Por uma pequena falha de natureza formal cometida por sua equipe administrativa, a Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp), uma das mais importantes e conceituadas instituições brasileiras de fomento ao desenvolvimento científico e tecnológico, está enfrentando a primeira tensão política em seus 33 anos de existência. O motivo dessa tensão é a lista tríplice encaminhada ao governador Mário Covas para que escolha o próximo representante das instituições estaduais de pesquisa no Conselho Superior desse órgão. Pela primeira vez, na história da Fapesp, essa lista é encabeçada por um nome totalmente desconhecido da comunidade científica e que representa universidades particulares sem tradição alguma em matéria de pesquisa e qualidade de ensino.
Encarregado de estabelecer os critérios de concessão de bolsas e recursos, esse Conselho Superior tem 12 membros, dos quais 6 são indicados diretamente pelo governador. Dos outros 6 membros, 3 são por ele escolhidos a partir de listas tríplices encaminhadas pelo Conselho Universitário da USP e 3 por ele nomeados a partir das listas tríplices enviadas por centros de ensino e pesquisa do porte da Fundação Butantan, do Instituto Agronômico de Campinas, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, do Instituto Oceanográfico, do Instituto de Zootecnia e da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas.
Ao preparar o edital para a formação da lista tríplice de uma dessas três ultimas vagas, no início deste semestre, o setor administrativo da Fapesp definiu os centros votantes como "institutos de ensino e pesquisa" sem especificá-los e sem estabelecer critérios minimamente representativos de quantidade e qualidade, em matéria de produção científico-tecnológica. Explorando a ambigüidade do edital, faculdades isoladas de quinta categoria e universidades privadas conhecidas como verdadeiras fábricas de diplomas, que há tempos vinham, sem sucesso, tentando obter recursos da Fapesp, mobilizaram-se e, pela diferença de apenas um voto, conseguiram eleger seu candidato como o primeiro da lista tríplice.
Essa mobilização deixou perplexos os dirigentes dos institutos de pesquisa tradicionais e os corpos docentes da USP, Unicamp e Unesp, que respondem por 80% das pesquisas em nível de doutorado em todo o País, pois seus candidatos foram suplantados pelo representante de instituições como a Universidade do Vale do Paraíba, a Universidade São Francisco e a Universidade Metodista de Piracicaba, cujo professorado, em sua esmagadora maioria, nem sequer tem o título de doutor, jamais fez uma pesquisa e vê a carreira acadêmica como bico. Como no caso da Fapesp a tradição é que a escolha recaia sobre o primeiro da lista, essas universidades estão pressionando o governador a nomear o desconhecido nome que a encabeça, enquanto a comunidade científica paulista está solicitando que abandone a tradição e escolha o segundo ou o terceiro colocados, que são pesquisadores respeitados e consagrados.
Sc Covas mantiver a tradição e nomear o primeiro da lista, a comunidade científica teme que a Fapesp acabe sendo obrigada a conceder recursos sem a menor garantia de que terão algum retorno, em termos científico-tecnológicos. Tradicionalmente, esse órgão sempre foi muito criterioso na liberação de verbas. Para que não se rompa essa tradição, cabe ao governador, que vem adiando a escolha por causa das pressões políticas, romper aquela outra tradição, indicando o nome mais adequado para preservar uma instituição que é uma das principais responsáveis pela pujança do Estado que dirige.
Notícia
Jornal da Tarde