Três contêineres contendo 600 mil escudos faciais produzidos nos Estados Unidos devem desembarcar nas próximas semanas no Brasil. A articulação que vai permitir que a doação, equivalente a R$ 10 milhões, chegue aos profissionais de saúde brasileiros envolve uma empresa norte-americana, fabricante dos equipamentos de proteção individual (EPIs), professores da Universidade de São Paulo (USP) e organizações que vão distribuí-los em diversos estados.
Os face shields, como também são chamados esses equipamentos, serão inicialmente armazenados na Faculdade de Medicina (FM) da USP, de onde serão distribuídos para o interior de São Paulo e a outros 17 estados. Uma equipe da FM-USP está cuidando dos trâmites da importação do material, que deve chegar ao Porto de Santos.
Os escudos faciais foram fabricados pela empresa norte-americana LTA, do ramo de aeronaves não tripuladas. A iniciativa partiu de um executivo da empresa, que tem um laboratório de pesquisa e desenvolvimento no Vale do Silício, na Califórnia, e que integra o programa SPARK. Fundada na Universidade Stanford, a iniciativa SPARK tem como objetivo reunir pesquisadores e empresas a fim de levar para o mercado inovações criadas na academia.
O executivo fez contato com o pesquisador brasileiro Julio Cesar Batista Ferreira, professor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, membro do SPARK Global e fundador do SPARK Brasil. Desde o ano passado, Ferreira é professor visitante na Universidade Stanford, onde desenvolve o projeto “Mecanismos envolvidos na mitofagia induzida pelo exercício físico: uma nova estratégia no processo de descoberta de fármacos”, apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
“Em uma das reuniões do SPARK, ele perguntou se eu poderia ajudá-lo a encontrar uma instituição brasileira que pudesse receber esses equipamentos, uma vez que a LTA tinha um milhão de unidades em estoque e verba para fazer o transporte para o Brasil”, diz Ferreira, que atualmente coordena um projeto de pesquisa que busca compreender a atuação de peptídeos da mitocôndria nas doenças cardíacas, à Agência Fapesp.
Linha de produção
A LTA havia aberto, meses antes, um programa para produzir EPIs para serem doados. Foi também graças a doações de recursos que a empresa montou uma linha de produção dos EPIs para atender demandas dos Estados Unidos e posteriormente China e países da Europa. Com o aumento dos casos na América Latina, a região ganhou foco na campanha da empresa.
“Eles produzem, arcam com todo o custo de transporte e entregam no país onde há a demanda”, explica Ferreira, que inicialmente fez contato com a FM-USP, onde o diretor Tarcísio Eloy de Barros Filho colocou uma equipe à disposição para receber o material e cuidar dos trâmites legais, além de oferecer um espaço para armazenar o material.
Uma parte dos EPIs vai suprir a demanda dos hospitais ligados à própria USP, como o Hospital das Clínicas e o Hospital Universitário, na capital, e o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto.
“Em épocas de crise como a que vivemos atualmente, temos observado algumas ações de solidariedade que chegam a ser comoventes como essa”, diz Barros Filho à Agência Fapesp.
Outra parte do material será distribuída nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo; Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul; Goiás e Mato Grosso do Sul; Sergipe, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Ceará e Paraíba; Pará e Amazonas. O material já foi embarcado e deve chegar ao Porto de Santos em cerca de 20 dias.
Fonte: Governo do Estado de São Paulo