Abacate pode ser utilizado na produção de biocombustíveis, porém a extração e processamento dessa matriz dependem de pesquisas e tecnologias avançadas. Do fruto podem ser extraídas duas matérias-primas para a produção de energéticos, o óleo, da polpa, e o álcool etílico, do caroço. A conclusão é de um estudo realizado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
De acordo com o coordenador do projeto, o professor Manoel Menezes - do Departamento de Química da Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista (Unesp) -, o potencial do produto já era conhecido, principalmente em relação ao teor de óleo existente na polpa, entretanto o objetivo da pesquisa era avaliar a viabilidade de inserir o abacate na produção de biocombustível.
Ao analisar o caroço, constatou-se a possibilidade de obter álcool através de sua concentração de amido, em 20%. Para Menezes, esse resultado já é uma vantagem, pois da soja se extrai o óleo, e ele é adicionado ao álcool anidro. Mas os levantamentos sobre o álcool ainda são modestos e necessitarão de mais pesquisas.
O abacate e a soja são semelhantes em dois aspectos; além da retirada de duas matérias-primas - da soja se extrai o óleo e a torta, que dará origem ao farelo usado na alimentação animal -, ambos podem ser cultivados em todo país. O abacateiro pode ser plantado até em terrenos acidentados, com produção contínua ao longo do ano.
O estudo não avaliou a viabilidade econômica do energético e faltam pesquisas para aprimorar a tecnologia e equipamentos de produção, o que deverá baratear os preços no futuro. Atualmente, pequenos agricultores, comercializam o fruto por valores que vão de R$0,5 a R$0,20.
Concorrência alimentar
Um dos questionamentos para a produção de biocombustível diz respeito a segurança alimentar. Na avaliação de Menezes, a produção do energético a partir do abacate não concorre com o alimento em relação às áreas cultivadas.
Ele pondera que a cultura brasileira de abacate é relativamente pequena, comparada ao espaço territorial disponível para agricultura. Além disso, segundo ele, no Brasil o consumo de abacate é relativamente baixo e grande parte da produção é exportada para países da Europa, África do Sul e aos EUA. O Brasil é o terceiro maior produtor mundial do fruto, com uma média anual de 500 milhões de unidades.
Produção
O teor de óleo extraída da polpa do abacate fica em torno de 5% a 30%, dependendo da espécie. No Brasil, segundo Menezes, há quatro espécies, porém, os frutos utilizados para a pesquisa, da região paulista de Bauru, possuem concentração de óleo que variam de 15% a 16%. Esse percentual se aproxima à concentração de óleo do grão de soja, que fica entre 18% a 20%.
Com base nesses dados, o pesquisador projeta uma produção entre 2.200 e 2.800 litros de óleo por hectare de abacate. Pelas contas das oleaginosas atuais, o abacate apresenta produção elevada quando comparado ao óleo de soja, 440 a 550 litros por hectare; a mamoma, 740 a 1.000 litros por hectare; o girassol, 720 a 940 litros por hectare, e algodão 280 a 340 litros por hectare.
Tecnologia
Um dos problemas desse fruto é o seu teor de água, em média 75%, pois prejudica o processo de extração do óleo. A metodologia de separação que apresentou melhores resultados foi de desidratação. Neste processo, o fruto, após a secagem em um forno, é moído e prensado, seguido de um processo chamado de suspensão com solvente e centrifugado.
Para transformar o óleo vegetal extraído em biodiesel, o produto passa por purificação, etapa necessária para separar os fosfolipídios. Após purificado, segue o procedimento de síntese de biodiesel, por meio de transesterificação e pela caracterização por cromatografia gasosa, técnica exigida pela Agência Nacional de Petróleo Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O resultado é um biodiesel semelhante ao extraído da soja em termos de viscosidade, podendo ser usado até como B100 (puro). Por falta de tecnologias avançadas para o processamento, boa parte do óleo é exportado.
Com relação ao álcool produzido pelo caroço, as pesquisas ainda estão em andamento. Entretanto é possível projetar uma produção de 74 litros de álcool por tonelada de caroço processado, resultado próximo ao da cana-de-açúcar, de 85 litros por tonelada. Nesta fase da pesquisa, foi testada a técnica de hidrólise enzimática, que permitiu uma produção de apenas 24 litros por tonelada.
Cadeia sustentável
O professor acredita que a cadeia do biocombustível a partir do abacate pode ser sustentável em todos os seus elos, permitindo um aproveitamento total do produto. Em relação ao resíduo do caroço do fruto, ele diz que pode ser aplicada uma técnica para prensar e utilizar como carvão. O insumo poderia ser utilizado, até mesmo, na geração de calor exigida no processo de produção de biodiesel, que muitas vezes é feito por fontes fósseis.
A utilização da glicerina resultante da produção de óleo, o que ainda é um obstáculo a ser superado na produção de biodiesel, também é vista como oportunidade por Menezes. Por não ser tóxica, poderia ser utilizada no aquecimento a vapor, pela técnica de banho térmico. Ele ressalta, porém, que essas são possibilidades, que carecem de estudos e desenvolvimento de tecnologias para serem plenamente aplicadas.
Notícia
Agência Dinheiro Vivo