Estudo publicado nesta quarta-feira (10) pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) aponta que ainda é baixa na América Latina a adoção de medidas que ajudarão as empresas a enfrentar os impactos da Covid-19.
No estudo “Respostas à Covid-19 a partir da ciência, inovação e desenvolvimento produtivo”, economistas do banco afirmam que a crise mundial causada pelo coronavírus exige que governos reformulem políticas públicas e redefinam prioridades.
Segundo o levantamento, a maior parte dos países da América Latina adotou as medidas financeiras necessárias para amenizar os problemas de liquidez enfrentados pelas empresas, especialmente as pequenas e médias, resultado da forte queda nas vendas e uma menor oferta de crédito bancário.
Entre as medidas estão empréstimos e garantias em condições favoráveis, prorrogação de dívidas, adiamento ou redução de impostos, taxas e contribuições para a seguridade social, pagamento pontual antecipado a fornecedores do Estado, flexibilização da regulação monetária e redução de depósitos compulsórios e taxas de juros de referência foram algumas das ações implementadas por governos da região.
Os países da região também implementaram, em sua maioria, medidas trabalhistas para ajudar as empresas a sobreviver, como flexibilização do seguro-desemprego, subsídios para cobrir parcialmente salários de trabalhadores afetados pela crise e regulamentação do teletrabalho.
No entanto, os países, entre eles o Brasil, estão atrasados na implementação de medidas de digitalização, redirecionamento de capacidades de produção e protocolos de segurança e saúde que permitem a empregados, fornecedores e clientes desempenharem suas funções durante a pandemia.
“A digitalização é um dos temas que precisa de atuação no Brasil”, diz Morgan Doyle, representante do BID no Brasil. “Mas não só isso: o Brasil vai precisar também se preparar para competir em um cenário de menos liquidez e menor demanda por parte dos consumidores, que também terão perdido renda.”
Ele prossegue: “E a saída aí não é só por meio de crédito: o país precisa aprimorar também sua eficiência, por meio de reformas e investimento em infraestrutura, e na sua produtividade, com reforços na educação e na capacitação para novas demandas que surgirão.”
Como exemplo, Doyle cita que postos na indústria de entretenimento e turismo podem se fechar por um tempo. “Mas podem surgir vagas para funcionários medindo a temperatura dos clientes e avaliando o respeito às normas de saúde, assim como no ambiente digital. É preciso capacitar a mão de obra e aumentar a agilidade do país para se adaptar a essas mudanças.”
Em relação à digitalização das empresas, algumas das medidas que foram adotadas em países como a Coreia do Sul, mas ainda não são frequentes na América Latina, são: subsídios para adoção de tecnologias de digitalização, plataformas para que as pequenas e médias empresas participem do comércio eletrônico e do faturamento digital, repositórios de ferramentas digitais e capacitação digital.
Para Doyle, a pandemia apenas acelerou um processo que já estava em curso, e os países precisam se preparar para isso.
“Estamos seguros de que a digitalização que ocorre agora, às pressas, na verdade já iria ocorrer, e a pandemia apenas fez com que tudo isso ganhasse outra velocidade. O comércio terá talvez menos clientes nas lojas físicas, mas mais demanda virtual -e isso não quer dizer apenas construir sites, mas capacitar vendedores para trabalhar com esses sistemas, melhorar a logística de transporte para entrega longe dos grandes centros, articular as equipes para que possam trabalhar de maneira remota, e vários outros pontos que, se o país souber aproveitar, aumentarão a competitividade dos negócios brasileiros”, diz.
Os economistas do BID citam um exemplo positivo do Brasil, o programa do Sebrae que ajuda pequenos e médios empresários a divulgar, vender e emitir notas online.
Outra área que ainda precisa de avanços nos países da da América Latina é o redirecionamento de capacidades de produção, com articulação público-privada para o direcionamento temporário da capacidade de produção ociosa ao fornecimento em larga escala de insumos essenciais.
O relatório cita elogiosamente a colaboração entre a Magnamed e empresas como a Fiat-Chrysler, Flextronics, Suzano, Klabin, Positivo e White Martins para aumentar a produção de ventiladores pulmonares, com apoio do BID Lab e da Fapesp.
Mas o relatório enfatiza que é necessário um “equilíbrio entre apoio urgente às empresas e ações para crescimento futuro: sem financiamento agora, muitas empresas não sobreviverão; mas sem apoio para a readequação aos novos tempos, a recuperação será mais lenta do que o desejado.”
Nesse contexto, o estudo destaca a importância do investimento em ciência, historicamente baixo na América Latina e Caribe “”e projeta que, provavelmente, “os grandes avanços no combate à pandemia não virão da região, mas de países com melhor infraestrutura científica, coordenação mais efetiva entre agentes públicos e privados e marco regulatório consistente.”
Fonte: Yahoo Finanças