O que o nome tem de complicado, o sistema tem de facilidades e vantagens. A agrossivilcultura une o plantio de florestas com cultivos agrícolas ou criação animal, dobradinha que tem dado certo e vem sendo usada como atrativo para conquistar os produtores rurais. A iniciativa está sendo incentivada como parte do programa de estímulo ao reflorestamento no Brasil. "A floresta não é mais vista apenas como um monte de palito em pé. Ela representa uma ótima alternativa de renda para os agricultores, pois é um ambiente múltiplo", afirma Tasso de Azevedo, diretor do Programa Nacional de Florestas do Ministério do Meio Ambiente.
Nos sistemas mais avançados, as três atividades são desenvolvidas em conjunto, o que vem sendo chamado de agroflorestas. "Estamos iniciando esse processo, o que já é muito positivo", afirma Rezende. Entre as vantagens do sistema, os técnicos apontam o uso racional e eficiente da terra e a recuperação da fertilidade do solo, já que existe um incremento de matéria orgânica por meio do adubo verde. A agrossilvicultura também contribui para a proteção do solo, uma vez que as árvores amortecem o impacto das gotas de chuva. Essas características permitem aumentar o total de produção por área.
A propagação dessa tecnologia é uma das estratégias utilizadas pelo Ministério do Meio Ambiente para aumentar a área de florestas plantadas no País. O plantio consorciado entra como um estímulo à parte, já que permite a exploração da terra para outros fins, enquanto as árvores estão crescendo. A expectativa é que a safra 2003/2004 totalize 440 mil hectares, 40 mil a mais do que a safra anterior. Mantendo o ritmo de expansão, a safra 2006/2007 deverá chegar a 500 mil hectares. O aumento da produção não representa apenas mais área plantada, mas significa a geração de florestas mais produtivas. "Queremos plantar a mesma quantidade de florestas que colhemos no prazo de três anos", informa Rezende.
Capacitação - Os agricultores receberão assistência técnica para saber como investir em florestas. "Esta é uma das principais carências", destaca o diretor. Levantamento realizado em 2003 apontou que o Brasil contava com 30 mil pessoas capacitadas na área de assistência técnica para agricultura e menos de 100 tinham noções sobre silvicultura. Por isso, o ministério vai desenvolver duas frentes de trabalho. Na primeira, está treinando 500 profissionais com foco nesta área para depois capacitar outros 1.000 no ano que vem. Também está sendo contratado, por meio de edital, pessoal para prestar assistência técnica a produtores da região da Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado, em um trabalho contínuo.
As iniciativas devem aumentar ainda mais a representatividade do setor. Dados da Embrapa Florestas indicam que o setor florestal brasileiro apresenta uma grande importância econômica e social. Considerando apenas os setores de madeira, móveis, celulose e papel, a atividade contribui com 4% do PIB nacional, cerca de US$ 20 bilhões. São exportados US$ 4,1 bilhões por ano, volume que equivale a aproximadamente 15% das exportações do agronegócio e 8% do total das exportações brasileiras. Isso significa que o complexo florestal só fica atrás do complexo pecuário (carne e couro), responsável por 18%, e do complexo soja, com 29%. A cadeia produtiva gera 6,5 milhões de empregos diretos e indiretos, o que corresponde a cerca de 9% da população economicamente ativa, e uma arrecadação de impostos da ordem de US$ 4,6 bilhões por ano (2% da arrecadação nacional).
Financiamento - Todas as ações são respaldadas por um quesito considerado fundamental pelos produtores: linhas de financiamento. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) oferece cinco linhas específicas para o setor de florestas, com carência de até 8 anos, e taxas de juros mais baixas, que variam de 4,25% a 8,75% ao ano. Entre elas estão o Programa de Plantio Comercial de Florestas (Propflora) e o Programa Nacional de Incentivo à Silvicultura e Sistemas Agroflorestais para a Agricultura Familiar (Pronaf Florestal), voltados a pequenos e médios produtores. "Há modalidades para todos os tamanhos, de microprodutores a grandes plantadores de florestas", diz Rezende.
No Rio Grande do Sul, a CaixaRS, instituição financeira credenciada pelo BNDES, já recebeu pedido para financiar o cultivo de uma área de 2,5 hectares. "Isso mostra o quanto a atividade tem despertado o interesse, independentemente do porte da propriedade", afirma o presidente da Caixa RS, Dagoberto Lima Godoy, ao comemorar os resultados obtidos pelo Programa de Financiamento Florestal Gaúcho (Proflora). Lançado no início do ano, o Proflora começou a operar em maio e já liberou R$ 14,3 milhões até o final de setembro.
Nesse período, foram recebidas 158 cartas-consulta, analisados 99 projetos e aprovadas 73 propostas, o equivalente a financiamento para 9.912 hectares. "Isso mostra o impulso que o setor tomou", afirma Godoy. Até 2006, a instituição pretende induzir o plantio de 120 mil hectares para fins comerciais. Para potencializar a atividade, a Caixa RS firmou um convênio com a Aracruz Celulose. A empresa fornece assistência técnica e as mudas clonadas, garantindo a compra futura e o preço pelo produto. A Caixa RS entra com o financiamento para o produtor, garantindo recursos do momento do plantio às despesas com a colheita.
Expansão - A parceria da Aracruz Celulose com a Caixa RS é apenas uma das frentes de trabalho que a companhia desenvolve no Brasil para intensificar a atividade rural em conjunto com o plantio de árvores. A iniciativa começou há mais de dez anos, no Espírito Santo, com a instituição do programa Produtor Florestal. "A meta é envolver a sociedade rural dentro do agronegócio da Aracruz. É um meio de adicionar renda ao produtor, pois cria uma alternativa econômica com renda garantida e, em muitos casos, usando parte da propriedade inadequada a outros tipos de cultura", explica Walter Lídio Nunes, diretor de Operações da Aracruz Celulose. O programa estabelece fornecimento de mudas, insumos e assistência técnica para o plantio inicial.
A parceria com os agricultores ajuda a expandir sua base florestal, hoje de 340 mil hectares - dois terços usados para plantio e um terço de área de preservação. Para ampliar ainda mais a produção de florestas, a Aracruz começou remodelando o viveiro no Rio Grande do Sul, onde pretende aumentar a capacidade e técnicas de produção para 30 milhões de mudas. "Além disso, estamos iniciando a produção de mudas com materiais genéticos mais produtivos, o que representará um ganho de produção de madeira dentro da mesma base florestal", conta o executivo.
Os gastos previstos para a área florestal em 2004 chegam a R$ 815 milhões no Espírito Santo, na Bahia, em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul. A empresa destinou US$ 700 milhões para a terceira fábrica em Barra do Riacho/ES (incluindo investimentos florestais), US$ 1,2 bilhão em sociedade com a Stora Enso no projeto da Veracel (unidade que entra em operação no ano que vem, em Eunápolis/BA, com capacidade de 900 mil a 1 milhão de toneladas/ano de celulose) e US$ 570 milhões na aquisição da Riocell (onde investe mais R$ 100 milhões para aumentar a atual capacidade de 400 mil para 430 mil toneladas de celulose e mais R$ 50 milhões para a floresta gaúcha). "Além do projeto Veracel, que é no momento um dos maiores feitos do setor privado no País, e da expansão da Unidade Guaíba, está em estudo um aumento de capacidade e modernização das fábricas de Barra do Riacho/ES", conta Nunes.
Pesquisas - Os estudos têm avançado muito. "A evolução no desenvolvimento de clones é bastante grande, principalmente em eucaliptos, adaptados às diversas situações de clima e de solo que o País apresenta", diz Luciana Di Ciero, conselheira da Pró-Terra - Associação Brasileira de Tecnologia, Meio Ambiente e Agronegócio e engenheira agrônoma da Esalq/USP. Segundo ela, isso tem propiciado alta produtividade em praticamente todas as regiões produtoras.
No Brasil, estão em andamento dois projetos genomas de Eucalyptus, um em consórcio do governo federal e empresas do setor florestal e outro financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp), em contrapartida às empresas do setor. "A silvicultura está investindo em pesquisa tanto quanto a agricultura. Hoje a silvicultura é encarada como uma cultura de café, algodão, feijão, isto é, a preocupação com a tecnologia, o controle de qualidade e a sustentabilidade é muito alta", afirma Luciana.
A Embrapa Florestas também atua na área de pesquisas com foco no melhoramento genético, manejo florestal e silvicultura. Embora o aumento da produtividade continue a ser perseguido, outras características relacionadas, por exemplo, à qualidade da madeira para serraria, passaram a ser consideradas nos programas em andamento. O controle de pragas em plantações florestais ganha cada vez mais importância e, na área da genética, uma parceria com a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia tem garantido uma melhoria em escala. O projeto Genolyptus, que integra técnicas convencionais de melhoramento genético com as técnicas avançadas, busca um salto quantitativo no melhoramento do eucalipto.
Apagão - O esforço que está sendo feito pelas instituições de pesquisa, no entanto, não afasta o risco do apagão florestal. O déficit de madeira já é uma realidade no setor, porém, não atinge de forma linear as diferentes cadeias produtivas. No caso de papel e celulose, existe um plantio anual de cerca de 110 mil hectares, enquanto o volume ideal é estimado em 173 mil hectares. Para a cadeia de carvão e lenha, são plantados 30 mil hectares/ano, e a necessidade é de 253 mil hectares. A madeira sólida atinge 20 mil hectares/ano, mas seriam precisos 132 mil hectares. Considerando as três cadeias, a Embrapa calcula um plantio anual de cerca de 160 mil hectares contra uma necessidade de 558 mil hectares. A correção dessa situação leva tempo, em função do ciclo das espécies florestais e da necessidade de grandes áreas a serem reflorestadas.
Para 2020, segundo Luciana, é esperado um déficit de 27 milhões de metros cúbicos, somente em toras de pinus. "O Brasil hoje está carente de um programa de estímulo ao plantio florestal, como existe em alguns países da América Latina. Fala-se em apagão, mas não em um sistema de financiamento ou incentivo abrangente por parte do governo", critica a especialista.
Propflora
Taxa de juros: 8,75% a.a., sem correção monetária. Os juros são pagos anualmente.
Prazo de amortização: até 12 anos.
Carência: até 8 anos, limitado ao primeiro corte, ou corte total.
Valor máximo financiável por investidor: R$ 150.000,00/ano.
Garantia: a critério da instituição financeira credenciada.
Notícia
A Granja