Um pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICBUSP) alertou para a possibilidade de surgimento de novos sorotipos do zika vírus, o que dificultaria a obtenção de uma vacina contra a doença. Durante o 28º Congresso Brasileiro de Virologia e o 12º Encontro de Virologia do Mercosul, que estão sendo realizados na Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte, até amanhã, o professor Edison Luiz Durigon expôs a conclusão de um estudo do ICB que acompanhou três pacientes, sendo dois homens e uma mulher, durante meses, com a coleta de sangue, saliva, urina e esperma. O material foi enviado aos Estados Unidos e o genoma completo do agente causador da enfermidade, sequenciado.
“Semana a semana, nós comparamos o que havia de diferente no genoma viral. Chegamos a ver no mesmo paciente cepas compartimentadas, ou seja, o vírus presente no sêmen era diferente do que havia na urina. Em todos os casos, o patógeno que encontramos no estágio final da infecção não era o mesmo que entrou no paciente”, disse o pesquisador à FAPESP (Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Os resultados jogaram luz sobre o risco de transmissão sexual do vírus, tema que também é estudado pela Fiocruz, em Pernambuco, em parceria com a Universidade Estadual do Colorado (CSU).No mês passado, o instituto local comprovou que mosquitos do gênero Culex, popularmente chamados de muriçoca, podem transmitir o zika vírus. Os estudos sobre a capacidade de se replicar dentro dos insetos e chegar até a glândula salivar foram publicados na revista Emerging microbes infections, do grupo Nature.
“Não adianta testar apenas as gestantes para a presença do vírus, recomendar apenas às mulheres que usem repelente e evitem áreas de risco durante a gestação e deixar os homens à vontade, seguindo a vida normalmente. Elas podem ser contaminadas pelos próprios parceiros e isso é algo a que os médicos ainda não estão atentos”, acrescentou Durigon, afirmando que ainda não há pesquisas que mostrem as consequências de uma gravidez concebida a partir de um espermatozoide infectado.
De acordo com dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES), foram notificados 1.097 mil casos de microcefalia (síndrome congênita provocada pela infecção pelo zika) em Pernambuco no ano passado, uma média de 91,4 casos por mês. Até julho de 2017, foram reportados ao órgão 124 óbitos de bebês identificados com a síndrome, que representa uma taxa de mortalidade de 5,27% em relação aos 2.353 mil bebês notificados.