Estudo identifica sete proteínas presentes no plasma de pacientes hospitalizados que abrem caminho para novos tratamentos e metodologias capazes de identificar casos que tendem a se agravar
Potenciais alvos terapêuticosTambém associada à tempestade de citocinas, a proteína IREB2 tem o papel de impedir a formação de ferritina, mediador da desregulação do sistema imune. De acordo com o estudo da FOB-USP, por impedir o avanço do efeito cascata que leva à inflamação desregulada, essa proteína foi encontrada apenas nos pacientes suaves.
“Pesquisas anteriores já haviam demonstrado o aumento dos níveis de ferritina nos pacientes com casos graves da doença e a importância que esse fenômeno tem no agravamento. Portanto, não foi uma surpresa encontrarmos IREB2 exclusivamente nos pacientes que tiveram bom prognóstico [casos suaves]”, diz.
De acordo com Buzalaf, o objetivo agora é identificar drogas capazes de aumentar a expressão da IREB2 e, por consequência, reduzir a ferritina.Também foi selecionada para estudo a proteína ULBP6, associada à resposta imune adaptativa (específica para cada patógeno). Essa molécula se liga e ativa o receptor NKG2D, localizado na superfície das células imunes, que tem papel importante no controle imunológico. “O receptor medeia a toxicidade das células imunes do tipo natural killer [um tipo de linfócito que mata células infectadas]. Além disso, essas proteínas têm influência no resultado clínico de uma variedade de patologias ligadas ao sistema imune, como nefropatia diabética e alopecia areata. Mas o que mais nos interessou foi seu polimorfismo [forma alternativa da molécula]”, afirma a pesquisadora. headtopics.com
Buzalaf explica que existe uma forma alternativa da ULBPC em que, na cadeia de aminoácidos que constitui a proteína, ocorre a troca de uma arginina por uma leucina, o que aumenta ainda mais a afinidade pelo receptor NKG2D. Segundo a pesquisadora, essa maior afinidade reduz a ativação das células natural killer, prejudicando a resposta do sistema imune inato.
“É possível, e precisamos investigar ainda, que os pacientes críticos tenham esse polimorfismo, o que poderia acarretar uma resposta imunológica prejudicada”, diz.De acordo com a pesquisadora, se for comprovado que indivíduos com essa forma alternativa da ULBP6 são mais acometidos pela forma grave da covid-19, será possível desenvolver um método que identifique essa suscetibilidade genética precocemente.
Outra proteína selecionada pelos pesquisadores e exclusivamente encontrada em pacientes que não foram internados na UTI foi a geosolina. “Essa molécula tem propriedades anti-inflamatórias, pois se liga ao cálcio e, assim, remove filamentos de actina que estão circulando na corrente sanguínea, com ação inflamatória. Estudos clínicos realizados em outros países já estão investigando a suplementação de geosolina recombinante como potencial terapia. O nosso achado corrobora essa hipótese”, diz.
O mesmo será investigado com a proteína POLR3D, também encontrada apenas entre os hospitalizados com bom prognóstico. “Essa enzima está envolvida na resposta imune inata, na produção de interferon do tipo 1 [citocina importante na resposta antiviral] e tem como função limitar a infeção por bactérias e vírus intracelulares. Talvez uma possível terapia seja aumentar a expressão dessa enzima nos estágios iniciais da doença”, afirma. headtopics.com
Outra proteína encontrada apenas em pacientes suaves é a SFTPD, que tem relação direta com a defesa do pulmão contra os microrganismos inalados, por formar uma espécie de camada protetora na superfície do órgão. “Ela está relacionada ao surfactante pulmonar, líquido que reduz de forma significativa a tensão superficial dentro do alvéolo pulmonar, prevenindo o colapso durante a expiração. No nosso estudo, pacientes mais graves não tinham essa proteína. Com o agravamento da doença, o paciente vai ter pouca capacidade de proteger o pulmão”, diz.
Buzalaf comenta que um estudo recente mostrou que a melatonina aumenta a formação de surfactante no pulmão (leia mais emagencia.FAPESP.br/34959/).A última proteína selecionada, e que pode indicar caminhos para o desenvolvimento de novos tratamentos, é a PON-1, enzima que degrada fosfatos orgânicos. “Trata-se de uma molécula envolvida na proteção das lipoproteínas de baixa densidade contra o dano oxidativo e a formação de ateroma. Portanto, ela evita que aconteça peroxidação lipídica com dano para a parede do vaso sanguíneo. Mas também é importante para a resposta imune”, diz.
De acordo com a pesquisadora, estudo realizado por outro grupo, envolvendo a análise de drogas candidatas contra a covid-19, descobriu que os genes correlacionados com ACE-2 (receptor da célula para a entrada do vírus SARS-COV-2) são enriquecidos na atividade de degradação de fosfatos orgânicos. “Isso é mais um indicativo de que a PON-1 pode ter alguma relação com a progressão da doença”, afirma.
O artigoQuantitative plasma proteomics of survivor and non-survivor COVID-19 patients admitted to hospital unravels potential prognostic biomarkers and therapeutic targetspode ser lido em.