São Paulo - Tratar dores crônicas e agudas com choques imperceptíveis, emitidos por um dispositivo que qualquer paciente pode aplicar diretamente na pele. Esse é o conceito do Tanyx, uma espécie de curativo não medicamentoso desenvolvido em Botucatu (SP) pela Medecell.
A empresa brasileira de tecnologia e inovação em saúde investiu R$ 10 milhões, entre recursos próprios e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), para desenvolver o dispositivo, que já é vendido no Brasil com aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Aprovado também pela Food and Drugs Administration (FDA), xerife das áreas de saúde e alimentos nos EUA, deve começar a ser exportado para o mercado americano e para o Canadá em 2016.
O Tanyx é um adesivo autoaplicável que usa a Tecnologia de Eletroestimulação Nervosa Transcutânea (Tens). Um microdispositivo embutido emite choques indolores que impedem a transmissão da sensação de dor ao cérebro. Embora imperceptível, o estímulo elétrico também ajuda a anestesiar o local. A eficácia do produto foi comprovada em testes clínicos em parceria com as universidades de São Paulo (USP) e Campinas (Unicamp).
Tratamentos com eletroestimulação em geral têm aplicação restrita a profissionais da saúde, devido à dificuldade de manuseio e baixa portabilidade dos aparelhos, além do alto custo. A grande inovação da Medecell foi criar um produto autoaplicável, de fácil manuseio, livre de fios, descartável (suporta de 20 a 30 usos) e já ajustado para analgesia.
O Tanyx também recebeu sinal verde da Comunidade Europeia e já foi patenteado em mais de 40 países, com os quais a empresa negocia para exportar. "Estamos em conversas com laboratórios europeus e da América Latina, mas, por enquanto, nada concreto", afirma o CEO da Medecell, Moacyr Bighetti.
Antes de partir para o varejo, a empresa procurou tornar o produto conhecido na comunidade médica. A prescrição por médicos a pacientes que poderiam se beneficiar do tratamento com eletroestimulação ajudou na estratégia de apresentar como diferencial do Tanyx a facilidade de uso.
Desde 2013, quando começou a venda no varejo, a receita da companhia dobrou. A Medecell fatura R$ 5,8 milhões ao ano com a venda do dispositivo. A média é de 7 mil unidades ao mês, ao preço unitário de R$ 70. A receita advém da comercialização no Brasil e, agora, do licenciamento para que outras empresas possam distribuir o produto no exterior. Com a entrada nos EUA e no Canadá prevista para 2016, a expectativa é elevar em 300% as vendas e obter um faturamento aproximado de US$ 9 bilhões. A Medecell também pretende ampliar os pontos de venda no Brasil de 2 mil para 10 mil até março.
O produto já é vendido no Chile, onde a empresa optou por estabelecer sua linha de montagem. Segundo Bighetti, questões fiscais e um ambiente de negócios menos burocrático viabilizaram a produção do Tanyx no país vizinho com uma ótima relação entre custo e benefício. O registro do dispositivo junto à autoridade local levou apenas dez dias, processo que demorou um ano no Brasil. A facilidade para importar insumos também fez diferença: a liberação na alfândega leva dois dias no Chile e dez no Brasil. "Como os componentes eletrônicos são importados da China e as pilhas vêm dos Estados Unidos, era primordial essa rapidez para a fabricação do produto", diz.
Também com base na Tens, a Medecell conduz agora estudos clínicos de dois novos dispositivos: um para pacientes com cólicas menstruais e cefaleia e outro para melhorar o desempenho de atletas.