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Jornal de Piracicaba online

Anabolizante causa alteração cardíaca

Publicado em 23 junho 2006

Um estudo realizado por sete alunos dos cursos de graduação e doutorado da FOP (Faculdade de Odontologia de Piracicaba), da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), mostrou que a utilização de anabolizantes em altas doses acentua o aumento do coração (hipertrofia causada pelo treinamento físico), e, que esta hipertrofia está associada a menor rendimento cardíaco —— o coração bombeia menos sangue em cada contração —— porque há diminuição das cavidades cardíacas (ventrículos).
Os estudos foram realizados com ratos, em laboratório, e levaram quatro anos para serem concluídos. Apesar disso, de acordo com a bióloga e professora do departamento de ciências fisiológicas da FOP, Fernanda Klein Marcondes, 35, coordenadora do projeto e orientadora da pesquisa, o trabalho não se encerrou com esse estudo. O desafio agora é avaliar como os efeitos dos anabolizantes agem na hipertensão. A pesquisa foi financiada pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo) que, em quatro anos de pesquisa, liberou R$ 50 mil.
De acordo com Fernanda, o estudo partiu do princípio de que o uso indiscriminado e em altas doses de esteróides anabolizantes, utilizado para aumentar a massa muscular, pode causar efeitos colaterais, como, por exemplo, tumor de fígado, de próstata, alterações no comportamento, coagulação sangüínea e problemas cardiovasculares. Entretanto, não se sabia como as alterações cardíacas eram causadas.
A fisioterapeuta Tatiana Sousa Cunha, 28, esclareceu que os anabolizantes têm uso terapêutico desde a década de 50, para tratamento de anemia, perda de massa muscular em idosos e portadores do HIV. "Mas a aplicação com acompanhamento médico, pois o anabolizante é controlado".
O grupo constatou que, ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, o anabolizante não causa somente aumento do músculo, mas também de fibras de colágeno —— tecido cicatrizante, que altera a função elétrica do coração. "As alterações podem estar relacionadas a casos de parada cardíaca e morte súbita em atletas usuários de anabolizantes", observou Fernanda e a farmacêutica Ana Paula Tanno, 32, doutoranda do programa de biologia molecular e funcional do Instituto de Biologia da Unicamp.
O resultado é a soma de uma dissertação de mestrado, uma tese de doutorado e duas iniciações científicas.
O grupo —— que também teve três professores, sendo dois da PUC (Pontifícia Universidade Católica), de Campinas, e um do Incor (Instituto do Coração), de São Paulo —— utilizou nos quatro anos de pesquisa 130 ratos, produzidos pelo Centro de Referência em Experimentação da Unicamp. Eles foram submetidos a treinamento físico de alta intensidade e tratados com doses 100 vezes maiores que as doses terapêuticas de esteróides anabolizantes nandrolona, dose equivalente à utilizada por atletas e freqüentadores de academias.