Um grupo internacional de pesquisadores encontrou, no soro sanguíneo de pacientes infectados pelo SARSCoV-2, um conjunto de moléculas normalmente presente em doenças autoimunes e que podem sinalizar a severidade dos quadros de Covid-19. O estudo foi publicado na plataforma medRxiv, em artigo ainda sem revisão por pares. Futuramente, os resultados podem servir como subsídio para tratar casos graves da doença ou mesmo para evitar a evolução do quadro clínico.
“Uma série de trabalhos tem mostrado que essas moléculas que promovem doenças autoimunes sistêmicas, conhecidas como autoanticorpos, também aparecem na COVID-19. Nós encontramos aqueles associados com pessoas saudáveis e outros cujos níveis aumentam com a gravidade do quadro clínico da Covid-19. Foi possível detectar, por exemplo, autoanticorpos contra duas moléculas com níveis aumentados dias antes do paciente precisar de oxigênio. Com isso, esperamos poder prevenir o agravamento dos casos”, explica Otávio Cabral Marques, pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICBUSP) e primeiro autor do artigo.
Marques coordena projeto financiado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) dedicado a entender como o sistema imune responde à Covid-19. O trabalho é assinado por pesquisadores de Brasil, Alemanha, Estados Unidos e Israel.
O grupo analisou o soro sanguíneo de 246 voluntários recrutados em comunidades judaicas de seis estados norte-americanos que não tinham tomado nenhuma vacina. Destes, 169 tiveram resultado positivo de Covid-19 em testes de RT-PCR, enquanto os outros 77 testaram negativo e não apresentaram sintomas. O grupo de infectados foi subdividido entre quadros leves, moderados e severos.
Ferramentas computacionais mostraram uma associação entre anticorpos e moléculas do sistema renina-angiotensina que, entre outras funções, produz a proteína ACE2 (enzima conversora de angiotensina 2, na sigla em inglês), à qual o vírus se conecta para infectar a célula humana. Os pesquisadores encontraram ainda anticorpos que tinham como alvo os chamados receptores acoplados às proteínas G (conhecidos pela sigla GPCR), que têm funções relacionadas à inflamação e coagulação, entre outras.
Casos moderados e graves tiveram os maiores níveis de autoanticorpos, enquanto o soro do sangue de pessoas saudáveis e com quadros leves registrou níveis consideravelmente mais baixos.