Além de facilitar a mastigação e a deglutição, umedecer a boca e proteger contra bactérias, a saliva pode ajudar a detectar precocemente o risco de se desenvolverem doenças associadas ao excesso de gordura corporal. Ao medirem a concentração de ácido úrico na saliva de adolescentes, pesquisadores das universidades Federal de São Paulo (Unifesp) e Estadual de Campinas (Unicamp) conseguiram predizer a porcentagem de gordura corporal dos jovens.
Dessa forma, identificaram adolescentes com percentual de gordura acima do ideal, ainda que sem sintomas de doenças crônicas relacionadas à obesidade. Os resultados do estudo foram publicados na revista “ Nutrition Research ”. O objetivo da pesquisa foi identificar na saliva biomarcadores confiáveis que se correlacionem com os encontrados no sangue, de modo a viabilizar o desenvolvimento de testes rápidos para monitorar o estado de saúde, principalmente, de crianças. A ideia é possibilitar a ampliação do uso da saliva como amostra biológica alternativa para análises clinicas, segundo a professora da Unifesp, campus de Diadema, e coordenadora do projeto, Paula Midori Castelo. “ Tem a vantagem de poder ser coletada várias vezes, assim como a urina, de forma não invasiva e indolor ”, disse.
Conforme a pesquisadora, o nível de ácido úrico salivar se mostrou um bom preditivo da concentração de gordura corporal mesmo em adolescentes considerados saudáveis. Contudo, a relação entre esses dois fatores ainda não é bem compreendida e deverá ser mais estudada em estudos futuros. Produto final da degradação das purinas — bases nitrogenadas constituintes do DNA e do, o ácido úrico acumula-se no sangue e, em proporções muito menores, na saliva. Apesar de ele desempenhar função antioxidante, a concentração elevada do composto no sangue.
A concentração salivar mostrou-se um bom indicador para detectar o acúmulo de gordura, mesmo em adolescentes que não estavam em tratamento para doenças crônicas. doença em adolescente DANIEL DE CERQUEIRA Achado. Concentrações de ácido úrico indicavam maior porcentagem de gordura na saliva pela desregulação na degradação das purinas pode predispor à hipertensão, à inflamação e a doenças cardiovasculares.
MÉTODOS
Além do ácido úrico, foram dosadas na saliva de 248 adolescentes — 129 meninos e 119 meninas — as concentrações de diversos compostos, entre eles colesterol e vitamina D. As análises estatísticas dos dados indicaram que os adolescentes que apresentaram concentrações mais elevadas de ácido úrico na saliva também possuíam maior porcentagem de gordura corporal. (Elton Alisson, Agência Fapesp) Estudantes de até 17 anos SÃO PAULO.
Os adolescentes, com idade entre 14 e 17 anos e estudantes de escolas públicas de Piracicaba, no interior paulista, responderam previamente a um questionário sobre o histórico médico e foram submetidos a uma avaliação odontológica para excluir fatores que influenciariam a saliva, como o pH (índice de acidez). As amostras foram coletadas em domicílio, após um jejum de 12 horas, por meio de um dispositivo chamado “ salive te ”- uma espécie de tubo coletor feito de plástico.
Cárie e a doença periodontal (inflamação na gengiva) estão relacionadas com a secreção de substâncias que podem alterar a composição da saliva.