Parceria entre pesquisadores brasileiros e holandeses está mostrando que é possível transformar a chamada água negra – fração mais “pesada” do esgoto doméstico, composta basicamente por uma mistura pouco diluída de fezes e urina que vem do vaso sanitário – em uma espécie de fazenda de algas.
Ao crescer com a ajuda dos nutrientes presentes na água, as algas do gênero Chlorella ajudam a despoluir o líquido e produzem quantidades consideráveis de biomassa, que poderia ser usada como adubo.
Os resultados do trabalho até agora foram apresentados durante workshop realizado na Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP), com a presença de pesquisadores dos dois lados do Atlântico. Do lado brasileiro, a parceria recebe financiamento da FAPESP, enquanto a contrapartida europeia do fomento vem da Organização Holandesa para Pesquisa Científica (NWO). Com duração de quatro anos, o projeto colaborativo está programado para terminar em janeiro de 2018.
Segundo Luiz Antonio Daniel, professor do Departamento de Hidráulica e Saneamento da EESC-USP e um dos coordenadores da parceria, o objetivo é resolver o problema de gestão de resíduos que hoje é gerado pelo próprio processo de tratamento de esgoto.
Ele explica que as fezes e a urina despejadas pelas descargas dos vasos sanitários têm entre seus principais componentes o carbono da matéria orgânica, nitrogênio e fósforo. Se forem lançados nos mananciais em grande quantidade, tanto o nitrogênio quanto o fósforo podem provocar eutrofização, ou seja, o crescimento excessivo de microrganismos aquáticos (em especial algas), levando a desequilíbrios potencialmente sérios da comunidade de seres vivos na água – além de carregar, é claro, possíveis organismos causadores de doenças.
“No processo de tratamento de esgoto mais comum hoje, é necessário usar produtos químicos para remover o fósforo da água, e o que sobra é um lodo que tem pouca aplicabilidade – de acordo com a legislação em alguns estados brasileiros, não se pode usá-lo como fertilizante na agricultura, por exemplo”, explica Daniel. “O lodo, então, acaba indo para aterros sanitários, ou seja, é preciso um gasto considerável apenas para se livrar dele.”
Fonte: Agência Fapesp