O Brasil chora. Qual num intenso samba-canção, lamenta, com poesia e pesar, a perda de um de seus mais ilustres filhos. Quis o destino que Paulo Emílio Vanzolini fosse internado no dia 25 de abril, data em que completou 89 anos. Com um quadro grave de pneumonia, o compositor e zoólogo não resistiu. Faleceu três dias depois, no último domingo.
Avesso aos holofotes e às homenagens, o poeta não se via como celebridade. Gostava mesmo era da boemia das rodas de samba. Nelas, os amores achados e perdidos viravam inspiração para músicas capazes de tocar a alma. Humilde, discordava de muita gente ao declarar não ver motivo para a clamação dos versos de um de seus maiores sucessos: “De noite, eu rondo a cidade, a te procurar, sem encontrar; no meio de olhares espio, em todos os bares, você não está”. Para ele, “Ronda” era um samba igual aos outros.
Vanzolini também se destacou por uma laureada produção científica. Formado em medicina, fez doutorado em zoologia na Universidade de Harvard. Nutria grande paixão pelo Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, no bairro do Ipiranga, que ajudou a ampliar tanto em quantidade de espécies quanto em qualidade. Um dos idealizadores da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), foi agraciado com a grã-cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico e até premiado pela Fundação Guggenheim, em Nova York.
Diz uma de suas obras-primas: “Quando eu for, eu vou sem pena; pena vai ter quem ficar”. Vanzolini deixou-nos, ao partir, não apenas tristeza e dor, mas também o sentimento e a força inerentes a suas composições. “Volta por Cima”, “Na Boca da Noite” e tantas outras canções marcarão para sempre a música popular brasileira. Um legado que aquece a alma e o coração, num momento em que só os versos têm o poder de confortar; uma trajetória que nem o tempo, companheiro e algoz, poderá silenciar.
/Gabrlel Challta é professor, escritor e deputado federal.