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DCI

Ano Mundial da Água

Publicado em 28 julho 2003

A questão da qualidade da água consumida no Brasil preocupa cada vez mais aqueles que acompanham o noticiário e as manifestações dos especialistas na área. E a lenta e limitada reação dos poderes públicos ao problema, acompanhada pela pouca participação da iniciativa privada- e da população -, nas iniciativas que objetivam reduzir a dimensão dessa grave "epidemia" só faz aumentar os riscos, a médio e longo prazo, e a insegurança ao se procurar utilizar esse insumo básico à vida e à atividade econômica. "Desta vez tomamos um susto", afirmou, por exemplo, este mês, Sâmia Maria Tauk-Tornisielo, coordenadora de uma pesquisa sobre qualidade das águas dos rios da bacia do Corumbataí (interior do Estado de São Paulo), ao referir-se ao trabalho que desenvolve. Segundo ela, em matéria divulgada pela Agência Fapesp, os últimos dados, coletados em março, demonstram que a situação, na região, nunca esteve tão grave, sendo a cidade de Rio Claro a mais afetada pelo problema. Em um dos pontos de coleta da mencionada pesquisa, ressaltou, os níveis de coliformes fecais detectados chegaram a 139.600 partes por 100 mililitros, sendo que o limite fixado para consumo humano é de 5.000/100 ml. Quando a análise é feita em termos históricos percebe-se que o problema se agravou recentemente, na região, e de forma bastante rápida, acrescentou. De acordo com ela, os níveis de metais pesados encontrados nos peixes dos rios da bacia do Corumbataí também preocupam. No início do mês, outro sinal de alerta ocupou as primeiras páginas dos jornais, e isto no ano de 2003, proclamado "Ano Mundial da Água" pelas Nações Unidas: o das imensas nuvens de espuma química tóxica e malcheirosa que voltaram a aparecer com força no rio Tietê, na altura da cidade de Pirapora do Bom Jesus, a 54 quilômetros da capital paulista. Segundo o noticiário, o acontecimento só começará a ser definitivamente erradicado dentro de três anos, quando terminar de ser implantada a segunda fase do projeto de despoluição do rio. A espuma chega à altura de mais de dois metros, cobrindo as pontes da cidade e invadindo quintais e casas. Triste exemplo para o mundo, dado por um país que possui cerca de 13,7% de toda a água doce existente no planeta. E cuja qualidade real, a esta altura, dificilmente é conhecida, tendo em vista os parcos recursos destinados à área pelos governos federal, estaduais e municipais, e pela poluição que se acumula, e que já levou até à contaminação de lençóis freáticos da dimensão do chamado Aqüífero Guarani - que se estende pelos Estados do Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, chegando até a Argentina, Paraguai e Uruguai. Até que ponto continuaremos tomando medidas emergenciais nessa área, enquanto as preventivas continuarão tendo seus cronogramas esticados para evitar gastos considerados indesejáveis, no momento, mas imprescindíveis, se considerado o longo prazo? Urge poderes públicos, iniciativa privada e população tomarem rápida consciência do imenso déficit ambiental e de saúde pública já acumulado no País, no setor, para, enfim, transformarem o que tem sido negligenciado em objeto de amplas e competentes iniciativas. YVES LÉON WINANDY