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G1

Adesivo feito com colágeno da pele de peixe em impressora 3D é testado em lesões cutâneas; entenda (5 notícias)

Publicado em 02 de setembro de 2024

Estudo está em fase de análise dos testes em animais. Ele foi desenvolvido no Laboratório de Biomateriais e Engenharia de Tecidos (Labetec), da Unifesp, na Baixada Santista (SP).

Pesquisadores do Laboratório de Biomateriais e Engenharia de Tecidos (Labetec) da Universidade Federal de São Paulo ( Unifesp ) desenvolveram um curativo inovador para feridas cutâneas, como queimaduras e úlceras. O tratamento utiliza colágeno extraído da pele de peixe e é produzido com tecnologia de impressão 3D, aproveitando ativos da biodiversidade marinha.

O objetivo do curativo, desenvolvido no campus da Baixada Santista, no litoral paulista, é ser de uso único e se integrar à ferida. O colágeno se mistura com a pele, estimulando o crescimento tecidual e, consequentemente, a cicatrização da ferida.

O curativo foi desenvolvido a partir do colágeno extraído da pele de peixe, conforme explicou Ana Claudia Muniz Renno, uma das coordenadoras da pesquisa. Embora a pele de peixe já fosse utilizada em tratamentos, esta é a primeira vez que se associa a extração de colágeno com o uso de impressão 3D.

"O caráter inovador é usar o colágeno advindo da biodiversidade [marinha] e manufaturar, ou seja, confeccionar esse curativo através dessa técnica que é muito atual, inovadora, que é a impressão 3D, que traz uma série de vantagens. Não tem na literatura, nem em patentes", disse Ana Claudia.

A professora explicou que o colágeno é a proteína mais abundante do corpo, motivo que fez com que os pesquisadores optassem por usar esse bioativo da pele de peixe, que apresenta compatibilidade com o tecido humano , ou seja, não tem contraindicação.

"Na verdade, pode ser utilizado qualquer tipo de peixe, qualquer tipo de pele que seja de mamífero [porque] tem colágeno. A gente utiliza um peixe específico, o linguado, que a gente escolheu pela disponibilidade dele. Então é mais fácil de conseguir", explicou.

Outros tratamentos que utilizam a mesma matéria-prima, de acordo com Ana Claudia, usam a pele dos peixes na íntegra, sem a extração do colágeno. Dessa forma, existe a possibilidade de contaminação, podendo prejudicar a ferida.

A pele do peixe geralmente é descartada, o que gera menos resíduo e custo ao tratamento. "Todo o processo, reações [químicas] que a gente precisa utilizar para extrair o colágeno da pele também é simplificada quando comparado com processos usados para extrair colágeno da pele de boi".

"Ninguém utiliza a pele do peixe, retira essa peixe e joga fora. A gente utiliza material que seria descartado, jogado fora, e faz o reaproveitamento para que isso seja feito fonte de colágeno", disse.

Após a extração da pele do peixe, os pesquisadores fazem a limpeza da mesma, que é submetida a tratamentos com ácidos para que as impurezas sejam eliminadas. "A partir do momento que a gente submete essa matéria-prima a esses protocolos, a gente tem no final desse processo o colágeno".

A partir das fibras desse colágeno, os pesquisadores fazem o material para ser impresso em 3D. Em seguida, o equipamento é programado para imprimir os curativos no formato desejado. A pesquisa está na fase de testes em animais e a expectativa é que, em breve, seja testada em seres humanos.

Ana Claudia disse que são vários modelos experimentais testados em lesões cutâneas em ratos. Segundo ela, os que receberam o tratamento se recuperaram 50% mais rápido que os outros.

"O tecido cutâneo geralmente cicatriza rápido, então a gente compara em 7 e 14 dias com o controle que não recebe tratamento. A gente vê uma aceleração muito maior no processo de reparo tecidual nos animais tratados", disse.

Nos ratos não é possível a avaliação da dor pela necessidade da administração de analgésicos e anti-inflamatórios por questões éticas, mas a pesquisadora afirmou que o curativo também terá a função de aliviar as dores em humanos.

"A intenção é que diminua a dor porque limita a infecção, acelera o processo de reparo, impedindo que aquela área fique aberta e sujeita a outra lesão. Então, por essa oclusão pode ser considerado como um fator de proteção e que, consequentemente, alivia essa dor", afirmou.

A pesquisa tem apresentado resultados bons e está em fase de finalização da análise dos resultados para posteriormente ser publicada. O projeto, que tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), também é coordenado pela professora Renata Neves Granito.