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Anvisa aprova nova vacina contra a dengue com eficácia geral de 80,2% (1 notícias)

Publicado em 03 de março de 2023

Por Kariny Bianca

Enquanto as doses da nova vacina contra a dengue não chegam ao Sistema Único de Saúde (SUS), a rede privada conta com alta procura e falta de estoque. No início da semana, a farmacêutica japonesa Takeda, fabricante da Qdenga, informou que o fornecimento ao mercado será limitado, diante da prioridade do atendimento ao Ministério da Saúde (MS). Na rede pública, a vacinação começa na faixa etária de 10 a 14 anos, mas ainda não foi divulgado quando será o início da aplicação. A expectativa é ainda para fevereiro.

Até o momento, Goiás já registrou 27 mil casos da doença desde o início do ano, e três óbitos foram confirmados. Em dezembro passado, o MS incorporou a vacina Qdenga no rol do SUS. Mas, diante da capacidade restrita de fornecimento por parte do laboratório fabricante, foi definido o público alvo e as regiões prioritárias. Em janeiro, foi divulgado que o imunizante será fornecido para 134 municípios de Goiás. O estado é o que tem o maior número de cidades para receber as doses.

Enquanto isso, na rede privada, a procura segue em alta. A dose varia de 390 reais a 464 reais, cada uma. O esquema é completo com duas, em intervalo de três meses entre elas. O POPULAR levantou, junto aos laboratórios Padrão e Vacine, que o estoque está chegando ao fim diante da quantidade de interessados em busca do imunizante. Responsável técnico pela Vacine, o médico infectologista Marcelo Daher pondera que foram mais de 500 vacinas aplicadas. Conforme ele, o cenário é semelhante nas outras unidades.

“O laboratório irá ofertar 70% do que compramos para fazermos a segunda dose, ou seja, será insuficiente para atender a população não contemplada pelo Plano Nacional de Imunizações (PNI)”, explica Daher. O laboratório Padrão não repassou dados referentes ao quantitativo de doses aplicadas, mas destacou que a procura segue aumentando. A situação ocorre principalmente após a decisão da farmacêutica Takeda de limitar o fornecimento ao mercado privado, diante da incapacidade de abastecimento da rede pública e privada.

Para o ano de 2024, o MS conseguiu fazer a aquisição de 6,5 milhões de doses, e outras 9 milhões devem ser recebidas em 2025. O quantitativo a ser distribuído ainda não foi divulgado. A Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) diz em nota que, em reunião junto ao ministério, foi informado que a partir desta semana será repassada “às unidades da federação uma nota de distribuição das vacinas de dengue”. Os municípios foram escolhidos entre aqueles com mais de 100 mil habitantes e prevalência do sorotipo 2, cuja eficácia da Qdenga é maior.

“Não há, contudo, a definição de data para o recebimento das doses ou o quantitativo até o momento. Essas e outras informações serão respondidas pelo MS nessa semana e oportunamente repassadas à imprensa”, acrescenta a pasta. Mas, para se ter ideia, apenas em Goiânia já são estimados 85 mil habitantes com idade entre 10 e 14 anos. “Quanto a estratégia (de aplicação), vai depender de quantas doses da vacina Goiânia vai receber”, diz a Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

“A princípio, a secretaria pretende ofertar o imunizante em todas as 72 salas de vacinas existentes no município durante a semana e nas quatro que funcionam nos finais de semana e feriados. Mas, caso haja necessidade, esse número pode ser maior”, acrescenta.

A aplicação em crianças e adolescentes foi definida diante do quantitativo de hospitalizações. A faixa etária é a segunda com mais casos graves, perdendo apenas para os idosos. Entretanto, como o imunizante pode ser aplicado em pessoas de até 60 anos, o grupo mais jovem se tornou prioritário. A idade entre 4 e 60 anos foi a que teve autorização por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que registrou a vacina em março de 2023. Foi em julho daquele ano que passou a ser fornecida na rede privada.

Conforme o órgão, os estudos clínicos feitos pela farmacêutica eram insuficientes para a indicação à faixa etária acima de 60 anos. Na Europa e na Argentina, os órgãos regulatórios aprovaram o uso para aqueles com idade a partir de 4 anos, sem limite superior. Alguns laboratórios e clínicas particulares em Goiás já apostam no chamado uso off label, ou seja, indiferente do que consta na bula.

O POPULAR apurou que a aplicação para o público acima de 60 anos tem sido feito na clínica Cedipi Goiânia. “Recomendação de vacinação até 59 anos e 11 meses porém não há contra-indicação de vacinação para maiores de 60 anos. Maior ou igual a 60 anos podem se vacinar, considerando particularidades individuais, em especial risco epidemiológico e comorbidades (que aumentam o risco de dengue grave e complicações)”, pondera um comunicado da Cedipi.

A diretora da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBIm), Flávia Bravo, explica que a vacina previne contra formas graves da doença, como a segunda infecção, considerada de maior risco. Entretanto, destaca, é necessário continuar com os cuidados pessoais, como o uso de repelentes, e o combate ao Aedes aegypti, com a eliminação dos focos de água que favorecem a proliferação do mosquito. O vetor também é responsável pela transmissão das arboviroses chicungunha e zika.

O Instituto Butantan e a Fiocruz dialogam com o Ministério da Saúde para aumentar a produção de vacinas de dengue no Brasil. O primeiro tem desenvolvido um imunizante, o Butantan-DV, que demonstrou eficácia de 79,6% em dose única, com eficácia para os quatro sorotipos da dengue. Ainda falta a conclusão e a aprovação dos estudos para que a vacina seja ofertada à população.