Notícia

Comércio da Franca

Administrar a pesquisa com poucos recursos

Publicado em 14 julho 2004

Por NELSON NOVAES
A escassez de recursos por parte do Estado brasileiro - independentemente de governos e presidentes - é um fato. Mas isto não pode ser tomado como pretexto para o homem público nada ou pouco fazer. É o caso da Embrapa e da pesquisa agropecuária, esta um, insumo fundamental para o agronegócio e para a economia brasileira, inclusive para a geração e a ampliação de emprego e renda. Claro que é difícil e problemático administrar um centro de pesquisa numa situação de permanente escassez de recursos. Mas é possível gerenciar bem, mesmo dentro de limitações, por meio da racionalização da administração e da pesquisa e aumentando as parcerias com a iniciativa privada - empresas do agronegócio, cooperativas e produtores - que tem se mostrado muito interessada em colaborar com a Embrapa. No caso da Embrapa Pecuária Sudeste, em pouco mais de um mês de gestão já firmamos convênio com mais uma grande empresa e estão em negociação e - análise parcerias com vários órgãos e empresas. Isso sem deixar de lado os negócios e, parcerias que vêm da administração anterior à nossa, inclusive com a Fundação de Amparo a Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp). Precisamos saber trabalhar com pouco dinheiro, preparando o Brasil para a retomada e o progresso que fatalmente virão, dadas as condições extremamente favoráveis deste País e de sua gente. Tudo isso não quer dizer que a Embrapa ou outro órgão de pesquisa vá chegar à auto-suficiência financeira, hipótese impossível do ponto de vista técnico e econômico, como já foi provado em todo o mundo, inclusive na Grã-Bretanha, apesar da fúria e do radicalismo privatistas da ex-primeira ministra Margareth Tatcher. O próprio governo desse país voltou atrás e retomou parte da pesquisa agrícola. Portanto, os governantes e toda a sociedade brasileira (e não apenas o agronegócio) devem aprofundar a sua conscientização sobre a importância da pesquisa para a economia e para o bem-estar dos brasileiros. Quando o ministro Roberto Rodrigues e o presidente da Embrapa, Clayton Campanhola, afirmam que a pesquisa agropecuária é fundamental para o Brasil, eles não estão fazendo discursos bonitos. É a à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp), a maior parceira desta unidade da Embrapa. ler os jornais ou perguntar aos trabalhadores do interior do País qual tem sido o setor que têm colocado a salvo seus salários e empregos. Sem falar nos novos empregos gerados, grande parte também no agronegócio. Ao mesmo tempo, o ministro Antônio Palocci tem sido rigoroso com a austeridade fiscal e com a liberação de recursos do Tesouro Nacional, inclusive para a agricultura e para a pesquisa. Isso é o correto numa situação de crise fiscal e escassez, complementando as medidas a favor do desenvolvimento. A austeridade fiscal é necessária para o desenvolvimento econômico e social, inclusive do agronegócio. Sem essa austeridade neste momento, jamais o Brasil vai "decolar" para um crescimento econômico permanente ou sustentável. Os sacrifícios que todos nós sentimos com políticas de austeridade são necessários, pois , só assim ficaremos livres de crises trazidas de fora, livres de inflação e livres de necessidade de dinheiro especulativo de fora. Não podemos, de maneira alguma, voltar a ser o país da hiperinflação, com o empobrecimento dos já pobres e o enriquecimento dos já ricos, como aconteceu de 1980 a 1994, período em que o Brasil apresentou a escandalosa cifra de mais de 20 trilhões por cento de inflação (aqui os "milhões por cento" viraram detalhes à direita da vírgula). Foi a quarta maior inflação da história da humanidade ou a segunda maior inflação do mundo sem componentes de guerras e destruição física. Nelson Novaes é engenheiro agrônomo e chefe-geral da Embrapa Pecuária Sudeste, de São Carlos (SP).