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A Granja

Agricultura de precisão: A excelência como alvo

Publicado em 01 outubro 2010

Por Denise Saueressig

Quem trabalha no campo sabe que a agricultura é uma atividade repleta de riscos. Num dia, o céu está claro, no outro, as nuvens carregadas aparecem. Antes do plantio, a expectativa para os preços é positiva, mas na hora de colher a safra, as cotações podem ficar deprimidas. Ano após ano é assim: as oscilações do clima e do mercado surgem e desaparecem, mas ajudam a compor o que será o resultado final de uma lavoura. E se os agentes externos têm esta interferência, no dia a dia da propriedade, são as decisões do produtor que serão determinantes para as contas no final da safra. Nessa hora, utilizar ferramentas que auxiliam Denise Saueressig denise® agranja.com na administração do negócio pode fazer a diferença.

A tecnologia da agricultura de precisão, ou simplesmente AP, existe com esta finalidade, ou seja, ajudar o produtor a definir a utilização dos seus recursos e obter da terra sempre o melhor. Popularmente, a ferramenta é conhecida pelo uso de equipamentos e satélites para o mapeamento de uma área, pela análise desses registros e pela aplicação de corretivos e fertilizantes de acordo com a necessidade apontada.

A tecnologia, no entanto, deve ser analisada de forma bem mais ampla, alerta um especialista no setor. "Com a simplificação exagerada corremos o risco de desprestigiar uma ferramenta que é um sistema de gestão para a atividade agrícola", destaca o professor José Paulo Molin, do Departamento de Engenharia de Biossistemas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP).

Coordenador de uma série de projetos e estudos em AP, Molin redigiu o Boletim Técnico da Agricultura de Precisão publicado no ano passado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). No documento, o pesquisador conceitua a AP como um "sistema de gerenciamento agrícola baseado na variação espacial de propriedades do solo e das planotimização do lucro, sustentabilidade e proteção do ambiente. Trata-se de um conjunto de tecnologias aplicadas para permitir um sistema de gerenciamento que considere a variabilidade espacial da produção"". O pesquisador sustenta que a AP tem valias formas de abordagem, mas sempre com o mesmo objetivo:""Utilizar estratégias para resolver os problemas da desuniformidade das lavouras e, se possível, tirar proveito dessas desuniformidades".

Sobre esta afirmação, cabe a seguinte pergunta: é melhor aplicar ano após ano a mesma quantidade de calcário e fertilizante em toda a lavoura, ou é melhor saber o que cada talhão precisa e aplicar os insumos de acordo com a necessidade da área? Nesse momento, também é importante lembrar que a adubação pode representar 30% dos custos de uma lavoura. Ora, se está provado que as parcelas de uma mesma lavoura não são iguais, o ideal é variar a aplicação, oferecendo ao solo o que realmente é necessário. "Esse é um processo lógico, mas que ainda é visto como exceção no Brasil. No entanto, acredito que com o tempo, será incorporado à rotina das propriedades, sendo feito de forma natural num prazo em tomo de 20 anos", considera Molin.

O início e a difusão — Relatos indicam a existência de trabalhos ligados à agricultura de precisão desde o início do século XX. De uma maneira mais objetiva, porém, a prática remonta à década de 80, quando na Europa foi gerado o primeiro mapa de produtividade, e nos Estados Unidos houve a primeira adubação em doses 1 variadas. "Mas o passo determinante para a implementação foi o surgimento do Sistema de Posicionamento Global, o GPS, por volta de 1990", informa o professor da Esalq. No Brasil, atividades ainda esparsas têm registros em 1995, com a importação de equipamentos, principalmente máquinas de colheita com monitores de produtividade. "A medida que as empresas propagaram suas tecnologias, a ferramenta passou a ser incorporada", completa Molin.

Uma das boas notícias ligadas à AP é a chamada "tropicalização" da tecnologia nos últimos anos, acentua o professor Telmo Amado, da Universidade Federal de Santa Maria/RS (UFSM). "Muitas indústrias estão desenvolvendo equipamentos aqui no Brasil, sem a necessidade da importação, o que torna os custos mais acessíveis. Alguns itens custam menos da metade do preço praticado há sete anos. Além disso, há uma melhor assistência na etapa pós-venda e uma tecnologia que será adaptada às nossas condições", enfatiza. O professor também saúda a evolução das ferramentas. "Hoje o produtor pode trabalhar à noite. A cada safra, são lançados mais equipamentos que nos permitem fazer um maior número de operações", continua.

Os processos envolvendo a AP são mais frequentes nas lavouras de grãos da Região Sul. No Sudeste, o destaque fica por conta do estado de São Paulo, onde 30% das usinas processadoras de cana-de-açúcar utilizam os conceitos da tecnologia. Pelo grande potencial agrícola, os estados do Centro-Oeste também adotam cada vez mais as práticas. E na Bahia, onde a região oeste se desenvolve com a produção de grãos, os produtores começam a perceber os benefícios do processo. "Não existe um levantamento sobre o uso, mas pela capacidade das empresas envolvidas, podemos falar de um número de 1,5 milhão de hectares amostrados por ano, o que não significa, no entanto, que seja feita alguma forma de aplicação a taxa variável nessa área", raciocina Molin.

No Centro-Oeste, os produtores utilizam a AP também como uma aliada para equilibrar os cultivos da safra e da safrinha. "Sabemos que na região, cada dia de atraso na semeadura gera um drama, pelo temor de perda de produtividade. Utilizando as ferramentas de precisão, o agricultor consegue trabalhar dia e noite, por 24 horas se for preciso, com muito mais segurança no seu manejo", complementa o professor Telmo Amado.

O investimento das cooperativas - Para tomar o uso da agricultura de precisão acessível aos associados, muitas cooperativas do país vêm investindo na difusão da tecnologia por meio de parcerias com empresas e instituições de pesquisa. No Paraná, a Fundação ABC de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário atua em conjunto com três cooperativas: a Capai, de Arapoti, a Batavo, que tem sede em Carambeí, e a Castrolanda, do município de Castro. "Realizamos uma prestação de serviços junto aos produtores e ajudamos os agrônomos das cooperativas nesse trabalho que muitas vezes é complexo e demorado", detalha o pesquisador Fabrício Pinheiro Povh, responsável pela área de AP na Fundação ABC.

O especialista diz que é preciso apresentar as ferramentas tecnológicas aos agricultores e mostrar os benefícios que o emprego correto das técnicas pode proporcionar na prática. "Se o produtor não visualizar as vantagens na sua lavoura, ele logo vai desistir do processo", comenta Povh.

Entre as tecnologias empregadas pela Fundação ABC nas propriedades paranaenses estão o monitoramento de colheita, a medição da condutividade elétrica do solo, o uso de sensores óticos para o manejo de nitrogênio e a determinação da altimetria do solo, técnica que está relacionada ao desenho do relevo do terreno e que também serve para uma aplicação mais segura de insumos.

Como a maioria das colhedoras usadas pelos produtores já têm monitor de colheita - equipamento que tem custo em tomo de R$ 20 mil, os associados das cooperativas pagam apenas pela interpretação das informações, que é feita no descarregamento do cartão de dados. Por esse serviço, o custo é de R$ 3 por hectare. Os demais equipamentos (medição de condutividade, sensor ótico e altimetria) são da Fundação ABC. Por esses trabalhos, os agricultores desembolsam, respectivamente, R$ 5, R$ 7 e entre R$ 10 e R$ 12 por hectare.

Nesta safra de inverno, as primeiras experiências com o uso do sensor ótico de nitrogênio trouxeram resultados interessantes. Numa propriedade no município de Castro, houve uma economia de R$ 36 por hectare com o nitrogênio na área cultivada com trigo. "A recomendação fixa para a região sempre foi de 120 quilos por hectare a cada safra. No entanto, com a medição, concluímos que a necessidade havia caído para 95 quilos por hectare este ano. Outros tiveram economia de até R$ 100 por hectare. E esse número numa lavoura de alto risco como é o caso do trigo, é bastante significativo", frisa Povh. O pesquisador ainda lembra que a eficiência no uso do nitrogênio pelos cereais está em tomo de 33% no mundo todo. O índice é baixo e representa perdas econômicas e ambientais expressivas.

A Fundação ABC investiu em tomo de R$ 14 mil na aquisição do sensor ótico. O valor inclui o preço do equipamento mais os gastos com os impostos de importação. A ferramenta é acoplada a uma motocicleta e deve estar a uma distância de cerca de 80 centímetros da planta. Uma área de 400 hectares pode ser monitorada em dois ou três dias. "Se um produtor com 400 hectares decidir comprar um equipamento desses, já poderá pagar o seu custo em um ano de economia com nitrogênio. Se for usado em conjunto, por um grupo de agricultores, o resultado financeiro será melhor ainda", assinala Povh.

No Rio Grande do Sul, 20 cooperativas e 1,5 mil produtores estão envolvidos em uma iniciativa liderada pela UESM e pela Fundacep/CCGL, instituição de pesquisa com sede em Cruz Alta. O Projeto Cooperativo (APcoop) iniciou em 2007 com a intenção de estimular o uso da agricultura de precisão entre os produtores da região. "A tecnologia ainda é nova no Brasil e precisa do apoio da pesquisa para prosperar nos diferentes perfis de propriedades rurais", justifica o engenheiro agrônomo Jackson Fiorin, pesquisador da Fundacep.

Além de participar do treinamento dos agrônomos e técnicos das cooperativas, a instituição recebe as informações das lavouras dos associados e elabora as recomendações de adubação e correção com o auxílio de um software específico. "O produtor procura a sua cooperativa que, mais tarde, encaminha o material para a nossa análise. Depois, é a vez do agrônomo voltar à propriedade para repassar os dados ao agricultor", descreve Fiorin. Para dar suporte aos serviços de amostragem e análise de solo, mapas de fertilidade e recomendações a taxas variáveis, um novo laboratório foi montado pela Fundacep/CCGL e está funcionando desde o começo de 2009 em Cruz Alta. Também foram instaladas unidades de pesquisa em propriedades de cooperados. "Além dos treinamentos com os profissionais, realizamos dias de campo e palestras para desmistificar a agricultura de precisão", afirma o pesquisador.

As cooperativas, por sua vez, investiram na aquisição de equipamentos para amostragem de solo (quadriciclos), distribuidores a taxa variada, GPS, penetrômetros para avaliar o estado de compactação do solo e sensores de rendimento. "Pelo seu custo, estes equipamentos seriam inacessíveis aos pequenos produtores, mas quando adquiridos pela cooperativa que presta esse serviço, adicionalmente aos outros serviços que tradicionalmente oferece, se torna viável. Sem esse trabalho, esses produtores não poderiam ter os benefícios dos avanços tecnológicos", aponta Fiorin.

Uniformidade na lavoura — O engenheiro agrônomo Rogério Ceolin encontrou na agricultura de precisão uma aliada para uniformizar a fertilidade das lavouras nas fazendas da família em Jóia e Tupanciretã, no Rio Grande do Sul. Produtor rural assim como o pai e o avô, ele utiliza as ferramentas da AP numa área de 4 mil hectares cultivados com grãos, cereais e pastagens. "Lembro que os primeiros equipamentos de GPS chegaram por volta do ano 2000, mas eram utilizados apenas como ferramenta de localização e para o auxílio na aplicação de defensivos a taxa fixa", recorda.

Hoje, a família faz o manejo de 70% das áreas cultivadas seguindo todo o processo da AP, que passou a ser utilizada de forma completa em 2006. A análise das amostragens do solo é terceirizada e feita por empresas que confeccionam os mapas de fertilidade e enviam as recomendações via internet. A adubação é realizada com base nessas avaliações, e 80% das oito colheitadeiras da frota estão equipadas com a ferramenta dos mapas de colheita. "Nosso objetivo, assim que for possível, é trocar as máquinas antigas para equipamentos novos que já venham com piloto automático e monitor de colheita", projeta Ceolin.

Embora considere a tecnologia de alto custo, o produtor reconhece que os equipamentos vêm apresentando redução de preços nos últimos anos. "Um exemplo é o valor de uma barra de luz, que tinha custo ente R$ 30 mil e R$ 40 mil há sete anos. Agora, é possível encontrar a mesma ferramenta com preço em tomo de R$ 5 mil a R$ 10 mil", cita. O agricultor refere-se ao sistema de orientação com sinais luminosos que indicam se o operador está na direção correta ou se precisa alinhar" a máquina no momento da aplicação de algum insumo.

Ceolin sabe que o resultado dos investimentos em AP virá em longo prazo, mas já sente os reflexos de uma adubação mais criteriosa. "Temos consciência que o solo não vai mudar de uma hora para a outra, mas conseguimos identificar os problemas para tentar resolvê-los. Assim, como uma adubação correta, economizamos em fertilizantes e podemos explorar melhor o potencial produtivo de cada área", sustenta. O produtor, que também utiliza piloto automático no plantio e para evitai" a sobreposição de sementes, planeja, no futuro, adotai" as ferramentas de AP para a aplicação de defensivos a taxas variáveis. "Sabemos que esta é uma ferra-menta complexa, mas importante para diminuir o consumo desses produtos e evitar prejuízos às plantas e ao meio ambiente", argumenta.

Modernização à vista - O produtor Vilmar Ragagnin começou a utilizar a AP em 2004, fazendo amostragem georreferenciada e aplicação de adubos e corretivos a taxa variada no Condomínio Paraíso, propriedade de cerca de 4 mil hectares da qual é sócio na região de Jataí/GO. Atualmente, ele também faz a geração de mapas de produtividade nas áreas cultivadas com grãos e já fez testes com a semeadura a taxa variada. "Observamos que gerar mapas de fertilidade nos fornece informações representativas e confiáveis, e que aplicai" fertilizantes a taxa variada é operacionalmente simples. Por outro lado, a geração de mapas de produtividade e o seu uso em futuras recomendações apresenta maior complexidade. Por fim, a geração de mapas de recomendação de semeadura em taxa variada é um procedimento mais difícil e menos confiável em relação aos dois procedimentos anteriores", prossegue.

Ragagnin também é professor na Universidade Federal de Goiás (UFG), onde integra uma equipe que atua na disciplina de agricultura de precisão no curso de Agronomia do Campus Jataí. Ele percebe um grande avanço na área nos últimos anos. "Há dez anos iniciava-se o uso de GPS associado à barra de luz para auxiliar no tráfego dos pulverizadores. Mais recentemente, os produtores têm à disposição a possibilidade de equipar as máquinas agrícolas com piloto automático. Este equipamento é uma evolução da tecnologia de direção com barra de luz, permitindo sistematizar o tráfego das máquinas na lavoura em todas as operações, desde o preparo do solo até a colheita, contribuindo para a redução dos custos operacionais e com insumos", ressalta.

Para o produtor, o futuro da AP é promissor e deve representar a incorporação e o aperfeiçoamento de técnicas. "Acredito que a principal mudança será a modernização da instrumentação. Serão desenvolvidos sensores que permitirão a automatização para avaliar a fertilidade do solo, o estado nutricional das plantas e a biomassa das culturas. Atualmente, a agricultura de precisão é feita muito com base na análise da fertilidade do solo. Esta informação é importante, mas não o suficiente para explicar todas as variações de resposta que ocorrem na planta. Além disso, esta informação é obtida antes da implantação da cultura. Acontece que após a cultora estar implantada, esta interage com fatores não previsíveis como pragas, doenças, luz, temperatura e precipitação", ilustra.

E preciso mais conhecimento - Manter o foco em um trabalho de longo prazo, avaliando os resultados obtidos com o uso da tecnologia nos anos seguintes à aplicação é um dos desafios percebidos em muitas propriedades brasileiras que utilizam a AP, avaliam os especialistas da área. O professor da Esalq/USP José Paulo Molin alerta que não existem milagres e que os ganhos obtidos são muito variáveis. Para quem trabalha com a pesquisa e difusão, o especialista diz que há necessidade de estudos mais abrangentes na área de aplicação de agroquímicos e de dosagem de sementes.

Na Esalq, o Projeto AP iniciou em 1998 com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Desde lá, foram agregadas empresas e instituições parceiras, e os objetivos dos trabalhos vêm sendo alterados de acordo com a modernização das tecnologias e com as demandas apresentadas pelo mercado. Enquanto as primeiras pesquisas envolviam a utilização de corretivos e fertilizantes em taxas variáveis, atualmente, os estudos estão voltados para técnicas como o uso de sensores óticos para a aplicação de nitrogênio em taxa variável. Fazem parte das pesquisas as lavouras de grãos e outras culturas, como cana de açúcar, café, citros e florestas.

Além de incluir o tema em disciplinas na graduação e na pós-graduação, a escola também promove uma atividade para difundir conhecimentos sobre a tecnologia. A Jornada de Atualização em Agricultora de Precisão é um treinamento realizado em 50 horas por meio de aulas práticas e teóricas voltada a profissionais, de preferência com formação superior e que atuem em sistemas de produção agropecuários e florestais.

Formar trabalhadores e pesquisadores qualificados na área é o grande desafio da AP no Brasil, observa o professor Molin. Segundo ele, esse fato fica explícito na grande procura pelos treinamentos da Jornada AP. "A academia também tem sua responsabilidade nesse processo. Enquanto houver escassez de pesquisas na área, vai haver poucos profissionais capacitados e desconhecimento por parte do usuário final", enfatiza. Para o pesquisador, a oferta de mão de obra não acompanhou a evolução das tecnologias dos equipamentos. "As soluções mecânicas estão na frente das soluções agronômicas", resume.

Com uma experiência de sete anos em AP, o professor Telmo Amado, da UFSM, também percebe essa deficiência. "Há uma demanda grande que vem do campo. Muitos produtores se queixam que alguns prestadores de serviços na área são despreparados", relata.

As oportunidades crescentes de trabalho no setor e a consequente necessidade de profissionais qualificados vêm modificando a maneira como as universidades trabalham o assunto. A agricultora de precisão é tema de disciplinas na pós-graduação da Engenharia Agrícola da UFSM e, desde o semestre passado, também é disciplina complementar de graduação (DCG) no curso de Agronomia. "Esperávamos em tomo de 50 alunos, mas tivemos 237 matrículas", conta Amado.

Na Faculdade de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Campinas (Feagri/Unicamp) o professor Paulo Graziano também nota uma procura intensa pela disciplina que aborda a AP na graduação. Na opinião dele, o segmento apresentou muitos avanços nos últimos anos, mas ainda sente falta de um corpo técnico mais amplo e qualificado. "Essa formação é fundamental para ajudar a popularizar a utilização da tecnologia. Há um grande potencial da tecnologia para a redução de custos e de impacto ambiental, mas o produtor precisa entender que a técnica não é apenas uma ferramenta, mas um sistema de integração de todos os processos realizados na propriedade", menciona.

Além das atividades de ensino, a Feagri mantém um grupo de pesquisa voltado ao desenvolvimento de equipamentos utilizados em agricultura de precisão. Entre os muitos projetos consolidados, está um monitor de produtividade para a cana de açúcar e um mecanismo de sincronismo entre o transbordo e a colhedora de cana.

Na principal instituição de pesquisa agropecuária do Brasil, a agricultura de precisão também é uma prioridade. Em diferentes regiões do país, 19 unidades e 214 cientistas da Embrapa estão envolvidos na chamada Rede de Agricultura de Precisão 11. O orçamento do projeto foi calculado em quase R$ 7 milhões, dos quais R$ 2,5 milhões foram liberados até agora.

O pesquisador da Embrapa Instrumentação Agropecuária Ricardo Inamasu é o coordenador da rede e explica que o primeiro passo para iniciar os trabalhos foi investir na qualificação dos profissionais da instituição. "Desenvolvemos ações de treinamento em áreas experimentais com grupos heterogêneos. Trabalhamos desde o conceito da AP, até a aplicação prática das tecnologias", pontua. São 15 áreas experimentais envolvendo estados do Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste c Sul e culturas como milho, soja, algodão, sorgo, trigo, arroz, eucalipto, laranja, pêssego, uva, pastagem e cana-de-açúcar.

O conceito moderno da agricultura de precisão é bastante abrangente e não pode se limitar às lavouras de grãos, conclui Inamasu. Para ele, devem ser consideradas diferentes cultivos no processo de popularização da tecnologia. "O trabalho pode compreendei" culturas anuais e perenes e até a integração Iavoura-pecuária. E preciso entender que a AP é uma costura gerencial que leva em conta a variabilidade espacial da propriedade agrícola para maximizar o retomo econômico e minimizai" os danos ao meio ambiente", sentencia.