O professor e pesquisador Osmar Cavassan, da Faculdade de Ciências da Unesp-Bauru, costuma usar um argumento econômico para defender a preservação do cerrado, bioma que tem na cidade uma das principais reservas no Estado de São Paulo. Ele lembra que estão no cerrado centenas de espécies com potencial para a produção de alimentos e medicamentos.
"Conhecendo bem o cerrado, o retorno econômico pode ser grande", defende. O motivo para recorrer ao argumento econômico é forte: é justamente a possibilidade de lucro que coloca em risco o que sobrou desse tipo de formação vegetal no país. Na região de Bauru o que mais ameaça é a especulação imobiliária. Em outras áreas o risco vem da expansão dos canaviais e das plantações de soja, eucaliptos e pinus. Cavassan lidera a projeto "Biodiversidade do Cerrado: uma proposta de trabalho prático no ensino de botânica e ecologia nos três níveis de escolaridade", que começou em 2006 e está ligado ao programa Biota, sobre a biodiversidade estadual, financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
O professor e seus alunos não precisam ir longe para pesquisar. O campus da Unesp fica dentro de uma reserva legal de cerrado. São 260 hectares com essa vegetação nativa do município. No passado, metade da área municipal era formada por cerrado. A outra metade tinha mata.
Hoje, além da Unesp, são áreas de reserva o Jardim Botânico e a região onde fica o Hospital Lauro de Souza Lima. "O esforço é grande para preservá-las, mas não dá para manter vigilância constante", lamenta Cavassan.
As "armas" do professor e seus alunos de graduação e pós-graduação são as informações científicas, que revelam o potencial do cerrado. O programa de pesquisas que ele lidera tem dois objetivos: conhecer a biodiversidade do bioma e divulgá-la à comunidade científica e também à população.
Para chegar à comunidade não acadêmica, foi criado o projeto de extensão "Aprendendo no Cerrado", que leva estudantes de todas as idades a percorrer trilhas dentro da Unesp. São aulas práticas, agendadas previamente e preparadas de acordo com a faixa etária dos alunos. "Eles observam in loco o que aprenderam teoricamente", afirma Cavassan. "Ficam surpresos e motivados", completa.
Desinformação
Quem percorre as trilhas entra em contato com uma grande diversidade de organismos e uma vegetação que está ali ao lado mas, por incrível que pareça, ainda é pouco conhecida.
O absurdo não fica só na falta de conhecimento. Só este ano foi sancionada a lei estadual de proteção ao cerrado. Antes tarde do que nunca. Sobrou menos de 1% do bioma que ocupava 21% da área do Estado de São Paulo.
"Não se justifica derrubar o que sobrou", prega o professor. O cerrado é o "primo pobre" na luta pela preservação ambiental. Uma das razões está ligada à aparência de sua vegetação: árvores relativamente baixas (até 20 metros), esparsas, disseminadas em meio a arbustos, subarbustos e vegetação baixa, formada por gramíneas.
A mata atlântica, ao contrário, tem árvores grandes, bonitas, de madeiras nobres.
As matas, localizadas em solos mais férteis, foram as primeiras a desaparecer, por causa do desenvolvimento agrícola, a partir da década de 1920. Até a
0 professor e pesquisador Osmar Cavassan mostra árvore típica do cerrado, no campus da Unesp de Bauru década de 1950, poucas alterações ocorreram no cerrado. Depois, o crescimento industrial, a implantação de rodovias e o uso de técnicas agrícolas passaram a ameaçar a biodiversidade nele encontrada.
E do cerrado que vem frutos como pequi, gabiroba, jatobá e murici, ainda pouco populares na região de Bauru, provavelmente por causa da falta de informação.
"Eu como pequi todo dia em casa, de uma árvore vizinha", ressalta o professor Cavassan.
Entre os animais que vivem na vegetação estão tatus, gatos do mato, quatis, cachorro do mato e veado mateiro, além de muitos répteis e diversas aves.
Durante a entrevista do professor, a reportagem testemunhou um exemplo de perigo ambiental. Da janela da sala, no campus da Unesp, dava para ver sagüis pulando de galho em galho. Imagem bonita, mas fruto do desequilíbrio da natureza. Os sagüis não são animais nativos do cerrado. Invadiram a região há cinco anos, provavelmente oriundos de algum cativeiro.
São predadores de animais nativos e viraram mais uma ameaça para o combalido cerrado, que teima em resistir.