Uma pesquisa realizada na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostrou que é possível diminuir o risco à saúde humana e a poluição do meio ambiente com o uso de um adesivo natural, feito de óleo de mamona, para a adesão das fibras de madeira na produção das chapas MDF. O óleo, agregado a outros componentes químicos e processado, resulta em um adesivo líquido, viscoso, ecologicamente correto. A resina fabricada a partir do componente natural mostrou, sobretudo, vantagens econômicas sobre o adesivo sintético, usado pela maioria das indústrias dessas chapas.
O MDF é uma placa de fibra de madeira de média densidade, com considerável potencial de crescimento no mercado mundial, por ser uma alternativa de produto com excelente resistência, além não possuir algumas características negativas da madeira, como, por exemplo, a de ser muito suscetível à umidade.
Feita a partir de fibras de madeira (pinus, por exemplo), tem servido muito bem aos fabricantes de móveis, que consideram o material um produto nobre. "O uso dessas chapas já era comum fora do Brasil. Agora, aqui também estamos aderindo a elas, seja em móveis, divisórias etc", diz a professora Raquel Gonçalves, da Feagri.
Segundo ela, as tecnologias para a fabricação das chapas MDF a partir de madeiras de reflorestamento de baixo custo representam, para vários setores industriais, uma possibilidade de agregar valores às espécies com pouco interesse comercial. Entretanto, as resinas utilizadas para "colar" as fibras de madeira durante a confecção das chapas MDF são identificadas como elementos poluidores da natureza e nocivas ao ser humano.
O trabalho desenvolvido na Feagri teve o objetivo de avaliar o desempenho de chapas MDF confeccionadas com adesivo poliuretana derivado do óleo de mamona, em substituição ao componente sintético usado pelas indústrias.
Durante os ensaios, verificou-se que a chapa com o óleo de mamona tinha, além de resistências iguais ou superiores às produzidas com outras resinas, maior resistência à umidade (impermeabilidade), pois o adesivo formava uma película protetora e resistente, melhorando inclusive o acabamento do produto.
Aplicabilidade
O adesivo feito de óleo de mamona usado na pesquisa foi desenvolvido pela equipe do professor Wagner Luiz Polito, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos. "As características químicas e processos de fabricação do adesivo são mérito dos pesquisadores de São Carlos. Aqui, estamos testando a aplicabilidade do produto", afirma Raquel. "Este adesivo apresenta baixos teores de toxicidade, sendo classificado como não poluente e não tóxico ao ser humano", diz a professora, orientadora da tese de doutorado "Chapa de média densidade fabricada com fibra de madeira de reflorestamento e adesivo poliuretana monocomponente derivado de óleo de mamona", de Sérgio Augusto Mello da Silva.
O estudo das chapas, que teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foi feito com equipamento de ultrasom e ensaios físicos e mecânicos. A avaliação desenvolveu-se em três fases distintas. "Usamos a estrutura da Duratex (uma das maiores fabricantes de MDF do País) e adaptamos o adesivo às reais condições de pressão, temperatura e ambiente da empresa", afirma Raquel. Para a pesquisadora, o estudo comprovou que o óleo de mamona pode ter seguramente novas aplicações.
Segundo a professora, o produto ainda não está sendo produzido em escala comercial . "As amostras usadas foram feitas apenas para utilização durante os testes."
A pesquisa já mostrou, porém, que além de ser mais natural que o adesivo sintético, a resina feita a partir do óleo de mamona é mais econômica. "Precisamos de temperaturas menores e menos energia para secagem das chapas quando usamos o derivado do óleo de mamona", garante a professora.
Na agricultura
Os trabalhos duraram quatro anos. Agora, o projeto terá continuidade, em outra área: o setor agrícola. Segundo Raquel, a Unicamp propôs e obteve aprovação de projeto para testar o uso do adesivo como impermeabilizante de embalagens de madeira para produtos agrícolas.
Com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), esse novo estudo pretende dar impulso ao setor de embalagens, que hoje enfrenta resistência quando o assunto é a exportação de produtos da agricultura brasileira. "Atualmente, grande parte das embalagens no Brasil é feita de madeira. Isso reflete, inclusive, na geração de empregos. No entanto, muitas dessas embalagens, em um futuro próximo não poderão ser mais utilizadas, devido a novas legislações vigentes nos países que importam nossos produtos agrícolas e até mesmo no Brasil", afirma Raquel.
Ela diz que o novo projeto vai propor o uso de placas de MDF feitas com o adesivo derivado do óleo de mamona e também o uso do produto diretamente nas caixas de madeira, como impermeabilizante. "Isso permitirá que estas caixas passem por processos de limpeza, como hoje é necessário", explica a professora.
Notícia
Correio Popular (Campinas, SP)