O projeto, que conta com financiamento da FAPESP e tem previsão de duração entre quatro e cinco anos, foca na criação de uma vacina mais eficaz e rápida contra a doença
O Instituto Pasteur de São Paulo (IPSP) deu início, em julho, a um projeto inovador para acompanhar o surgimento e a evolução das novas cepas do vírus da gripe na capital paulista. Utilizando amostras de esgoto, o projeto visa identificar quais cepas estão em circulação e prever os ciclos de transmissão, fornecendo informações essenciais para as autoridades de saúde pública.
O projeto, que conta com financiamento da FAPESP e tem previsão de duração entre quatro e cinco anos, foca na criação de uma vacina mais eficaz e rápida contra a gripe, utilizando uma tecnologia inovadora baseada em RNA autorreplicativo. Atualmente, os imunizantes distribuídos pelo Ministério da Saúde protegem contra as cepas mais comuns dos hemisférios Norte e Sul, mas o influenza é um vírus que muta rapidamente, reduzindo a eficácia das vacinas.
Segundo o virologista e biomédico Rúbens Alves , coordenador do grupo de pesquisa Survivax no IPSP, à CNN, a estratégia de monitorar o vírus influenza através de amostras de esgoto prova ser muito eficaz. Essa abordagem foi amplamente utilizada durante a pandemia da Covid-19 em mais de cem países e 293 universidades, permitindo observar os picos de transmissão com antecedência e facilitando decisões de saúde pública.
Por que monitorar a gripe pelo esgoto?
Monitorar o vírus influenza pelo esgoto tem diversas vantagens. Primeiramente, oferece uma cobertura mais representativa da população, incluindo aqueles sem acesso adequado aos serviços de saúde. Além disso, esse método é mais econômico, pois reduz a necessidade de testes clínicos, e permite um monitoramento contínuo, não restrito às épocas de maior circulação do vírus.
Além disso, é possível não só monitorar o influenza, como também acompanhar outros patógenos que podem estar presentes nas águas residuais. Esse sistema fornece uma análise detalhada e em tempo real, essencial para o rastreamento de tendências a longo prazo e a adaptação das vacinas às novas cepas em circulação.
No projeto do IPSP, a proposta é criar uma vacina inovadora baseada em RNA autorreplicativo. Essa tecnologia replica a sequência codificadora da proteína vacinal várias vezes, o que aumenta a eficácia do imunizante e reduz os efeitos colaterais. A maior velocidade de produção é outra vantagem, especialmente frente às mutações rápidas do vírus influenza.
O biomédico Rúbens Alves , que passou quatro anos em pós-doutorado no La Jolla Institute for Immunology, em San Diego, destacou à CNN que essa tecnologia avançada promete um futuro mais protegido contra várias doenças. Ele explicou que seu trabalho com vacinas contra Covid-19, dengue e zika utilizando essa tecnologia foi de grande sucesso e pode ser adaptado para a gripe.
As ameças dos subtipos pandêmicos
Uma das maiores preocupações dos especialistas é com subtipos potencialmente pandêmicos, como o H5N1, gripe aviária. Nos Estados Unidos, surtos em rebanhos de gado e casos em humanos foram identificados, mostrando como o vírus pode se expandir para outras espécies. A vigilância eficiente e o desenvolvimento de vacinas mais eficazes são essenciais para evitar que esse vírus se torne pandêmico.
Em resumo, o projeto do Instituto Pasteur de São Paulo é um avanço significativo na luta contra o vírus influenza. Com uma abordagem de vigilância inovadora e uma plataforma de vacina de última geração, há esperança de uma proteção melhorada e uma resposta mais rápida a futuras ameaças. As informações fornecidas pelo IPSP têm o potencial de revolucionar a forma como enfrentamos a gripe e outras doenças virais no futuro.