A partir do sexto mês de vida, crianças nutridas somente com leite materno precisam também passar a se alimentar com alimentos sólidos preparados em casa.
Ao analisar amostras de alimentos de 78 lactentes, entre 6 e 18 meses, um estudo publicado no Jornal de Pediatria indica que eles apresentaram em geral baixo teor de ferro, mas quantidade excessiva de sódio.
O objetivo do estudo, desenvolvido na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e na Universidade do Estado do Pará (UEPA), foi determinar, por análise química, a composição nutricional de macronutrientes, energia e quantidades de sódio e ferro em alimentos preparados em domicílio para lactantes em Belém (PA) em dois grupos de estratos socioeconômicos diferentes.
O estudo apontou que 95% dos chamados alimentos de transição tinham teor inadequado de ferro no grupo socioeconômico mais baixo, contra 65% no estrato mais elevado. Todas as amostras analisadas, em ambos os grupos, apresentaram quantidade de ferro abaixo do mínimo recomendado (6,0 mg/100 g).
Por outro lado, o excesso de sódio foi constatado em 89,2% e 31,7%, respectivamente, para a referência que é de 200 mg/100 g.
De acordo com Mauro Batista de Morais, professor do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), apesar de serem raros os estudos de composição química de alimentos para lactentes preparados em domicílio, a pesquisa mostra que o período de transição é realizado frequentemente de maneira imprópria.
"O estudo lança um alerta em relação à quantidade de sódio encontrada na comida. O termo "papa salgada", frequentemente usado na orientação para que a mãe introduza comida salgada na dieta infantil, deveria ser abolido. O termo funciona como um incentivo para se adicionar mais sal. Preferimos "papa para o almoço"", disse Morais, que é professor da disciplina de Gastroenterologia na Unifesp, à Agência FAPESP .
Segundo o pesquisador, o estudo possibilita uma revisão na elaboração de diretrizes metodológicas na área. A pesquisa corresponde à tese de doutorado de Marcia Bitar Portela Neves, defendida em 2009 na Unifesp, com orientação de Morais.
Atualmente, o pesquisador desenvolve o projeto "Interação da microbiota intestinal e da função digestivo-absortiva com o ambiente social e a condição nutricional: distúrbios intestinais como argumentos para reduzir iniquidades", com apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa - Regular.
O estudo em Belém foi realizado entre junho de 2005 e setembro de 2006. Foram analisadas 78 amostras de alimentos de transição preparados em domicílios. As crianças eram sadias e não apresentavam peso ou estatura baixos para a idade.
As amostras foram coletadas de famílias atendidas em dois tipos de serviço de atendimento pediátrico: na Unidade Materno-Infantil da UEPA e em quatro consultórios privados em Belém. A proposta foi comparar crianças de diferentes estratos socioeconômicos.
As porções - refeições servidas no almoço, como feijão, arroz, macarrão, carne e hortaliças - foram coletadas nas casas dos participantes, congeladas e, posteriormente, enviadas por via aérea a São Paulo, onde foram analisadas no Laboratório de Bromatologia e Microbiologia de Alimentos da Unifesp.
Poucos lipídios
Os pesquisadores analisaram quimicamente as proteínas, lipídios, hidrato de carbono, ferro, sódio e valor energético total. De acordo com Tania Beninga de Morais, coordenadora do Laboratório de Bromatologia e Microbiologia de Alimentos da Unifesp e co-orientadora do estudo, o teor de ferro foi escolhido porque sua deficiência é a principal carência nutricional nessa faixa etária.
"Até o sexto mês de vida, o leite materno é o melhor e mais completo alimento para o lactente. Após essa idade, torna-se necessária a introdução de outros alimentos na dieta. Mas o que temos percebido é que o processo de transição para a dieta da criança se faz de maneira inadequada pela oferta, em quantidade e em qualidade, de alimentos inapropriados. Isso pode ser crítico para a manutenção de um crescimento saudável", disse Tania.
Segundo ela, a necessidade de ferro nessa faixa etária é de 11 mg/dia nos menores de 1 ano. "Essa taxa é difícil de ser atingida pela alimentação normal, pois as carnes têm teor de ferro relativamente baixo frente à capacidade gástrica reduzida das crianças nessa fase da vida", explicou.
A pesquisadora conta que a carne bovina, como acém moído e cozido, por exemplo, tem cerca de 3 miligramas de ferro em cada 100 gramas, o equivalente a um bife médio.
O estudo demonstrou também a insuficiência na quantidade de lipídios encontrada nos alimentos. "Acredita-se que a recomendação de limitação da ingestão de lipídios na dieta de adultos esteja, possivelmente, influenciando também a preparação de refeições para as crianças. Ressalte-se que os lipídios são essenciais, nessa fase da vida, na maturação do sistema nervoso", disse.
De acordo a professora da Unifesp, o excesso de sódio pode ser explicado pelo hábito da população brasileira de consumir sal de cozinha em quantidades muito acima do recomendado, o que pode se refletir também na preparação de alimentos destinados às crianças.
"Educar o paladar dos lactentes para alimentos com baixo teor de sal é importante, uma vez que sua ingestão excessiva está associada com aumento da pressão arterial no futuro", alertou.
Dormir pouco ou demais na gravidez aumenta a pressão sanguínea
A quantidade e qualidade do sono durante a gestação pode ser determinante para a saúde da mãe e do bebê. De acordo com especialistas da Universidade de Washington, nos EUA, as mulheres que dormem demais ou muito pouco no primeiro trimestre de gravidez parecem ter maior risco de sofrer pressão alta e as complicações relacionadas à pré-eclampsia nos últimos meses da gestação.
Em pesquisa com mais de 1,2 mil gestantes, os especialistas notaram que aquelas que dormiam menos de seis horas por noite durante os três primeiros meses de gravidez tinham a pressão sistólica (maior valor na medida de pressão) 3,72 pontos maior no último trimestre de gestação, comparadas àquelas que dormiam nove horas por noite. E as grávidas que dormiam dez horas ou mais por noite também apresentaram maior pressão sistólica (4,21 a mais) do que as que dormiam cerca de nove horas.
Publicados neste mês na revista Sleep, os resultados indicaram que aquelas que dormiam nove horas por noite nos primeiros meses de gestação tinham a pressão sistólica de 114 (ou 11,4, conforme nossa leitura padrão da pressão) nos últimos meses de gravidez, enquanto aquelas que dormiam pouco tinham essa medida em 118, e aquelas que dormiam demais tinham quase 119.
De acordo com os pesquisadores, nove horas de sono é a quantidade apropriada para a gestante, pois essas mulheres têm maior necessidade de sono do que as sete ou oito horas usualmente recomendadas para os adultos. E, apesar de o aumento da pressão parecer pequeno para aquelas que não seguem essas recomendações de horas de sono, ela poderia levar algumas gestantes e os bebês a graves problemas de saúde, pois aquelas que dormiam menos de cinco horas tinham dez vezes mais chances de ter pré-eclampsia.
Embora ainda não estejam claras as razões desses aumentos na pressão sanguínea, os pesquisadores ressaltam a importância do sono para a saúde, principalmente nesse período específico da vida da mulher. Para uma boa noite de sono nessa fase, os especialistas recomendam controlar bem o peso.