Pesquisadores brasileiros, em conjunto com americanos, descobriram que o estresse pode, realmente, deixar uma pessoa com os cabelos brancos. Até hoje, isso parecia apenas uma espécie de crendice, ou só algo que os adultos falam para crianças ou adolescentes para enfatizar o quanto de preocupação um responsável pode ter por seus tutelados.
O estudo foi realizado no Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias, da Fapesp, em parceria com pesquisadores de Harvard. Eles usaram ratos de laboratório para mostrar que, ao serem expostos a situações de estresse intenso, a pelagem pode perder a coloração em velocidade alarmante. Depois de três anos de pesquisas, foi publicado um artigo detalhando processo e conclusão na revista Nature.
“O nosso laboratório é sobre dor. Então injetamos uma toxina que gerava muita dor em camundongos sem saber para onde ir. A partir disso, vimos que eles ficavam com pelos brancos depois de quatro semanas. Foi inesperado”, contou o cientista brasileiro Thiago Mattar, um dos responsáveis pelo estudo.
Os pesquisadores notaram que o sistema nervoso simpático possui ligação próxima com o estresse. Ele é responsável por controlar as respostas do nosso organismo em situações extremas de perigo, fazendo o coração bater mais rápido ao liberar adrenalina e cortisol.
Com os batimentos acelerados, a pressão arterial também sobe, além de haver dilatação das pupilas e aumento no ritmo respiratório, também. O processo é parte da preparação de nosso corpo para reagir à situação, seja para enfrentar o problema de frente, se esquivando ou fugindo.
Para simular esse efeito, os pesquisadores brasileiros injetaram em camundongos de pelos pretos uma dose alta de uma substância chamada resiniferatoxin, que causa dor forte. Sem compreender a razão da dor ou o que fazer, os ratinhos acabavam em uma situação de estresse intenso.
“Cerca de quatro semanas após a injeção sistêmica da toxina, um aluno de doutorado observou que os animais estavam com os pelos completamente brancos”, disse Mattar. “Aparecia em cerca de 30% a 40% dos pelos. Quanto maior o estresse, mais pelos brancos”, seguiu o cientista.
Não há cura, mas tem como evitar
Os cientistas também conseguiram descobrir duas maneiras de evitar o embranquecimento dos fios por estresse. Uma delas foi por meio de cirurgia para retirar as fibras simpáticas. A outra, foi via administração de um anti-hipertensivo.
“Tratamos os animais com guanetidina, um anti-hipertensivo capaz de inibir a neurotransmissão pelas fibras simpáticas e observamos que o processo de embranquecimento capilar foi bloqueado”, contou Thiago Cunha, outro cientista que participou do estudo. “Esses e outros experimentos conduzidos demonstraram a participação da inervação simpática no processo de embranquecimento capilar e confirmaram que a dor atua, nesse modelo, como um potente estressor”, explicou.
Cunha, no entanto, disse que não há ainda uma pesquisa para criar um remédio que evite o amadurecimento das células-tronco melanocíticas dentro do bulbo capilar, responsáveis pela produção do pigmento responsável pela coloração dos fios. Segundo ele, as tinturas atualmente usadas por muitas pessoas para esconder seus cabelos brancos já resolvem a questão estética sem efeitos colaterais que um medicamento poderia causar.
Os testes foram conduzidos, em grande parte, em laboratórios de Harvard, coordenados por Ya-Chieh Hsu, professor de biologia regenerativa. Os brasileiros usaram instalações da USP de Ribeirão Preto para conduzir o restante dos experimentos.
Mattar já fazia seus estudos quando foi a Harvard passar um tempo e descobriu que pesquisadores da universidade americana tinham um estudo semelhante. “Quando fui fazer um sabático em Harvard, falei para um supervisor sobre esse achado e eles disseram que também estavam fazendo algo nessa linha e nos chamaram para colaborar”, explicou.