A trajetória do Hemocentro do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina (FM) da UNESP, compus de Botucatu, é marcada pela associação entre pesquisa de ponta - comprovada por exemplos como a produção de anticorpos monoclonais e estudos com células-tronco -, prestação de serviço à comunidade e formação de recursos humanos de qualidade. "Realizamos pesquisas tecnológicas, ou seja, voltadas para a aplicação do conhecimento para uso social", enfatiza Paulo Eduardo de Abreu Machado, diretor técnico-científico do Hemocentro.
Os serviços do Hemocentro, em funcionamento desde 1982, beneficiam hoje uma região onde vivem quase meio milhão de pessoas, englobando municípios como Botucatu, Lençóis Paulista, São Manuel, Avaré e Laranjal Paulista. "A cada mês, coletamos por volta de 1.200 bolsas de sangue e realizamos entre 1.200 e 1.500 transfusões", revela José Mauro Zanini, diretor-técnico da Divisão Hemocentro.
Após a coleta, Zanini assinala que o sangue passa por processos como tipagem sanguínea e exames sorológicos - destinados a verificar a possível presença de moléstias infecciosas, como doença de Chagas, aids, sífilis e hepatite C. "Se alguma dessas doenças é detectada, os doadores são encaminhados para tratamento especializado", esclarece o médico. Ele ressalta que no Hemocentro também há atendimento para pacientes com moléstias sanguíneas, como leucemias e linfomas. "Somos também o suporte de ponta para atendimento a todas as complicações relacionadas a transfusões que possam ocorrer em nossa região", acrescenta.
O dirigente destaca que mais de cem profissionais atuam no Hemocentro, entre médicos, enfermeiros, biólogos, técnicos e funcionários administrativos. A esse pessoal qualificado, soma-se uma infra-estrutura formada por laboratórios como o Probiotec, de Biologia Molecular, Hematologia, Bioquímica, Citometria de Fluxo, Sorologia e Rotina Transfusional, entre outros. "Essa infra-estrutura garante a realização de estágios de alunos dos cursos do compus de Botucatu, como Medicina e Biologia - Modalidade Médica", declara Zanini.
De acordo com Maria Inês de Moura Campos Pardini, pesquisadora do Departamento de Clínica Médica da FM, as atividades do Hemocentro envolvem tecnologias avançadas, como, por exemplo, a Biologia Molecular, que estuda os fenômenos biológicos em nível, de DNA (o ácido desoxirribonucléico, elemento básico de um ser vivo), permitindo, por exemplo, a detecção muito mais precoce da possibilidade de uma pessoa desenvolver uma doença. "Realizamos mensalmente cerca de 1.200 exames que utilizam a Biologia Molecular como ferramenta de investigação, em casos como determinação da carga virai de pacientes com HIV e diagnóstico de hepatite C", argumenta.
O uso da Biologia Molecular garante, também, a concretização de um serviço cooperativo com o Hospital Dr. Amaral Carvalho (Hospital do Câncer) de Jaú, no qual o Hemocentro faz o acompanhamento de pacientes que recebem transplante de medula em que as células-tronco de um indivíduo sadio são transferidas para o paciente com algum tipo de tumor. "Os exames que realizamos verificam se o transplante foi bem-sucedido do ponto de vista da implantação dessas células", comenta Maria Inês. Por sua experiência em iniciativas como o Projeto Genoma Humano do Câncer, realizado entre 2000 e 2002. Maria Inês está coordenando a primeira das quatro etapas de implementação da Rede para Análise da Diversidade Genética Virai (VGDN) (veja quadro). A pesquisadora também é coordenadora do Mestrado Profissionalizante em Pesquisa e Desenvolvimento em Biotecnologia Médica, oferecido pelo Hemocentro. "O curso é voltado para profissionais já atuantes ou que pretendem se inserir no mercado de trabalho, interessados em utilizar a tecnologia produzida em nosso setor para a resolução de seus problemas cotidianos", explica.
Em funcionamento desde 2001, o curso já formou duas turmas e, entre seus alunos, há profissionais como enfermeiros, médicos, assistentes sociais, dentistas e farmacêuticos-bioquímicos. "Atendemos basicamente à demanda de pessoas que trabalham na nossa região, embora também haja alunos do Paraná", afirma Zanini. Ele enfatiza que, por suas diversas atividades, o Hemocentro ganhou uma projeção nacional: "Hoje, somos referência para muitas ações organizadas pelo Ministério da Saúde, em áreas como Hemoterapia e combate à aids", afirma.
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Jornal da Unesp