Ter uma boa noite de sono deveria ser algo rotineiro após um dia intenso de trabalho e outras atividades. No entanto, expectativas, problemas clínicos e/ou emocionais, entre outros fatores, têm levado cada vez mais pessoas a conviver com distúrbios do sono. De acordo com estudos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 72% dos brasileiros sofrem de doenças relacionadas ao sono, entre elas, a insônia.
Para auxiliar aqueles que sofrem com noites mal dormidas, a startup SleepUp desenvolveu, com apoio do Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), um aplicativo médico contra a insônia, cujos algoritmos foram desenvolvidos com inteligência artificial.
A plataforma usa um protocolo clínico conhecido como Terapia Cognitivo-comportamental para tratar as causas da insônia, e outros recursos, como anamnese e diários. Os usuários da ferramenta percorrem uma jornada de atividades diariamente para garantir que o sono seja mais saudável.
“Em algumas semanas, já há melhora, mas a correção completa depende da causa. Nosso protocolo leva pelo menos três meses para ser concluído”, afirma Renata Bonaldi, pesquisadora e fundadora da startup.
A pesquisadora passou a estudar o tema após conversas com potenciais usuários da plataforma enquanto estudava o uso de tecnologias na saúde. “O sono apareceu em primeiro lugar nas minhas pesquisas. As pessoas querem ajuda porque não têm acesso fácil a diagnósticos e tratamentos nessa área. Como elas buscam uma intervenção tecnológica para distúrbios do sono, criamos essa opção de tratamento digital.”
Insônia ou apneia?
O aplicativo desenvolvido pela SleepUp também pode ajudar no diagnóstico de outro distúrbio do sono: a apneia. O sistema pode ser associado a dispositivos vestíveis (uma faixa para a cabeça que coleta dados de eletroencefalograma e um anel que obtém informações de oximetria) para o diagnóstico de patologias.
É comum que o paciente com apneia moderada ou grave precise usar um dispositivo para manter o fluxo de ar nas vias aéreas (Continuous Positive Airway Pressure – CPAP) durante o sono. “Como a apneia normalmente não tem cura, o uso do equipamento é vitalício. Nesse caso, o app da SleepUp auxilia na adesão ao tratamento, já que há a terapia e o monitoramento via aplicativo”, explica Renata.
Ainda de acordo com a pesquisadora, os acessórios têm tecnologia proprietária e seu uso é indicado por profissional de saúde. O paciente leva para casa e dorme com eles. O médico, então, tem acesso a dados clínicos precisos das características do sono daquele indivíduo e define uma estratégia de tratamento a partir dessas informações.
Globalização da tecnologia
O aplicativo tem validação clínica e aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Com mais de 25 mil usuários e 18 publicações acadêmicas, o app está disponível em todas as lojas de aplicativos e a empresa oferece uma versão gratuita. O uso é liberado para interessados com mais de 18 anos.
A intenção da startup é de se tornar uma empresa global. Com versões em espanhol e em inglês, o produto já está disponível em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, e vai ser submetido à aprovação das agências reguladoras dos Estados Unidos e da Europa.
Renata ressalta ainda que o sistema não tem concorrentes no Brasil, uma vez que é a única opção nacional já aprovada pela Anvisa. “Aqui no Brasil, ainda não tem ninguém que faça essa intervenção de tratamento e diagnóstico ao mesmo tempo. Tem quem faça só diagnóstico, tem quem se dedique apenas a tratamento, mas da forma como fazemos e com aprovação da Anvisa, somos os únicos”.