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UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas

Acordo visa construção de um centro de pesquisa em biocombustíveis para aviões (1 notícias)

Publicado em 27 de outubro de 2011

Por Luiz Sugimoto

Uma universidade paulista, ainda a ser escolhida, vai receber um centro de pesquisa voltado ao desenvolvimento de biocombustíveis para aviões. Carta de intenção para colaboração nesse sentido foi assinada pela Fapesp e as fabricantes Boeing e Embraer, durante cerimônia na quarta-feira em São Paulo. O novo centro seguirá o modelo dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da agência de fomento paulista, criados para a realização de pesquisas na fronteira do conhecimento.

A primeira parte do projeto, que vai durar de 9 a 12 meses, será liderada por Luís Augusto Barbosa Cortez, coordenador-adjunto de Programas Especiais da Fapesp e professor da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp, que terá como pesquisador associado Francisco Nigro, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). "Vamos realizar um estudo que chamamos de roadmap - um mapeamento das pesquisas relacionadas com a produção (tanto na fase agrícola como industrial) e também de aspectos ligados à distribuição. Pretendemos identificar possíveis rotas tecnológicas e também os desafios e barreiras à pesquisa", explica Cortez.

Luís Augusto Barbosa Cortez, da Feagri, vai coordenar o mapeamento de pesquisas sobre produção de biocombustíveis É este estudo que pautará o edital para selecionar a sede do centro. O horizonte estabelecido para o projeto é de 11 anos, prazo que o pesquisador da Unicamp considera razoável, já que alguns desenvolvimentos serão demorados. "Estamos tratando de um assunto que interessa ao mundo todo e, se o Brasil conseguir dar uma contribuição significativa, vai ser estrategicamente importante para o país. Fico feliz que a Fapesp peça ajuda às universidades. Nesse período de nove a doze meses vamos abrir tecnologias, identificar os problemas, fazer visitações e montar workshops para coleta e avaliação de dados."

Luís Cortez afirma que as empresas de aviação estão realmente interessadas na produção de um combustível com menor emissão de gás de efeito estufa, acima de possíveis vantagens econômicas. "Um litro de querosene resulta na mesma quantidade de CO2 emitida. A Boeing estima que a aviação (civil e militar) responde por 2% do combustível consumido no mundo, mas esse índice pode chegar a 5%, dependendo de como se faz o cálculo. Uma cifra de 5% de biocombustíveis o Brasil poderia atender praticamente sozinho."

O desenvolvimento de biocombustível vai depender de variáveis como a matéria-prima, a forma de produção e o modo de transporte, ou seja, da história do produto, que os especialistas denominam análise de ciclo de vida. "Teremos que fazer muitas contas relativas, como no caso da fase agrícola, a plantio, colheita, uso do trator, etc. E, principalmente, atender às rígidas exigências da indústria aeronáutica: o combustível não pode, por exemplo, congelar ou ter sua viscosidade alterada e causar um entupimento, já que para o avião não existe acostamento."

Cortez adianta que o etanol não seria muito adequado, por causa da baixa densidade energética, que representaria problemas de autonomia num voo de São Paulo a Nova York. "Já a cana-de-açúcar, em si, é uma boa candidata, sendo a cultura mais energética que possuímos, enquanto a soja não é tanto. Em termos de óleos vegetais, o melhor comportamento é do dendê, mas muitos desconhecem que sequer somos autossuficientes no produto - os maiores produtores são a Malásia e a Indonésia."

Na opinião do professor da Feagri, o foco estará em um querosene bastante parecido com o atual, mas de origem biológica, independente da matéria-prima - vegetal, fibra, açúcar - ou da tecnologia utilizada. "Temos várias rotas, como a transesterificação, capaz de tornar o biocombustível bastante limpo; o diesel ou querosene obtido a partir da sacarose da cana com o uso de levedura geneticamente modificada; ou a gaseificação de fibras de restos de culturas e posterior uso de catalisadores para sintetizar o combustível. Os maiores problemas, portanto, não são de ordem técnica. O biocombustível terá que atender às especificações da indústria aeronáutica e, atendendo, vai funcionar."

Subsídios para desenvolver o projeto também não faltarão, pois a Fapesp já identificou pelo menos 500 pesquisadores trabalhando direta ou indiretamente com bioenergia no Estado de São Paulo. Entretanto, um grande obstáculo apontado por Luís Cortez diz respeito à logística. "Ainda não sabemos como será a produção e distribuição. Um avião que vai para os Estados Unidos ou Ásia terá que encher novamente o tanque para voltar. É preciso haver uma logística mundial, com os outros países também produzindo biocombustíveis - e que sejam equivalentes, podendo substituir outro a qualquer momento. Não enxergo a possibilidade de apenas o Brasil produzir e distribuir para o mundo."