Um estudo realizado de maneira inédita no Brasil analisou a ancestralidade de mulheres com câncer de mama.A pesquisa, publicada na revista científica Clinical Breast Cancer, foi conduzida por pesquisadores do Hospital de Amor, em Barretos (SP).
Cerca de 1 mil pacientes de diferentes regiões do país participaram. Durante as análises, constatou-se que a maioria dos voluntários que apresentaram tipos mais agressivos da doença era de ancestralidade africana e moradores do Norte e Nordeste.
O g1 conversou com Ana Carolina Laus, pesquisadora e biologista do Centro de Pesquisa em Oncologia Molecular do Hospital de Amor, e Idam de Oliveira, mastologista do hospital, para entender as conclusões do estudo. Veja abaixo perguntas e respostas:
Por que o estudo é inédito? Segundo a pesquisadora, o ineditismo está no fato de a pesquisa ter usado, especificamente, características genéticas da população brasileira.
"O que a gente analisa são características genéticas que nos mostram origens europeia, africana, asiática e, especialmente, a origem dos índios brasileiros, diferentemente de outras análises que foram feitas. Do ponto de vista molecular, esse é o grande ineditismo."
Há maior risco entre pacientes de origem africana? Dentre as mulheres com ancestralidade africana analisadas, 43,7% possuíam o subtipo HER-2 positivo e 42,2%, o triplo-negativo, duas das formas mais agressivas do câncer. As pacientes eram, em maioria, das regiões Norte e Nordeste.
Já a ancestralidade europeia foi mais frequentemente associada ao tumor luminal HER-2 negativo (36,3%), de mais fácil tratamento, e encontrada no Sul e Sudeste.
Apesar das estatísticas, os pesquisadores enfatizam que a ancestralidade em si não pode ser vista como causa dos tumores mais agressivos, já que, ao menos até o momento, nenhuma relação entre a genética das pacientes e a gravidade do câncer foi confirmada.
"O estudo mostra que, na ancestralidade africana, temos uma taxa maior de pacientes com tumores agressivos. Por exemplo, se você for hoje à África, essa incidência também é um pouco mais elevada em relação a outros países. A gente não pode falar da ancestralidade como fator causal", destaca Oliveira.
"A gente não trabalhou com pacientes sem câncer. Então a ancestralidade foi uma questão que a gente observou dentro desse grupo, mas não é um fator causal, não causa o câncer e não aumenta o risco", pontua Laus.
O que fazer diante dos resultados? Além da importância das mamografias regulares, o mastologista cita que os resultados podem nortear gestores de saúde pública na hora de definir ações específicas de prevenção às mulheres de ancestralidade africana.
"Um auxílio a mais para políticas de saúde pública, porque são tumores mais agressivos e que precisam de um manejo mais adequado. Não que a população de ancestralidade africana tenha que entrar em desespero, mas individualizar essa população é importante."
Como se tratar? Ainda que mais difíceis de serem tratados, os cânceres HER-2 positivo e triplo-negativo não são incuráveis, ressalta Oliveira.
"Temos diversas drogas chamadas terapia-alvo, que atuam de forma específica. Já evoluímos muito. Nem todas as drogas estão disponíveis para o SUS. São tumores mais agressivos, de difícil manejo, porém não significa que são intratáveis."
Quais são os próximos passos do estudo? Os pesquisadores agora querem investir em novas frentes no estudo para descobrir, por exemplo, melhores formas de tratamento e prevenção.
"Ampliar esse estudo, incluir mais pacientes das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, acompanhar esses pacientes, entender um pouco da história clínica. São informações importantes que a gente tem como próximos passos para agregar mais informações a esses dados preliminares", explica a biologista.
"Do ponto de vista clínico, é ver a associação entre a ancestralidade e a sobrevida dessas pacientes, relacionando com o tipo de tratamento. Será que a ancestralidade influencia diretamente em uma sobrevida da mulher? Qual a melhor estratégia para atuarmos em prevenção?", indaga o mastologista.
Fonte: g1
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