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Abuso de medicamentos e lotação de UTIs na pandemia, levaram a um surto de fungo resitente no Brasil (34 notícias)

Publicado em 04 de novembro de 2022

Por O Globo

Uma nova linhagem do fungo Candida parapsilosis — resistente ou tolerante a duas das principais classes de fármacos antifúngicos — causou o maior surto provocado por uma mesma cepa já registrado por pesquisadores brasileiros. A situação alarmante ocorreu em uma unidade de terapia intensiva (UTI) de Salvador, Bahia, entre 2020 e 2021, durante um dos picos da pandemia de Covid-19. Este patógeno invade a corrente sanguínea e pode levar à morte.

O ocorrido foi descrito em um estudo publicado a revista Emerging Microbes and Infections. O trabalho alerta para o possível surgimento de novas linhagens resistentes no futuro, bem como para a necessidade de práticas que ajudem a evitar infecções fúngicas nos hospitais.

“Nesse estudo, 90% dos pacientes infectados por essa espécie de Candida tinham cepas resistentes ou tolerantes a fármacos representantes das duas principais classes de medicamentos antifúngicos utilizados para tratamento de candidíase invasiva, o fluconazol e as equinocandinas. Dentre esses pacientes, quase 60% foram a óbito”, disse Arnaldo Colombo, professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp) e coordenador do estudo, apoiado pela FAPESP à agência de notícias do fundo que ajuda a financiar pesquisas.

Para o estudo, foram isoladas 60 amostras de Candida parapsilosis de 57 pacientes internados na UTI por conta de Covid-19 grave. Análises genéticas mostraram que 51 (85%) dos isolados resistentes a fluconazol pertenciam a um mesmo cluster, ou seja, tinham o mesmo ancestral comum. Uma parte deles era ainda tolerante a equinocandinas, classe de medicamento usada contra isolados de Candida resistentes a fluconazol.

O termo resistência se refere à capacidade do microrganismo de se multiplicar mesmo na presença do medicamento administrado. Por sua vez, a tolerância ocorre quando o antimicrobiano atua reduzindo o crescimento do microrganismo, mas não consegue matar o patógeno.