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Gazeta Mercantil

Ajudando a seleção natural (1 notícias)

Publicado em 22 de janeiro de 1996

Qual a ligação que existe entre o orgasmo de uma mulher, a simetria de um rosto e a semelhança de uma criança com os seus pais? Nenhuma, diretamente. Mas juntas elas podem representar o pior dos pesadelos para um pai - o de que ele não é, na realidade, realmente o pai, mas está criando o bebê de algum outro homem. Os biólogos podem não ter condições de explicar exatamente por que existe o sexo, mas eles o adoram. Quer dizer, adoram pesquisá-lo. Quando o campo era dominado por homens, ele se concentrava em preocupações masculinas: por que os pavões têm caudas vistosas (para mostrar que estão em boa saúde); por que os machos em geral têm haréns mas as fêmeas raramente (os homens podem ter muitos filhos, as mulheres são mais limitadas em sua capacidade reprodutiva). Então as mulheres entraram em campo e o ponto de vista feminino começou a ser analisado. Uma dessas questões é saber como, dada a quantidade limitada de prole, as mulheres podem produzir descendentes de melhor qualidade. A resposta, pelo menos para espécies tais como a dos seres humanos, em que o macho contribui significativamente para o bem-estar das crianças, é conseguir um marido que será bom, leal e útil no que se refere à casa. E então traí-lo. O adultério não tem nada de novo. Uma pesquisa sobre casais publicada há dois anos por Mark Baker e Robin Bellis, da Universidade de Liverpool, na Inglaterra, sugere que, naquela cidade em que foi feita a amostragem, pelo menos, cerca de uma criança em cinco não foi gerada pelo homem que pensa ser o responsável por ela. Mas o adultério bem-sucedido - no qual crianças são concebidas eficientemente com os parceiros desejados sem que ninguém fique sabendo de nada - não é fácil. Randy Thornhill, da Universidade do Novo México, Albuquerque, e seus colegas têm analisado os mecanismos por meio dos quais se pode conseguir tal sucesso. O Dr. Thornhill (cujas pesquisas tiveram resultados preliminares divulgados no ano passado) não tem estudado diretamente a traição aos maridos. Ele limitou-se ao problema dos orgasmos femininos, cuja existência tem intrigado há muito tempo os biólogos evolucionistas. A equipe do Novo México ficou interessada em uma descoberta em particular do Dr. Baker e do Dr. Bellis em Liverpool, de que o orgasmo entre um minuto antes da ejaculação e 45 minutos depois resulta em uma retenção muito maior de esperma do que qualquer outro orgasmo anterior, ou nenhum (fingir não vale). E uma maior retenção de esperma provavelmente resulta num aumento das chances de concepção. O Dr. Thornhill argumenta que, se for o caso, a probabilidade de um orgasmo durante o período crítico, e com ele a possibilidade de concepção, deve estar relacionada à qualidade genética do homem envolvido. Isso deveria ajudar a influenciar a competição entre o esperma de vários homens em favor do pai mais desejado - particularmente importante se o mais desejado é o amante clandestino com o qual os encontros só podem ser ocasionais. O que, de qualquer forma, seria um indicador confiável de alta qualidade genética? Embora todo mundo tenha sua própria idéia de beleza, existe uma característica universal e surpreendentemente subliminar - a simetria corporal. Vários estudos mostraram que, caso se peça a alguém que classifique por ordem as fotos de pessoas do sexo oposto que forem mais atraentes, as que mais agradam são as de corpos e rostos simétricos. A simetria parece ser hereditária, e é um indicador de como trabalharam bem os genes que montaram um corpo durante seu desenvolvimento. O Dr. Thornhill e seus colegas analisaram as vidas amorosas de 86 casais - voluntários do Departamento de Psicologia da universidade. Sua previsão era de que as mulheres cujos parceiros fossem mais simétricos (eles mediram sete características masculinas, do tamanho do pé ao comprimento da orelha), teriam mais orgasmos tardios. E foi o que aconteceu. A idade de um homem, sua origem social, situação financeira, potência, atratividade física e comprometimento no relacionamento representaram quase nada em comparação com a simetria de seus corpos. O que deixa o problema de como fazer para persuadir os homens - particularmente aqueles que têm corpos ligeiramente assimétricos - de que seus filhos são na verdade seus mesmo. Isso deixa a criança com um problema também. Isso porque uma criança esperta que conhece seu próprio pai também é uma criança esperta que faz com que seu pai a conheça. Qualquer coisa que persuada um pai de que a criança é realmente sua pode ajudar a persuadi-lo a contribuir com algum investimento na paternidade. Uma dessas persuasões é a semelhança familiar. Essa, pelo menos, é a conclusão de outro estudo sobre genética social. Foi realizado na Universidade da Califórnia, em San Diego, por Nicholas Christenfeld e Emily Hill. Eles têm pesquisado a percepção da semelhança familiar. E chegaram a uma conclusão ligeiramente surpreendente. Apesar de dividir metade de seus genes, crianças não parecem guardar semelhança física imediata com suas mães. Mas crianças de ambos os sexos se parecem, na verdade, com os seus pais. Christenfeld e Hill testaram sua idéia mostrando fotografias de pais e de crianças com um, dez e vinte anos para estranhos. Os estranhos tiveram poucas dificuldades em identificar a mesma criança em idades diferentes, sugerindo que fotografias são uma forma aceitável de fazer a pergunta. Mas eles não conseguiram atribuir determinadas crianças aos seus pais corretos de cada sexo mais freqüentemente do que por acaso - com uma exceção. Embora os de 10 e 20 anos (que supostamente não precisam mais persuadir seus pais de que eles são seus pais), particularmente não sejam parecidos com eles, crianças de um ano de idade lembram mais os genitores. Trabalhos anteriores, de Steve Gaulin, da Universidade de Pittsburgh, Pensilvânia, haviam sugerido que isso poderia ser assim. Ele descobriu que as pessoas realmente falam muito mais da semelhança das crianças com os pais que com as mães, e que os mais propensos a isso são os parentes das mães - com óbvio interesse genético em manter o pai interessado no filho. O trabalho de Christenfeld e Hill sugere que a semelhança é geralmente real. O que provoca a semelhança, porém, não está claro. Os pais deveriam contribuir igualmente para a aparência de seus rebentos, assim como se saem muito bem em todas as outras características determinadas geneticamente. Parece que, nessa área, os genes maternais são de certa forma autoretraidamente presentes, mas sem se manifestar por si próprios, pelo menos no estágio inicial e vulnerável da vida do bebê. A seleção natural parece ter arquitetado que ao contrário do campo investigado por Thornhill, essa é uma área no enredado banco de genética sexual em que o equilíbrio não é exigido mais definitivamente.