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Anticorpos associados a doenças autoimunes podem sinalizar a gravidade da Covid (61 notícias)

Publicado em 16 de setembro de 2021

Por André Julião | Agência FAPESP

Um grupo internacional de pesquisadores encontrou, no soro sanguíneo de pacientes infectados pelo SARS-CoV-2, um conjunto de moléculas normalmente presente em doenças autoimunes e que podem sinalizar a severidade dos quadros de COVID-19. O estudo foi na plataforma medRxiv, em artigo ainda sem revisão por pares. Futuramente, os resultados podem servir como subsídio para tratar casos graves da doença ou mesmo para evitar a evolução do quadro clínico.

“Uma série de trabalhos tem mostrado que essas moléculas que promovem doenças autoimunes sistêmicas, conhecidas como autoanticorpos, também aparecem na COVID-19. Nós encontramos aqueles associados com pessoas saudáveis e outros cujos níveis aumentam com a gravidade do quadro clínico da COVID-19. Foi possível detectar, por exemplo, autoanticorpos contra duas moléculas com níveis aumentados dias antes do paciente precisar de oxigênio. Com isso, esperamos poder prevenir o agravamento dos casos”, explica , pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e primeiro autor do artigo.

Marques coordena financiado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) dedicado a entender como o sistema imune responde à COVID-19. O trabalho é assinado por pesquisadores de Brasil, Alemanha, Estados Unidos e Israel.

O grupo analisou o soro sanguíneo de 246 voluntários recrutados em comunidades judaicas de seis estados norte-americanos que não tinham tomado nenhuma vacina. Destes, 169 tiveram resultado positivo de COVID-19 em testes de RT-PCR, enquanto os outros 77 testaram negativo e não apresentaram sintomas. O grupo de infectados foi subdividido entre quadros leves, moderados e severos.

Ferramentas computacionais mostraram uma associação entre anticorpos e moléculas do sistema renina-angiotensina que, entre outras funções, produz a proteína ACE2 (enzima conversora de angiotensina 2, na sigla em inglês), à qual o vírus se conecta para infectar a célula humana. Os pesquisadores encontraram ainda anticorpos que tinham como alvo os chamados receptores acoplados às proteínas G (conhecidos pela sigla GPCR), que têm funções relacionadas à inflamação e coagulação, entre outras.

Casos moderados e graves tiveram os maiores níveis de autoanticorpos, enquanto o soro do sangue de pessoas saudáveis e com quadros leves registrou níveis consideravelmente mais baixos.

Potencial terapêutico

Autoanticorpos contra 11 moléculas mostraram-se os mais significantes para definir a gravidade dos casos. Dois deles, conhecidos pelas siglas anti-CXCR3 e anti-AT1R, por exemplo, foram detectados em pacientes que alguns dias após a coleta do sangue para o estudo precisaram de oxigênio suplementar.

CXCR3, contra o qual o primeiro deles é direcionado, é um receptor expresso em linfócitos T ativados, sendo alguns deles células imunes de memória. O receptor controla a migração desses linfócitos para um local com inflamação e ajuda no combate à infecção. AT1R, por sua vez, tem função regulatória no sistema circulatório. O anticorpo que atua contra ele aumenta danos no endotélio, a parte interna dos vasos sanguíneos.

Dentre esses autoanticorpos com maior relação com a gravidade dos casos, os pesquisadores chamam a atenção para a presença do anticorpo contra o receptor conhecido como STAB1. Com função de “lixeiro”, o STAB1 elimina restos de células e outras sobras de danos a tecidos. “Não sabemos ainda a função desse receptor no contexto da COVID-19. No entanto, uma vez que ele tem diversas funções relacionadas à homeostase [equilíbrio] tecidual e resolução de inflamação, acreditamos que possa ser relevante para indicar a gravidade da doença”, diz Marques.

Além de trazer mais evidências sobre como a COVID-19 pode evoluir para uma doença autoimune sistêmica, os pesquisadores apontam caminhos para terapias capazes de bloquear a ação desses autoanticorpos. Medicamentos inibidores da ACE2 e da AT1R, por exemplo, têm sido testados em casos graves de COVID-19. No entanto, ainda sem sucesso. O trabalho tem ainda entre os autores brasileiros , que realiza pós-doutorado no ICB-USP com da Fundação; além de (), () e (), todos com bolsa FAPESP de doutorado direto.