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Apenas 75% das crianças até 15 anos têm anticorpos contra sarampo em São José do Rio Preto – Notícias (16 notícias)

Publicado em 30 de setembro de 2022

Um estudo publicado este mês na revista Vacinas mostra que na região de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, apenas 75,8% das crianças de 0 a 15 anos têm anticorpos contra o sarampo. O percentual está abaixo do considerado ideal para prevenir surtos da doença – em torno de 94%. Os resultados vão ao encontro de outras pesquisas recentes, que mostraram queda nas taxas de imunização infantil no país desde 2015.

“Este é mais um grito de alerta de que as crianças brasileiras não estão atingindo a imunidade de rebanho, tornando-se suscetíveis à infecção. E estamos vendo isso na prática: o sarampo, que já estava erradicado, voltou ao país”, comenta Maurício Lacerda Nogueira, professor da Famerp (Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto) e um dos autores do trabalho, financiado pela FAPESP. por meio de dois projetos (13/21719-3 e 19/06572-2).

Os pesquisadores analisaram a presença de anticorpos específicos do sarampo – do tipo imunoglobulina (IgG) – em amostras de sangue de 252 crianças coletadas entre dezembro de 2018 e novembro de 2019. Os participantes do estudo foram internados no Hospital de Base da Famerp com suspeita de dengue. Os cientistas aproveitaram o material coletado durante o atendimento clínico para realizar análises de soroprevalência.

As amostras foram estratificadas em cinco faixas etárias: 0 a 1 ano (crianças ainda não imunizadas); 1 a 2 anos (quando devem ser tomadas a primeira e a segunda dose da vacina MMR); 2 a 5 anos (quando a criança já deve estar totalmente imunizada contra o sarampo); 5 a 10 anos; e 10 a 15 anos. Em todos os grupos a taxa de imunização foi inferior a 80%.

“Todas as faixas etárias estão abaixo do ideal, mas o mais preocupante são as crianças de 2 a 5 anos, que estão em 70%. Essas crianças deveriam ter sido vacinadas nos últimos dois ou três anos. É possível que a pandemia de Covid-19 tenha contribuído para esse resultado. Mas a queda da cobertura vacinal no país é um problema que começou mais cedo, entre 2015 e 2016”, diz Nogueira.

Em um estudo anterior, publicado na revista Scientific Reports, a equipe liderada por Nogueira havia demonstrado que quase um terço dos cariocas pretensos com idade entre 10 e 40 anos não possuem anticorpos contra o sarampo. Com base nesses resultados, o grupo decidiu investigar a situação entre os mais jovens.

“Sabemos que a cobertura vacinal para várias doenças vem caindo nos últimos anos. Entre as causas estão a falta de investimento em campanhas de conscientização e dificuldades na organização dos municípios. Além disso, há o fato de a população ter perdido o medo da doença, já que os casos não são tão frequentes”, diz Nogueira.

A pesquisadora cita ainda a influência do movimento antivacinação, que até 2020 estava restrito às camadas mais privilegiadas da população, mas ganhou força no país durante a pandemia.

“A Secretaria de Saúde de São José do Rio Preto é muito atuante, mas sem um movimento nacional a favor da vacinação fica muito difícil atingir as metas de imunização. E imagino que em locais menos privilegiados do país a taxa de cobertura vacinal deve ser ainda menor”, ​​avalia.

Estatisticas

O sarampo é uma doença altamente contagiosa para a qual não existem tratamentos específicos. Estima-se que nove em cada dez pessoas não protegidas (por vacina ou infecção prévia) se infectem após a exposição ao vírus. A transmissão ocorre por gotículas respiratórias expelidas pelo paciente ao tossir ou espirrar. Os sintomas aparecem 10 a 14 dias após a exposição e incluem tosse, coriza, conjuntivite, dor de garganta, febre e irritação da pele com manchas vermelhas.

Complicações – como otites, infecções respiratórias e doenças neurológicas – podem causar sequelas como surdez, cegueira, retardo de crescimento e diminuição da capacidade mental.

Em 2019, foram registrados 9 milhões de casos de sarampo em todo o mundo, o que resultou em 207.500 mortes, segundo dados do CDC (Centers for Disease Control) dos Estados Unidos. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, foram confirmados 8.448 casos em 2020 e 676 casos em 2021.

A única forma de prevenir a doença é com a vacina tríplice viral, que também imuniza contra caxumba e rubéola e faz parte do PNI (Programa Nacional de Imunizações). Mas, segundo o Ministério da Saúde, apenas 47% das crianças que fazem parte do público-alvo receberam a imunização em 2022, e a meta de cobertura é de 95%. Em 2021, apenas 50% do público-alvo recebeu a segunda dose da vacina, que deve ser administrada por volta dos 15 meses de idade.

Embora as taxas de imunização não sejam suficientes para impedir a circulação do vírus no país, pelo menos conseguem reduzir a taxa de transmissão, como mostrou o estudo da Famerp. Estima-se que em uma população totalmente desprotegida, um indivíduo infectado pode contaminar entre 12 e 18 pessoas. Na população de 0 a 15 anos estudada em São José do Rio Preto, o número de casos secundários variou entre três e quatro – o que ainda é considerado preocupante.

“A mensagem do artigo é que o problema não foi resolvido com as campanhas de vacinação realizadas até agora. É necessário mais esforço. A pesquisa, por meio da universidade e da FAPESP, está fornecendo informações relevantes ao gestor de saúde e cabe a ele agir”, diz Nogueira.