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Análise revela arquitetura vegetativa da cana-de-açúcar (1 notícias)

Publicado em 06 de junho de 2013

Por Raiza Tronquin

Pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, analisaram as bases moleculares e fisiológicas associadas à emergência da gema axilar de cana-de-açúcar, processo no qual o broto emerge de 20 a 30 dias após o plantio. O estudo realizado no Laboratório de Biotecnologia Agrícola mostra que otimizar a emergência da gema axilar é necessário durante o ciclo produtivo do canavial, já que este é um fator agronômico que influencia na uniformidade do plantio durante seu estabelecimento e subsequentes safras.

A propagação vegetativa da cana-de-açúcar ocorre por meio de colmos, que são tipos de caules onde os nós e entrenós são bem visíveis. A gema axilar, conhecida popularmente como broto, é ligada a um fragmento deste caule e, a partir dela, forma-se uma nova planta. A primeira safra pode ser colhida aproximadamente um ano depois do plantio e, em sequência, novos brotos surgem a partir de gemas que ficam na região inferior da planta, após o corte da parte aérea. "Desta forma é garantida mais de uma safra. Porém, a produtividade cai após cada colheita, sendo necessária a renovação do canavial a cada cinco ou seis cortes", descreve o engenheiro agroecológico Fausto Andrés Ortiz Morea, que realizou a pesquisa no programa de Genética de Melhoramento de Plantas da Esalq para elaboração de tese de doutorado.

"Uma boa germinação da gema de cana-de-açúcar diminui a quantidade de atividades e materiais utilizados para sua propagação, sendo traduzido em lucro para o agricultor", afirma Ortiz Morea. "A eficiente emergência da gema axilar, combinada com adequadas práticas agrícolas, resulta em um maior perfilhamento (produção de colmos) aumentando sua produção, além de prolongar o número de cortes e diminuir custos para o produtor".

Modificações

O estudo caracterizou as modificações na população de pequeno RNAs ou sRNAs (microtranscriptoma) durante a transição da gema axilar, assim como integrar estas informações com mudanças na expressão de fatores de transcrição (FTs) e o balanço hormonal no período de desenvolvimento da cana. "Para tal, foram usadas técnicas de sequenciamento de nova geração para produzir bibliotecas de pequenos RNAs em gemas dormentes e ativas, assim como análises computacionais e de expressão gênica para identificar e quantificar sRNAs e seus genes alvo", aponta o engenheiro agroecológico.

Com apoio do Programa de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Programa de Estudante-Convênio de Pós-Graduação (PEC-PG), a pesquisa evidencia a existência de uma composição diferenciada nos perfis de expressão de diversos sRNAs, acompanhada de mudanças no balanço de hormônios específicos, que modulam de maneira coletiva vias de sinalização e metabólicas essenciais durante a emergência da gema axilar. "O estudo identificou novos alvos para futuros estudos funcionais de regulação gênica, mediada por sRNAs, durante a emergência de gemas axilares e por conseguinte na arquitetura vegetativa de plantas", conclui Ortiz Morea.

O trabalho tem coautoria de Geraldo Felipe Ferreira, mestre pelo Programa de Fisiologia e Bioquímica de Plantas da Esalq e orientação de Fabio Tebaldi Silveira Nogueira, professor cadastrado no mesmo programa. O estudo é relatado no artigo Global analysis of the sugarcane microtranscriptome reveals a unique composition of small RNAs associated with axillary bud outgrowth foi selecionado como capa da revista britânica Journal of Experimental Botany, na edição de maio de 2013. O artigo na íntegra pode ser acessado aqui.

* Publicado originalmente no site Agência USP.

(Agência USP)