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Amazônia: incêndio em área de floresta (218 notícias)

Publicado em 19 de abril de 2024

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Mesmo com a redução do desmatamento na Amazônia em 2023, o bioma vem

enfrentando outro desafio: os incêndios em áreas de vegetação nativa ainda não

afetadas pelo desmatamento. Estudo publicado na revista científica Global Change

Biology alerta que os incêndios em áreas das chamadas “florestas maduras”

cresceram 152% no ano passado em comparação a 2022, enquanto houve uma

queda de 16% no total de focos no bioma e redução de 22% no desmatamento.

 

Amazônia: incêndio em área de floresta madura cresceu 152% em 2023

https://grupobomdia.com.br/noticia/75552/amazonia-incendio-em-area-de-floresta-madura-cresceu-152-em-2023 1/8

Ao destrinchar as imagens de satélite, os pesquisadores detectaram que os focos em

áreas florestais subiram de 13.477 para 34.012 no período. A principal causa são as

secas na Amazônia, cada vez mais frequentes e intensas. Além dos eventos

prolongados registrados em 2010 e 2015-2016, que deixam a floresta mais inflamável

e provocam a fragmentação da vegetação, o bioma passa por uma nova estiagem no

biênio 2023-2024, o que agravou ainda mais a situação.

 

Tanto que o Programa Queimadas , do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

(Inpe), aponta que o total de focos de calor no primeiro trimestre de 2024 em toda a

Amazônia foi o maior dos últimos oito anos – os 7.861 registros entre janeiro e

março, representando mais de 50% das notificações no país (o Cerrado vem em

seguida, com 25%). O mais alto número até então havia sido no primeiro trimestre de

2016 – 8.240 para o total do bioma.

 

“É importante entender onde os incêndios estão ocorrendo porque cada uma dessas

áreas afetadas demanda uma resposta diferente. Quando analisamos os dados,

vimos que as florestas maduras queimaram mais do que nos anos anteriores. Isso é

particularmente preocupante não só pela perda de vegetação e desmatamento na

sequência, mas também pela emissão do carbono estocado”, afirma o especialista

em sensoriamento remoto e autor correspondente do artigo Guilherme Augusto

Verola Mataveli, da Divisão de Observação da Terra e Geoinformática do Inpe. Ele

está atualmente no Tyndall Centre for Climate Change Research, no Reino Unido,

onde desenvolve parte de seu pós-doutorado sobre emissão de gases de efeito

estufa por queimadas com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de

São Paulo (FAPESP).

 

No ano passado, alguns pesquisadores do grupo publicaram outro trabalho já

mostrando o aumento de incêndios em uma fronteira emergente de desmatamento

no sudoeste do Amazonas, na região de Boca do Acre, entre 2003 e 2019 .

“Além da gravidade dos incêndios em áreas de florestas maduras atingirem, por

exemplo, árvores mais antigas, com maior potencial de estoque de carbono,

contribuindo para o aumento do impacto das mudanças climáticas, há o prejuízo para

as populações locais. Manaus é um desses casos, que foi a segunda cidade com a

pior qualidade do ar no mundo em outubro do ano passado”, completa Mataveli.

Outros Estados registraram situação semelhante, incluindo o Pará, onde a contagem

de focos de calor em florestas maduras em 2023 foi de 13.804 – contra 4.217 em

2022.

 

Roraima

Neste ano, uma das piores situações está em Roraima, que concentra mais da

metade dos registros do bioma. Com a quinta maior população indígena do país –

97.320 pessoas –, o Estado viu 14 dos seus 15 municípios decretarem emergência

em março por causa do fogo. A fumaça levou à suspensão de aulas e a seca severa

tem afetado comunidades indígenas, deixando-as sem acesso a alimentos e

expostas a doenças respiratórias, entre outros impactos.

 

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

(Ibama/Prevfogo) diz que tem atuado, desde novembro do ano passado, em conjunto

com outras instituições nas ações de prevenção e no combate aos incêndios,

atualmente concentrados em diferentes regiões de Roraima. Segundo o órgão, desde

janeiro, são mais de 300 combatentes, além de quatro aeronaves que dão apoio ao

trabalho.

 

“As mudanças climáticas são apontadas como um fator crítico para o aumento de

episódios de incêndios, tendo o El Niño como fator agregador de risco devido à sua

relação com a estiagem prolongada na região. Ressaltamos a importância da

atuação dos órgãos ambientais estaduais e municipais no combate aos incêndios,

em colaboração com os entes federais. Essa parceria é fundamental para permitir

uma ação mais estratégica e eficaz na prevenção e no combate aos incêndios

florestais”, informa o Ibama/PrevFogo em resposta à Agência FAPESP.

 

Resiliência

A mortalidade de árvores induzida pelo fogo em áreas de floresta excede

frequentemente 50% da biomassa acima do solo, ou seja, os incêndios têm potencial

para reduzir significativamente os estoques de carbono principalmente no longo

prazo.

 

Neste ano, esse efeito já foi sentido. Em fevereiro, as emissões por queimadas no

Brasil bateram recorde, atingindo o mais alto índice em 20 anos – 4,1 megatoneladas

(cada megatonelada equivale a 1 milhão de toneladas) de carbono, alavancadas por

Roraima, segundo o observatório climático e atmosférico europeu Copernicus .

Além disso, a resiliência da floresta fica comprometida, afetando, entre outros, sua

capacidade de criar um microclima úmido abaixo do dossel das árvores para conter e

reciclar a umidade dentro do ecossistema.

 

Outro ponto destacado pelos pesquisadores é que a crescente inflamabilidade da

floresta torna-se um desafio para os agricultores tradicionais – eles normalmente

usam o fogo controlado como forma de manejo de áreas de subsistência. Isso

demanda incentivo a cadeias de produção para que sejam livres dessa prática.

Líder do grupo e coautor do artigo, o pesquisador Luiz Aragão ressalta que, “à medida

que o tempo passa sem soluções efetivas para o problema do fogo na região

amazônica, o bioma se torna mais vulnerável, com impactos ambientais, sociais e

econômicos”. Ele explica que, mesmo reduzindo as taxas de desmatamento, a área

impactada por esse processo continua crescendo.

 

“Já havíamos previsto isso em 2010 em uma publicação de nosso grupo no periódico

Science . Tanto as áreas já desmatadas quanto aquelas em processo de remoção da

floresta constituem fonte ativas de ignição do fogo pelo homem. Como o

desmatamento fragmenta a paisagem, criando mais bordas entre as florestas e as

áreas abertas, as florestas maduras ficam mais permeáveis ao fogo. Somando as

secas extremas, como a atual, à configuração da paisagem fragmentada, o uso

contínuo do fogo na região e a presença de áreas florestais mais degradadas, por

incêndios passados, extração ilegal de madeira e efeito de borda, espera-se uma

floresta cada vez mais inflamável. Medidas urgentes são necessárias para mitigar os

incêndios e manter a Amazônia como o maior bem do país para alcançar o

desenvolvimento nacional sustentável”, avalia Aragão.

 

O grupo sugere ainda o aumento de operações de comando e controle e a expansão

de brigadas de incêndio, além do desenvolvimento constante de sistemas de

monitoramento. “Com o uso de inteligência artificial, podemos tentar desenvolver

sistemas que, além de mostrar onde ocorreram os incêndios, façam uma predição

dos locais com mais propensão de ocorrer e assim ter áreas mais específicas como

foco de prevenção”, complementa Mataveli.

O artigo Deforestation falls but rise of wildfires continues degrading Brazilian Amazon

forests pode ser lido em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/gcb.17202.