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Ao atender desbancarizados, Brasil pode injetar US$ 9 bi no PIB

Publicado em 11 dezembro 2019

Novo relatório da Juvo projeta que o estabelecimento de identidades financeiras para a população financeiramente excluída, ou desbancarizada, aumentou em US$ 68 bilhões de o Produto Interno Bruto da região. Esta cifra equivale a um aumento médio no PIB de US$ 108 por pessoa: também considera um aumento de 16 por cento dos depósitos financeiros da América Latina (US$ 62 milhões).

O relatório global: "The YES Economy: Giving the world financial identity (A Economia do Sim: Proporcionando Identidade Financeira ao Mundo)", foi produzido pela consultoria global independente Oxford Economics, em nome da Juvo, empresa pioneira da tecnologia de identidade financeira como serviço.

A Oxford Economics identificou um aumento no PIB de US$ 9 bilhões no Brasil (US$ 9 bi), US$ 31 bilhões no México e US$ 8 bilhões na Argentina, mercados destacados pelo crescimento.

Segundo o prognóstico, a Oxford Economics prevê um cenário em que operadoras de telecomunicações móveis puderam criar uma identidade financeira e uma pontuação de crédito (score) exclusiva para seus clientes desbancarizados, permitindo a prestação de serviços financeiros para aqueles que não possuem histórico de crédito. Este é um resultado que o relatório caracteriza como "Economia do Sim". O nome deriva da possibilidade dos provedores de serviços financeiros dizerem "Sim" aos seus clientes e estender seus serviços, pela primeira vez, para pessoas não bancarizadas em todo o mundo, graças às suas novas identidades financeiras.

As operadoras móveis apresentam ofertas de baixo custo e baixo risco para seus clientes, como empréstimos por créditos de minuto. Baseado na recuperação de investimento, os consumidores constroem gradualmente transações maiores: e na sequência, já partem para o acesso de outros serviços financeiros, através de associações entre operadoras, provedores de serviços financeiros e comerciantes.

A análise concluiu que, resolvendo o problema de identidade financeira na região da América Latina e Caribe, produziria os seguintes resultados estimados: um aumento de US$ 68 bilhões no PIB regional; aumento de US$ 77 bilhões na disponibilidade de créditos para as famílias; aumento de US$ 62 bilhões nas economias familiares; e aumento médio de US$ 108 por pessoa.

"Estabelecer identidades financeiras através das operadoras móveis pode resultar em profundas implicações para os governos, instituições financeiras e para os milhões de pessoas desbancarizadas (e sub-bancarizadas) em todo o mundo", disse Steve Polsky, CEO e Fundador da Juvo. "Para os governos representa um incentivo massivo no desenvolvimento econômico e no progresso. Para as instituições financeiras e operadoras de telecomunicações parceiras, representa uma oportunidade de bilhões de dólares. E para os não bancarizados, abre um mercado de acesso igualitário aos serviços financeiros que antes não estavam disponíveis a eles".

Para Anubhav Mohanty, economista chefe da Oxford Economics, "o mercado da América Latina e do Caribe são as regiões em desenvolvimento mais ricas do mundo. No entanto, segundo dados do Banco Mundial, 205 milhões de pessoas na região (43% da população adulta) estão excluídas da economia formal".

Deste total, 54 milhões não podem utilizar a economia formal porquê precisam de identidade financeira. O que é notável é que deste total, 20 milhões de adultos podem ter fundos para interação e engajamento com os provedores de serviços financeiros, mas eles precisam de uma solução como o FiDaaS para isso.

"O que também distingue a região da América Latina e do Caribe é a demanda substancial de serviços de crédito versus dinheiro poupado", acrescentou Mohanty. A informação do estudo enfatiza que o crescimento da demanda de crédito será muito maior do que o crescimento do valor economizado pelas famílias.

De acordo com os dados do Banco Mundial, 3,9 bilhões de pessoas ao redor do planeta (68% dos adultos em todo o mundo) estão fora da economia formal devido à falta de histórico de crédito. Estes adultos não conseguem fornecer as informações necessárias que constituiria uma "Identidade Financeira", ou um histórico de crédito formalmente reconhecido.

Economias ilícitas - No Brasil, as economias ilícitas são uma realidade com diversos efeitos sociais, se configurando como um problema público. Segundo Gabriel Feltran, docente do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e atual coordenador do Programação de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS) da Universidade, além de pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e sediado na Universidade de São Paulo (USP), este cenário não é novo na história do país. "No Brasil, sempre tivemos grupos fortemente marginalizados e que, portanto, sempre precisaram contornar a ordem dominante para seguir tocando suas vidas cotidianas. As elites criaram normas, leis, um Estado em suas diferentes dimensões, justamente para regular esses contornamentos", relata ele. Nas últimas décadas, entretanto, chegaram ao país economias ilegais transnacionais, mais pujantes e muitas vezes violentas. É a partir dessas mudanças que vêm à tona os estudos sobre as relações entre economias ilegais, violência e política.

Por meio de análises bibliográficas e pesquisas empíricas com ênfase etnográfica, Feltran acompanhou a trajetória de um jovem trabalhador de mercados ilegais nas periferias de São Paulo e, também, de uma Toyota Hilux roubada por ele. Com os estudos, o pesquisador detectou que o dinheiro ilegal rapidamente se transforma em legal, principalmente via consumo. De acordo com Feltran, a economia ilegal faz parte de um jogo político-administrativo e da própria lógica de mercado. É possível, inclusive, afirmar que os mercados legais e ilegais estimulam um ao outro.

Feltran explica que não existe um meio desse ciclo vicioso acabar, mas há formas de regulação possíveis - pelo próprio mercado, pelo Estado e por comunidades -, que têm sido testadas em mercados ilegais pelo mundo e dado bons resultados. "A bibliografia sobre o tema nos ensina, de Durkheim a Foote Whyte, dele a Michel Foucault ou Veena Das, que ações dos governos voltadas para regular ilegalidades não têm nunca o efeito de apagá-las por completo, mas de mantê-las sob taxas controláveis. Isso porque há produtividade nas ilegalidades, já que o sistema de justiça, as polícias, as cadeias e muitos outros espaços vivem delas. Mantendo-as sob controle, a face estatal da legalidade se justifica ainda melhor", relata.