O alerta de que esse ponto poderia chegar foi feito há 20 anos pelo climatologista Carlos Nobre e passou a ser um tema estudado mundialmente. É que ao perder a capacidade de se regenerar, a floresta deixará de cumprir o papel que tem hoje de serviços ambientais importantíssimos para o clima, a economia, a humanidade. Entre eles o de espalhar umidade pelo país, através dos chamados “rios voadores” e o de absorção dos gases de efeito estufa.
O estudo – que envolveu 24 cientistas de várias partes do mundo, entre eles 14 brasileiros – é liderado pelos pesquisadores Marina Hirota e Bernardo Flores, da Universidade Federal de Santa Catarina. Mas tem muito mais gente debruçada sobre esse tema, como Luciana Gatti, Carlos Nobre, Paulo Artaxo, e até do climatologista Richard Betts, que conheci na Inglaterra e que trabalha muito intensamente em colaboração com o Inpe no Brasil e com pesquisadores brasileiros.
O desmatamento avançou tanto que o risco que os pesquisadores mediram desse ponto de inflexão chegou a 2050, que parece longe, mas é daqui a pouco. No meio deste século, de 10% a 47% do território do bioma podem ter atingido esse ponto de não retorno. Isso quer dizer que a Amazônia, que é maior floresta tropical do mundo, entrará em processo natural de se transformar em outra coisa. Uma vez perguntei ao Carlos Nobre se isso significava que a floresta iria acabar, ele explicou que não exatamente, mas acabará na forma como nós a conhecemos. A tendência é que ela se transforme em um cerrado, mais pobre do que o nosso atual. As árvores irão ficando menores e menos capazes de se recuperar.
Mas isso ainda não aconteceu, então está em tempo de fazer o trabalho necessário para o caminho de volta. O alerta desta vez, no entanto, foi muito forte, baseado em muita pesquisa, estudos que eu venho acompanhando há mais de 20 anos. Aliás, na minha última conversa com Carlos Nobre, ele me mostrou estudos que indicam o aumento dos períodos de seca na parte sul da Amazônia. Nós vimos no último ano cenas horríveis de rios caudalosos da região completamente secos. A natureza tem dado sinais de alerta e os pesquisadores estão mostrando com dados que estamos em um momento muito perigoso para a Amazônia, o Brasil e o mundo.
Fonte: O Globo