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Vale Paraibano

Acordo estimula pólo tecnológico (1 notícias)

Publicado em 14 de julho de 2002

Por Eric Fujita
Uma parceria firmada entre a Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica) e Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) está injetando R$ 19,9 milhões na modernização dos institutos de pesquisa que desenvolvem projetos na área de tecnologia para o setor aeronáutico. A iniciativa beneficia o ITA (Centro Técnico Aeroespacial) e o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), ambos em São José dos Campos. Os dois institutos tiveram quatro pesquisas no setor aprovadas pela Fapesp. Três projetos são do CTA - dois do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e um do IAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço) - e um do Inpe. O investimento integra um programa denominado Picta (Parceria para Inovação em Ciência e Tecnologia Aeroespacial). Do montante aplicado, R$ 9,1 milhões são da Embraer e R$ 10.8 milhões da Fapesp. Criado em 2000 pela fundação, o objetivo é aproximar os pólos de pesquisa da Embraer, para estimulá-los a elaborar novas tecnologias no segmento. Essa parceria foi feita como uma forma de "segurar" a empresa no Estado, dando apoio no setor tecnológico (leia texto nesta página). Além das pesquisas aprovadas e já em andamento, outros três projetos estão sendo analisados pela fundação. No entanto, o conteúdo desses trabalhos não foi revelado. O diretor científico da Fapesp, José Fernando Perez, afirmou que investimentos desse porte vão ajudar na criação de uma cadeia produtiva no setor aeronáutico no Estado. "É um incentivo para os institutos desenvolverem novas pesquisas no setor. As inovações fazem a Embraer deixar de buscar tecnologias fora do país. Temos muitos pólos tecnológicos capazes de elaborar trabalhos com a mesma qualidade de primeiro mundo." PROJETOS - O primeiro projeto aprovado pela Fapesp é do IAE. A pesquisa consiste na modernização do laboratório de ensaios aerodinâmicos do instituto, o túnel de vento, do CTA, na construção de uma outra unidade como essa no ITA e aquisição de novos equipamentos para o laboratório da USP (Universidade de São Paulo), em São Carlos. O túnel de vento é usado para fazer simulações de vôo em um modelo de avião, com todas suas características em tamanho menor, para determinar as características aerodinâmicas da aero-nave. O coordenador do projeto, major Olympio Achilles de Faria Mello, explicou que o projeto consiste em instalar novos equipamentos e de última geração para reduzir pela metade o tempo de desenvolvimento do projeto das aeronaves da Embraer. "Hoje, um projeto de um novo avião demoraria pelo menos três anos até a montagem do protótipo. Com a modernização, poderia diminuir esse tempo para um ano e meio." Outro projeto, do Inpe, prevê o desenvolvimento de uma tecnologia que otimizará os ensaios em vôos para certificação dos aviões da empresa. Trata-se de um sistema GPS (Global Positioning System) diferencial, o DGPS. O sistema é baseado em dois receptores, um no avião e outro em uma base, que corrige os sinais enviados pelo satélite e reduz a margem de erro do sistema de 30 para 3 metros na rota de vôo feita pelo piloto. O coordenador projeto, Hélio Koiti Guga, disse que o piloto receberá na cabine informações em tempo real sobre o posicionamento da aeronave, através de sinais de satélite. Segundo ele, o uso do DGPS diminuirá horas de trabalho requeridas para análise de dados de vôo, pouso e decolagem. O ITA vem trabalhando em projetos que utilizam números para simular vôos. Uma das pesquisas é o uso da Mecânica dos Fluídos Computacional (CFD, em inglês). O sistema consiste em simulações numéricas no modelo do avião em desenvolvimento para fazer ensaios de aerodinâmica, antes dele ir para o túnel de vento. O outro trabalho do ITA é reproduzir em uma simulação numérica todos os parâmetros relacionados ao comportamento do avião em vôo. Com esses modelos, a Embraer terá mais dados de suas aeronaves e reduzirá o número de ensaios. PROGRAMA DÁ SUPORTE PARA EMBRAER A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) firmou essa parceria com a Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica) como parte de um acordo do Governo do Estado para evitai- a saída da empresa de São Paulo. A medida foi definida pelo então governador Mário Covas, em junho de 2000, como uma forma de colaborar na implementação de um pólo no setor aeronáutico no Estado para dar suporte à Embraer. Naquela época, a empresa procurava um novo local para instalar sua nova fábrica Com os incentivos dados pelo Estado, a companhia escolheu Gavião Peixoto, na região de Araraquara (SP) paia construir a unidade. O diretor científico da Fapesp, José Fernando Perez, afirmou que a fundação encontrou nessa parceria uma forma de dar um apoio tecnológico à Embraer, em vez de incentivos fiscais. "Esse tipo de apoio é aceito até pela OMC (Organização Mundial do Comércio) por ser um subsídio que não traz qualquer tipo de problema, como acontece em ajudas financeiras." Ainda dentro desse acordo, o Estado cedeu por 35 anos o terreno de 17,5 milhões de metros quadrados em Gavião Peixoto e instalou infra-estrutura de redes de água, luz, esgoto e estradas até a porta da fábrica. SINDICATO VÊ PARCERIA COM RESSALVAS O presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Ciência e Tecnologia de São José dos Campos, Francisco Conde, considerou positiva a parceria entre a Embraer e Fapesp, que financia projetos no setor aeronáutico. Para ele, a iniciativa terá resultado desde que o dinheiro seja destinado para os projetos determinados previamente o parte da verba não seja enviada para outros projetos em andamento tanto no ITA (Centro Técnico Aeroespacial), quanto no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). "Essas pesquisas também não podem influenciar no andamento dos outros projetos já em desenvolvimento nos dois institutos. Senão, os demais trabalhos poderão ficar comprometidos." Conde disse ainda que o maior medo do sindicato é que alguns projetos que já sofrem dificuldades não saiam do papel por causa dessas pesquisas com dinheiro. "Os institutos também não podem permitir o esvaziamento dos outros projetos por parte de pesquisadores, que poderão se deslocar para os trabalhos aprovados e financiados pela Embraer." OS PROJETOS FINANCIADOS PELA EMBRAER Nome: Túnel de vento Objetivo: Modernizar a simulação dos ensaios aerodinâmicos dos modelos da Embraer para reduzir o tempo do projeto de desenvolvimento do novo avião Nome: Mecânica de Fluídos Computacional para Aeronaves (CFD) Objetivo: Fazer testes nos modelos desenvolvidos pela Embraer através de simulações numéricas Nome: DGPS Objetivo: Reduzir a margem de erro das rotas traçadas no teste do avião, mostrando em tempo real para o piloto sua localização exata através de informações enviadas por satélite Nome: Algarítmos e Aplicações a Dados de Ensaio em Vôo Objetivo: Reproduzir numa simulação numérica todos os parâmetros relacionados ao comportamento do avião em vôo Fonte: Fapesp BRASIL E EUA AMPLIAM COOPERAÇÃO TÉCNICA São José dos Campos Brasil e Estados Unidos estão prestes a ampliar a cooperação tecnológica que envolve alguns dos principais projetos desenvolvidos no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em São José dos Campos e Cachoeira Paulista. No mês passado representantes do Inpe, da AEB (Agência Espacial Brasileira), da Nasa (agência espacial dos Estados Unidos) o da Noaa - a agência norte-americana voltada para estudos oceânicos e da atmosfera - se reuniram na sede da AEB, em Brasília, para discutir as propostas apresentadas. Uma das principais propostas prevê a recuperação de dados históricos relativos ao território brasileiro fornecidos pelos satélites norte-americanos da série Landsat. O Inpe dispõe de um banco de dados com informações sobre áreas de cultivo agrícola, desmatamento na Amazônia e crescimento urbano em várias partes do país. Estão disponíveis dados desde 1974, ano em que o Brasil começou a receber as informações fornecidas pelo Landsat, cujo primeiro satélite da série foi lançado dois anos antes. O acervo está gravado em fitas magnéticas que precisam ser copiadas em CD Rom para que os dados possam ser acessados. O Inpe pediu o apoio da Nasa que deverá regravar o material ou fornecer o equipamento para a produção das novas cópias, segundo o chefe da divisão de sensoriamento remoto do Inpe, o pesquisador José Carlos Epiphanio. "Esses dados poderão mostrar por exemplo a evolução do desenvolvimento agrícola no Centro-Oeste", disse o pesquisador. Outra proposta brasileira feita aos norte-americanos durante o encontro em Brasília envolve o projeto Pirata, cuja sigla em inglês significa Rede Piloto de Pesquisa no Atlântico Tropical, do qual o Inpe também participa. O Inpe e a Nasa também analisam a possibilidade da instalação de um canal direto de telecomunicações entre o NCEP (National Center for Environmental Prediction) e o CPTEC (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos), em Cachoeira Paulista.