três entidades municipalistas, os fóruns e consórcios de governadores, os presidentes das casas legislativas durante este período, Arthur Lira, Hugo Motta, Rodrigo Pacheco e Davi Alcolumbre, bem como aos três líderes do governo no congresso, Jaques Wagner, Randolfe Rodrigues e José Guimarães, juntamente com todos os demais líderes partidários que integram o Congresso Nacional. Seguimos obstinados para unir e reconstruir o Brasil e por mais saúde para o nosso povo. Ao trabalho!”, completou Padilha.
Mudança na Esplanada
Nísia é a terceira mulher a ser demitida do primeiro escalão do petista — todas foram trocadas por homens. Daniela Carneiro, que chefiava o Turismo, e Ana Moser, titular do Esporte, deixaram o governo em julho e setembro de 2023, respectivamente. O terceiro mandato de Lula começou com 11 ministras e, com a saída de Nísia, são nove mulheres à frente de ministérios.
O governo ganhou mais uma representante feminina após a demissão do então ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, em setembro do ano passado, por denúncias de assédio. Ele foi substituído por Macaé Evaristo, único caso em que uma mulher foi escolhida para entrar no lugar de um homem.
Em nota divulgada após a publicação desta reportagem, a Secom (Secretaria de Comunicação Social da presidência) confirmou a troca e informou que a posse de Padilha no novo cargo deve ocorrer na quinta-feira após o carnaval (6). “O presidente agradeceu à ministra pelo trabalho e dedicação à frente do ministério”, diz o texto.
Da articulação política à Saúde
Padilha é responsável pela articulação política entre Executivo e Legislativo. Ainda não há definição de quem assume a pasta de Relações Institucionais.
Nesta tarde, Lula chamou Nísia ao Planalto, em reservado e fora da agenda. Logo depois, o presidente reuniu-se com Padilha, encontro que também não estava previsto na agenda do petista.
O ministro, que é médico, foi titular da Saúde da ex-presidente Dilma Rousseff, entre 2011 e 2014. Ele é próximo de Nísia e tem diversos aliados abrigados em secretarias do ministério. A ex-ministra não é filiada a nenhum partido.
Troca na Saúde
Além das críticas a Nísia, a troca faz parte de uma reforma ministerial debatida desde o fim do ano passado, quando Lula criticou publicamente a gestão da comunicação do governo federal.
A insatisfação do presidente levou à substituição do titular da Secom, logo no início de janeiro. Lula demitiu Paulo Pimenta e nomeou o marqueteiro Sidônio Palmeira, que comandou a campanha do petista de 2022.
Condução do combate à dengue
A demissão ocorre horas depois de um evento da saúde no Planalto , em que Lula e Nísia estiveram lado a lado. Na cerimônia, o presidente anunciou a produção da primeira vacina 100% nacional e de dose única contra a dengue. O investimento é de R$ 1,26 bilhão.
Na agenda, Nísia informou que o imunizante, desenvolvido em parceria entre o Instituto Butantan e a empresa chinesa WuXi Biologics, será distribuído a partir de 2026. A vacina será válida para combater os quatro sorotipos da doença. Ao todo, 60 milhões de doses serão disponibilizadas à população.
A luta contra a arbovirose, inclusive, também pode estar por trás da saída de Nísia. Em meio à alta dos diagnósticos e óbitos no país, o ministério deixou vacinas passarem do prazo de validade. No ano passado, o Brasil registrou 6.484.890 casos prováveis de dengue e 5.972 mortes provocadas pela doença. Em 2023, foram 1.658.816 diagnósticos e 1.179 óbitos.