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Análise da Prevalência de Infecções Sexualmente Transmissíveis na Principal Área de Garimpo do Brasil (17 notícias)

Publicado em 07 de maio de 2025

A prevalência do vírus da imunodeficiência humana (HIV) na população geral é de menos de 1%, mas pode superar 5% em grupos como profissionais do sexo e homens que fazem sexo com homens (HSH), de acordo com o Ministério da Saúde. Entretanto, a taxa de infecção por HIV nas chamadas populações-ponte, que têm contato com essas comunidades vulneráveis, ainda é desconhecida.

Uma dessas populações são os garimpeiros, que frequentemente não têm acesso a serviços de saúde e podem ter mais interações com trabalhadoras do sexo. Locais de extração de ouro, conhecidos como corrutelas, apresentam uma oferta significativa de trabalho sexual, potencializando a disseminação de infecções sexualmente transmissíveis (IST).

Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), do Instituto Adolfo Lutz e da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, com o apoio da FAPESP, estão conduzindo um projeto no sudoeste do Pará. O estudo visa investigar a prevalência de IST e os determinantes sociais da saúde entre homens e mulheres que vivem em áreas de garimpo.

As testagens para HIV , hepatites B e C, sífilis e malária ocorreram em Itaituba, a maior área de extração de ouro do Brasil, com cerca de 44.890 hectares. “Estamos presentes na região de Santarém desde 2000, podendo acompanhar as transformações sociais e econômicas decorrentes do aumento dos garimpos de ouro, que impactam diretamente na saúde pública”, afirma Aluisio Segurado, professor do Departamento de Infectologia e Medicina Tropical da FM-USP.

O acesso aos garimpeiros é desafiador devido ao isolamento das áreas de extração e à resistência gerada pela ilegalidade da atividade. No entanto, a equipe de saúde geralmente é bem recebida, um legado das campanhas de saúde pública da antiga Sucam.

Paulo Abati, médico infectologista e doutorando da FM-USP, destaca que essa receptividade facilita a realização do estudo, ressaltando sua experiência anterior como médico extensionista na região.

Antes das testagens programadas para 2024, Abati e a equipe realizaram uma fase formativa em 2023, visitando os municípios-alvo. Nesse período, desenvolveram uma etnografia com entrevistas e observações que permitiram um entendimento mais profundo da dinâmica local, além de estabelecer vínculos de confiança com a comunidade.

“As entrevistas semiestruturadas e a observação nos ajudaram a trazer uma abordagem mais ampla, permitindo a inclusão de outras mulheres além das trabalhadoras do sexo,” explica Abati. Essa inclusão também trouxe à tona uma dinâmica interessante: muitas mulheres entram no trabalho do sexo de forma pontual, dependendo de fatores de vulnerabilidade, sem se identificarem necessariamente como profissionais do sexo.

Os pesquisadores inicialmente focaram nas IST, mas a malária, uma enfermidade com alta prevalência na região, também foi incluída nas testagens. Segurado salienta a importância de abordar a malária, uma vez que a condição de vida precária dos garimpeiros favorece a transmissão da doença.

Embora os dados ainda não sejam definitivos, análises preliminares indicam uma prevalência maior de infecções por HIV e IST entre os garimpeiros em comparação à população geral. Com a publicação dos resultados esperada ainda para este ano, os portadores de HIV receberão encaminhamentos para tratamento no Sistema Único de Saúde ( SUS ) e acesso a cuidados, como o encaminhamento para a administração de medicamentos para sífilis.

O estudo também coletará informações sobre saúde mental e consumo de substâncias psicoativas. "Profissionais de saúde locais são vitais, pois a população confia neles e os procura para questões de saúde. Sem essa relação de confiança, seria impossível acessar esses indivíduos", conclui Segurado.

O projeto conta com o apoio da FAPESP e inclui a participação de especialistas em malária, que colaboram nas investigações relacionadas à doença.

Compreender as nuances da saúde nessa população é essencial para desenvolver estratégias eficazes de intervenção e oferecer um cuidado de saúde mais abrangente e inclusivo.

Informações da Agência FAPESP