Uma das vantagens do acordo de cooperação tecnológica que o presidente Fernando Henrique Cardoso vai assinar com a Índia, em sua atual visita ao país, é que o Brasil será capacitado a aumentar quatro vezes o potencial de uso do urânio como combustível nuclear. O memorando de entendimentos, com sete pontos de intercâmbio na área da energia nuclear, terá validade de cinco anos, durante os quais os dois países trocarão programas científicos, tendo em vista a agricultura, a conservação de alimentos, a segurança de reatores, a proteção radiológica e a defesa do meio ambiente. Ontem, em Nova Deli, Fernando Henrique fez questão de lembrar que a tecnologia será utilizada para fins exclusivamente pacíficos, como exigem os tratados internacionais assinados pelo país.
SAI O ACORDO NUCLEAR
DORA KRAMER - Enviada especial
A cooperação com a Índia pode capacitar o Brasil a aumentar quatro vezes seu potencial de uso do urânio como combustível
NOVA DELI — Um acordo de cooperação tecnológica com a Índia poderá capacitar o Brasil a aumentar em quatro vezes seu potencial de uso do urânio como combustível nuclear. Durante a visita do presidente Fernando Henrique Cardoso a Nova Deli e Bombaim, os dois países vão assinar um memorando de entendimentos que contém sete pontos de intercâmbios possíveis na área da energia nuclear.
O ponto mais importante diz respeito ao uso do tório, mineral que pode ser transformado em urânio — uma tecnologia de que a Índia dispõe. Não se trata de acordo para fornecimento de combustível, uma vez que tanto o Brasil quanto a Índia têm reservas do mineral.
Segundo o presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Mauro José Esteves — que acompanha, com sua equipe, a comitiva presidencial —, o Brasil tem um milhão de toneladas de tório e 300 mil toneladas de urânio.
Salvaguardas — O presidente Fernando Henrique confirmou o interesse do Brasil em adquirir essa tecnologia, mas acentuou que seu uso será exclusivamente para fins pacíficos.
De acordo com o ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Ronaldo Sardemberg, esse memorando estará submetido às necessárias salvaguardas internacionais. O Brasil é signatário do tratado de Tlatelolco, que limita aos países da América Latina o uso da energia nuclear para fins não bélicos. Existe também um compromisso bilateral com a Argentina.
A Índia não está submetida a esse tipo de compromisso e nem tem com seus paises vizinhos — China e Paquistão — uma relação de natureza tão pacifica quanto a que cerca as nações latino-americanas.
O governo indiano, no entanto, assegura que seu interesse limita-se ao uso de material radiativo em projetos científicos que não incluem armamentos.
Intenções — O memorando de entendimentos terá validade de cinco anos, ao longo dos quais Brasil e Índia estabelecerão programas de cooperação para os seguintes usos, além da transformação do tório: aplicação de radioisotropos na agricultura, conservação de alimentos, defesa do meio ambiente, proteção radiológica, segurança de reatores e fornecimento de equipamentos nucleares. Recentemente, o Brasil assinou com a China um acordo para o fornecimento de equipamentos e, com Cuba, para a aplicação de radioisótopos no combate ao câncer.
Como o memorando é um documento de intenções, ainda não há verbas nem cronogramas estabelecidos para o desenvolvimento dos programas.
Notícia
Jornal do Brasil