Os benefícios da biotecnologia vão além da agronomia. Sabe-se hoje que a ingestão de frutas e verduras é importante para a saúde e tem relação com a proteção contra doenças não transmissíveis, fato associado à presença de fibras, nutrientes e aos chamados “compostos bioativos”.
Estudos de fisiologia vegetal, genética e biologia molecular revelaram muitas das vias metabólica envolvidas na síntese desses compostos, como flavonoides, carotenóides e outros.
Esse conhecimento permite, através de técnicas de engenharia genética, aumentar de forma específica o teor de antocianinas ou carotenóides em tomates e laranjas, por exemplo. Isso gera alimentos funcionais com maior efeito benéfico na saúde, de forma rápida e segura.
A Universidade de São Paulo, nos laboratórios do FORC (Food Research Center), desenvolve pesquisas avaliando a ação benéfica desses alimentos. Trata-se quase de uma agricultura biomédica.
Curiosamente, os impactos da ciência na qualidade de vida podem alcançar outras áreas associadas à sustentabilidade como, por exemplo, a redução de desperdícios de alimentos in natura.
Veja: as características sensoriais e nutricionais das frutas maduras resultam de alterações fisiológicas que promovem mudanças físico-químicas importantes, geralmente percebidas pela perda da cor verde da casca, pelo sabor mais doce, pelo aroma intenso e pela maciez da polpa. O processo de amadurecimento é geneticamente programado, pela própria natureza e sujeito à influência das condições ambientais.
Ao mesmo tempo em que o amadurecimento resulta em características físico-químicas desejáveis para consumo, ele implica em diminuição da vida útil desses alimentos. Isso exige cuidados no transporte, na manipulação e no armazenamento.
Assim, o amadurecimento resulta em mudanças que trazem grandes implicações econômicas, pois podem ocorrer perdas significativas após a colheita, inclusive no nível doméstico, limitando distribuição, oferta e preço desses produtos. A perda total pode chegar a 60% do que é produzido.
Pois bem: a partir de grande número de estudos envolvendo o DNA de frutas climatéricas, como manga, banana, mamão e tomate, pesquisadores identificaram genes envolvidos nas múltiplas variáveis do amadurecimento e como eles eram ligados e coordenados por um hormônio – o etileno.
Isso permitirá, por edição genética, planejar uma forma de controlar a qualidade e duração do fruto, a partir do controle desse hormônio. Pouco etileno não permite amadurecimento correto, mas muito etileno leva à deterioração acelerada.
Recentemente, outro grupo de cientistas descobriu cinco genes no arroz que controlam o uso do nitrogênio pela planta. A ativação deles permite o mesmo rendimento com menos adubo nitrogenado. Isso pode representar uma nova revolução verde. Lembro que os adubos nitrogenados derivam do petróleo!
No Brasil, grupos de pesquisadores apoiados pela Fapesp (brasileiros e belgas) identificaram na cana de açúcar os genes que conferem à planta resistência à seca. Com mudanças nesse trecho do DNA, foi produzida uma cana transgênica com maior resistência hídrica, o que foi confirmado em testes de laboratório. São resultados importantes para o aproveitamento de solos áridos.
Como se vê, a engenharia genética tem uma sólida base científica apoiada na biologia molecular, no estudo da fisiologia e do metabolismo vegetal e em avaliações rigorosas dos seus efeitos na saúde e no meio ambiente. É um campo promissor, com impacto para a sociedade, e certamente motivador para qualquer jovem que pense numa carreira científica comprometida com a qualidade de vida do planeta e de seus habitantes.
A cada dia nos laboratórios de pesquisa e na literatura científica surgem notícias dos avanços e possibilidades incríveis.