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Antecipação de cesariana pode pôr bebê em risco (105 notícias)

Publicado em 26 de julho de 2024

No Brasil, muitas cesáreas previstas para o meio do feriado de carnaval são antecipadas ou postergadas. Pesquisadores do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa investigaram os efeitos dessa manipulação da data do parto na saúde dos bebês. Os resultados, divulgados no jornal Health Economics, mostram que essa manipulação pode ser tanto danosa quanto benéfica para a saúde dos recém-nascidos, já que pode aumentar ou reduzir a idade gestacional no parto.

A postergação de partos, mostra o artigo, leva a aumento na idade gestacional e a uma redução na mortalidade neonatal. Já a antecipação reduz a idade gestacional e o peso dos recém-nascidos – sobretudo de gestações de alto risco e da parte inferior da distribuição de peso ao nascer. O carnaval, na média, aumenta o tempo gestacional em 0,06 dia e reduz as taxas de mortalidade neonatal e neonatal precoce em 0,30 e 0,26 por 1 mil nascidos vivos, respectivamente.

O estudo foi feito por Carolina Melo e Naercio Menezes Filho, economistas e professores do Insper. “Nossa pesquisa mostrou que existe, sim, extensa manipulação das datas dos partos em função do carnaval. Isso envolve, principalmente, mulheres menos vulneráveis, de maior nível educacional”, diz Carolina. Ela aponta que a tendência entre mães de nível educacional mais alto é a antecipação dos partos, para que não ocorram durante o feriado. Mas esse tipo de providência, que privilegia o conforto da parturiente e do médico, encurta artificialmente o período de gestação, podendo pôr bebês em risco.

“Quando, por vários motivos, os nascimentos não podem ser antecipados por meio de cesarianas, as gestantes acabam esperando um pouco mais, e muitas entram em trabalho de parto naturalmente e acabam tendo partos vaginais”, diz Melo. Ela acrescenta que um aumento líquido de 3,5 dias no tempo gestacional dos partos cujas datas foram manipuladas pode levar a um ganho de peso de 60 gramas.

Comum no País

A pesquisadora alerta que, se a postergação de partos por um feriado é capaz de mexer em um indicador tão extremo como mortalidade neonatal, é provável que o comum seja os nascimentos ocorrerem muito cedo no País e os bebês nascerem com condições de saúde piores do que poderiam nascer, caso as gestações fossem prolongadas. Como destaca Carolina, nos hospitais totalmente privados do Brasil (que não atendem SUS), 86% dos partos são cesarianas. O índice é muito mais elevado do que a média nacional, de 55%, que já é alta.

O estudo cobra políticas públicas que restrinjam a antecipação de partos sem justificativas médicas, para minimizar os riscos associados a nascimentos prematuros e baixo peso ao nascer.