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Apego ao lugar e comportamentos pró-ambientais em ambientes urbanos (1 notícias)

Publicado em 15 de abril de 2024

Por Zahra Alinam e Adriane Eloah

Por Zahra Alinam e Adriane Eloah

Há evidências de que existe uma relação significativa entre a formação do indivíduo e o apego ao lugar em que ele se insere. Com o desenvolvimento das sociedades humanas e a transformação dos estilos e das condições de vida das pessoas, arquitetos e urbanistas têm se concentrado cada vez mais na qualidade dos ambientes construídos e dos espaços urbanos. E esse ambiente engloba mais do que apenas elementos físicos: ele também inclui mensagens, significados e símbolos que as pessoas interpretam com base em seus papéis, expectativas e motivações. O sentimento que surge da percepção e do julgamento de um indivíduo sobre um ambiente específico é o que denominamos “senso de lugar”. Ele desempenha um papel vital em fomentar a harmonia entre os indivíduos e seu ambiente, levando à melhor utilização do espaço, à satisfação do usuário e, por fim, ao senso de apego e de presença contínua no ambiente.

lugar também tem um impacto profundo na formação da identidade, o lugar é parte do que somos, do que nos tornamos, tendo a mesma importância de outros fatores como profissão, religião e os relacionamentos. Daí a mudança ser sempre desafiadora, porque o ambiente de vida está profundamente entrelaçado à identidade. Como resultado, os indivíduos geralmente desenvolvem uma ligação com a cidade em que residem. Esse comportamento denota a ideia de que há apego aos lugares da mesma forma que nos apegamos às pessoas, de modo que essa relação afetuosa se torna parte importante na maneira como se organiza a própria vida. Em Psicologia, o apego ao lugar refere-se ao vínculo emocional que uma pessoa desenvolve com ele (Low e Altman, 1992).

De acordo com Scannell e Gifford (2010), os fundamentos efetivos do apego ao lugar podem ser caracterizados segundo aspectos pessoais, ambientais e comportamentais. Os fatores pessoais referem-se à demografia e às relações interpessoais de um indivíduo ou de um grupo de pessoas que têm apego com o lugar. Estudos revelam variações nos níveis de apego com base no gênero, idade, escolaridade, ocupação, condição social e econômica, entre outras características demográficas. Já as relações se fortalecem nos laços comunitários e nas relações de vizinhança. Por sua vez, os fatores ambientais referem-se às características físicas e sociais dos lugares. As físicas são elementos do ambiente real, como o entorno natural e a infraestrutura. As sociais incluem segurança, gestão e cultura. Os fatores comportamentais dizem respeito à maneira como um indivíduo, ou um grupo de pessoas, interage com os aspectos físicos e sociais do lugar. Para os moradores da cidade, esses fatores incluem principalmente tempo de residência, mobilidade, tempo gasto procurando moradia, espaços ao ar livre para explorar.

Problemas ambientais ameaçam a existência de lugares considerados importantes para indivíduos e sociedade. Os pesquisadores das disciplinas de psicologia social e ambiental investigaram a influência do apego ao lugar nos comportamentos pró-ambientais. O apego ao lugar aumenta a probabilidade de condutas de proteção e pode gerar um senso de compromisso e responsabilidade em relação aos lugares aos quais os indivíduos estão mais ligados (Relph, 1976). É mais provável que os residentes se engajem na gestão ambiental quando as cidades dão prioridade à integração de ambientes naturais significativos, especialmente para aqueles que têm conexões emocionais com a natureza. Além disso, visitas frequentes a áreas naturais podem aumentar o apego ao local e a responsabilidade ambiental. O envolvimento com o voluntariado e o ativismo para restaurar o meio ambiente podem promover uma atitude positiva, o que, em última análise, leva a um comportamento ambientalmente responsável.

Cidadãos com diferentes perspectivas sobre questões ambientais e de desenvolvimento podem se unir, como partes interessadas coletivas, motivados por seu apego a um lugar específico. Esse vínculo compartilhado motiva ações coletivas voltadas para a preservação de lugares valorizados. No entanto, eventos como crime, realocação forçada e desastres ambientais, em princípio, prejudicam tanto o senso de lugar quanto o senso de comunidade. Consequentemente, o sentimento de perda e de alienação mobilizam cidadãos a participarem ativamente na reconstrução física e emocional das comunidades.

Como promover o apego ao lugar por meio do projeto urbano?

Embora o apego ao lugar aumente a probabilidade de comportamentos pró-ambientais, há evidências de que isso nem sempre acontece. De acordo com Jackson (2005), isso ocorre quando os fatores pessoais e ambientais não se apoiam mutuamente. Nesse caso, apesar do forte vínculo com o lugar, os indivíduos enfrentam oportunidades limitadas de comportamentos pró-ambientais dentro de seu ambiente. Para resolver esse problema, é fundamental entender como o nosso ambiente cotidiano apoia ou dificulta a expressão de nossos comportamentos pró-ambientais. Para isso, faz-se necessária uma análise abrangente tanto dos ambientes construídos quanto dos fatores pessoais.

Na verdade, a espontaneidade e o acaso são muito mais valorizados em ambientes urbanos, sendo muitas vezes mais propícios a gerar apego do que os ambientes planejados convencionais. Por isso, compreender os motivos pelos quais as pessoas desenvolvem esse sentimento a certos ambientes torna-se crucial para os projetistas. As decisões tomadas pelos projetistas com relação à estrutura do espaço público têm um impacto direto nas experiências cotidianas, nas emoções e até mesmo nas expectativas e nas avaliações das pessoas. Em outras palavras, as escolhas feitas no planejamento urbano influenciam muito o desenvolvimento de uma cidade e seu impacto sobre seus habitantes. O estudo do apego ao lugar não só tem a importância de explicar cientificamente o mecanismo da conexão entre as pessoas e o ambiente, como também estabelece o valor aplicado de reconstruir o “vínculo emocional positivo entre indivíduos e lugares específicos”.

Apego ao lugar em distritos do conhecimento e inovação

Os distritos do conhecimento dependem diretamente de atrair e reter pessoas talentosas para o desenvolvimento de um ecossistema de colaboração e inovação (Knight, 2011). Considerando que a classe criativa e de talento tem opção de escolher onde viver, o conceito de apego ao lugar torna-se essencial. Tradicionalmente, a atração de talentos baseava-se em oportunidades de emprego, instalações de pesquisa e perspectivas de avanço profissional. Embora esses fatores ainda permaneçam relevantes, eles representam apenas parte da solução. Essa abordagem puramente centrada no aspecto profissional falha na consideração do elemento humano – a necessidade de se sentir conectado, enraizado e integrado em uma comunidade vibrante.

crescente interesse no apego ao lugar em distritos de conhecimento mostra uma mudança para uma abordagem mais abrangente na gestão de talentos. Reconhece-se a conexão humana e o senso de pertencimento como fatores críticos na retenção de mentes brilhantes que impulsionam a inovação. Ao fomentar o apego ao lugar, esses territórios se tornam mais do que apenas locais de trabalho: eles se transformam em comunidades prósperas onde o talento floresce e as ideias inovadoras se concretizam. Além disso, aumenta a diversidade de pessoas, reduz o custo com rotatividade de funcionários, estimula um ambiente criativo e inovador e estabelece um impacto positivo sustentável. Os funcionários que se sentem conectados à sua comunidade são menos propensos a buscar oportunidades em outro lugar, resultando em economias significativas de custos para as empresas dentro do distrito.

O apego ao lugar contribui para um ambiente de trabalho positivo, que estimula a criatividade e um senso de continuidade viabilizando a boa reputação e legado nos distritos de conhecimento que, por sua vez, vai atrair ainda mais indivíduos talentosos no futuro.

Referências

Jackson, T. (2005). “Motivating sustainable consumption”. Sustainable Development Research Network, 29 (1), 30-40.

Knight, J. (2011). “Education hubs: A fad, a brand, an innovation?” Journal of Studies in International Education, 15 (3), 221-240.

Low, S. M., & Altman, I. (1992). “Place attachment: A conceptual inquiry”. In Place attachment (pp. 1-12). Boston, MA: Springer US.

Relph, E. (1976). Place and placelessness (Vol. 67, p. 45). London: Pion.

Scannell, L., & Gifford, R. (2010). “Defining place attachment: A tripartite organizing framework”. Journal of environmental psychology, 30 (1), 1-10.

Zahra Alinam, pesquisadora iraniana, realiza seu pós-doutorado na Unicamp, apoiada por uma bolsa internacional da FAPESP. Atualmente, trabalha em um projeto que aborda a percepção urbana em distritos de conhecimento e inovação por meio da utilização de Modelagem da Informação da Cidade e Realidade Virtual. Pesquisadora do Ceuci.

Adriane Eloah, mestranda no programa de pós-graduação em Arquitetura, Tecnologia e Cidade na mesma universidade e beneficiária de uma bolsa FAPESP, dedica-se ao estudo da Modelagem da Informação da Cidade com um enfoque na previsão da vitalidade urbana em distritos de conhecimento e inovação. Pesquisadora do Ceuci.