De acordo com o professor Ícaro Cunha, que também é membro da Agência Brasileira de Gerenciamento Costeiro, o litoral é como um grande supermercado, uma farmácia com imensos recursos à disposição de toda a Nação.
Essa visão, porém, não costuma encontrar eco junto à sociedade. Para a maioria, litoral é sinônimo de lazer, sol, praias, férias ou, quando muito, dos portos, navios e barcos de pesca.
Um recente estudo, feito por cientistas da Universidade Federal Fluminense (UFF), revelou que uma outra vocação, que vai muito além da importante indústria do turismo.
Izabel Paixão Frugulhetti e Valéria Laneuville Teixeira, do Instituto de Biologia da UFF, descobriram em algas do litoral brasileiro, substâncias que se mostraram capazes de inibir o vírus da Aids em meio celular.
Diferentes tipos de algas foram analisados em dez anos de estudos, entre elas as algas pardas Dictyota menstrualis e Dictyota pfaffii. A primeira é encontrada com abundância no litoral fluminense, e a segunda na costa do Atol das Rocas (RN).
Efeitos colaterais
Izabel e Valéria extraíram, das duas espécies, uma substância química do grupo dos diterpenos polioxigenados.
"Nas primeiras avaliações, esses diterpenos se mostraram capazes de inibir em até 95% a replicação do vírus HIV", disse Izabel à Agência Fapesp.
Ela explica que para conseguir inibir o vírus HIV com tamanha eficácia, foi preciso utilizar uma concentração 500 vezes maior de diterpenos para ter um efeito comparável ao obtido com o AZT (substância para tratamento de câncer surgida em 1965, e que a partir de 1986 se tornou a primeira droga antiviral para o HIV).
"A grande vantagem é que os diterpenos são substâncias promissoras por não serem tóxicas, diminuindo os efeitos colaterais", ressaltou Izabel.
O AZT pode provocar, entre outros efeitos colaterais, a anemia (redução das células vermelhas do sangue), tendo como sintomas palidez, fraqueza, cansaço, tonteiras e batimento acelerado do coração; a leucopenia (diminuição das células brancas do sangue) e a plaquetopenia (redução no número do componente ligado à coagulação do sangue).
Nos casos mais graves de anemia outros sintomas como desmaios e inchaço dos pés e das mãos podem surgir, inclusive com necessidade de transfusão de sangue.
As próximas etapas das pesquisas da UFF são os testes em camundongos. A previsão é que os testes com humanos comecem dentro de cinco anos.
Notícia
A Tribuna (Santos, SP)