Filhos de pais que consomem frutose em excesso apresentam precocemente distúrbios nos sistemas nervoso autônomo, cardiovascular e metabólico – o que aumenta o risco de desenvolverem doenças crônicas, como diabetes e obesidade, na fase adulta. A conclusão é de uma pesquisa em ratos realizada por cientistas brasileiros e publicada no International Journal of Obesity.
Os resultados confirmaram dados da literatura científica relacionados ao surgimento de distúrbios metabólicos – como níveis elevados de triglicérides (a partir de 150 mg/dL) e resistência à insulina – em descendentes de pais com consumo excessivo de frutose. Além disso, a prole apresentou aumento da pressão arteria l e um comprometimento na sensibilidade do barorreflexo, um mecanismo de regulação fisiológica do sistema cardiovascular que ajuda a manter a pressão arterial dentro dos limites considerados normais.
Apesar de a frutose ser conhecida como “açúcar natural das frutas”, esse carboidrato simples (monossacarídeo) compõe também o xarope de milho, amplamente utilizado pelas indústrias alimentícia e de bebidas na produção de bolachas recheadas, doces e refrigerantes. Adoça entre 20% e 80% a mais do que a glicose pura. Seu consumo excessivo tem sido associado às altas taxas de sobrepeso e obesidade na população mundial, incluindo crianças.
“A medicina trabalhou durante muitos anos somente apagando incêndio, atuando quando a doença já estava instalada. Hoje temos elementos e estudos científicos que contribuem para uma medicina preventiva. Estamos com uma bomba-relógio para as próximas gerações caso não haja avanço nesse tipo de prevenção”, avalia a fisiologista Kátia De Angelis, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e autora correspondente do artigo.
Segundo a pesquisadora, o estudo reforçou a importância do sistema nervoso autônomo (SNA) na regulação de várias funções corporais, podendo ser um sinalizador para detectar precocemente a propensão de crianças a desenvolver esses tipos de doença na fase adulta. É o SNA o responsável por regular automaticamente funções corporais involuntárias, como frequência cardíaca, pressão arterial, respiração, digestão e regulação da temperatura.
Pandemia de obesidade
Estima-se que mais da metade da população global – o que representa cerca de 4 bilhões de pessoas – estará acima do peso ou com obesidade até 2035 caso não sejam adotadas ações significativas para conter o problema. O Atlas Mundial da Obesidade 2023 revela que o crescimento anual é de 2,8% entre adultos e 4,4% na infância.
No Brasil, a estimativa é de que 41% dos adultos tenham obesidade nos próximos 12 anos. Atualmente, esse percentual é de 17,1%, segundo o Covitel 2023 (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), do Ministério da Saúde. Dados da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) apontaram que entre 60% e 90% dos portadores da doença estejam também com obesidade, sendo que a incidência é maior após os 40 anos.
“É claro que não é o fator único para obesidade, mas esse excessivo consumo de frutose veio acompanhado das tendências de crescimento do acúmulo de sobrepeso e obesidade na população”, complementa De Angelis, que foi orientadora de doutorado da primeira autora, Camila Paixão dos Santos, no Programa de Medicina Translacional da Unifesp.
Autor/a: Luciana Constantino Fuente: Agência FAPESP Alto consumo de frutose pelos pais eleva risco de doenças cardiometabólicas nos filhos