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Jornal da Tarde

A USP prejudicada (1 notícias)

Publicado em 07 de fevereiro de 2002

Por Gilberto Tadeu Shinyashiki
Em artigo publicado no JT, o professor Marco Aurélio Nogueira, da Unesp de Araraquara, expõe o problema da ampliação de vagas das universidades públicas paulistas; afirma que a distribuição de recursos adicionais, feita pela Assembléia Legislativa, em virtude da qual "a USP e a Unicamp sentiram-se prejudicadas", deve-se ao fato de a Unesp ter apresentado um "plano mais adequado" com a criação de novas vagas, sete novos campi e interiorização da reitoria; e sugere, tendo como premissa os números de docentes, funcionários e alunos, que as diferenças entre as três universidades poderiam servir de base para justificar ajustes quantitativos na divisão dos recursos orçamentários. É óbvio que o número de vagas oferecidas por USP, Unesp e Unicamp não atende aos anseios da sociedade. Isso tem sido objeto de constante reflexão e estudo por parte das universidades, a ponto de o Conselho de Reitores ter proposto, em 2001, um projeto de ampliação de vagas. E mais, complementando o que relata o professor, se a Unesp "abriu mais de 500 vagas já para 2002" e "inaugurou um novo câmpus em São Vicente", a USP abriu 457 vagas e inaugurou o câmpus II de São Carlos com o curso de Engenharia Aeronáutica. No que diz respeito à comparação de números de alunos, funcionários e docentes, alguns comentários tornam-se imprescindíveis. Os números apresentados são muito diferentes dos publicados nos anuários estatísticos das universidades. O docente afirma que a USP possui 6.600 professores. De acordo com o anuário de 2001, o número real é de 4.694. Assevera que a USP tem 56 mil alunos. O mesmo anuário informa que o número de alunos de graduação e de pós-graduação stricto sensu é de 62.100. Equivoca-se, também, quando se refere à sua própria universidade, visto que, tendo como base o anuário de 2001, a Unesp conta com 3.141 docentes e não 4200, e emprega 7548 funcionários, e não 9 mil. São dados públicos e de fácil acesso, cuja falta de consulta surpreende. Qualquer comparação é eficiente quando parâmetros semelhantes são considerados. Nos pontos relatados pelo professor, por exemplo, não são ponderadas a composição do quadro de pessoal e as atividades diversas desenvolvidas, muito mais exigentes na pós-graduação que na graduação. Um dado constante nos anuários estatísticos, entretanto, tem de ser contemplado: a existência de hospitais universitários mantidos com orçamento própria. O Hospital das Clínicas da Unicamp tem o papel fortemente vinculado ao atendimento da comunidade e emprega 2251 funcionários, que não se dedicam às atividades de ensino, mas fazem parte do quadro de 7583 servidores. O mesmo se aplica ao Hospital Universitário da USP, que tem 1.764 servidores voltados ao atendimento de saúde da região do Butantã e estão incluídos no total de 14.184 funcionários. O Hospital das Cínicas de Botucatu onera o orçamento da Unesp com 478 funcionários. Tendo em vista as atividades de ensino, a comparação dos quadros de pessoal sem a dedução do número de tais servidores não me parece razoável. Sem levar em conta que a USP é uma universidade de pesquisa, dispõe do maior programa de pós-graduação do Brasil, mantém quatro museus - incluindo o Museu do Ipiranga -, está distribuída em seis campi no Estado, abriga cinco projetos Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) entre os dez patrocinados pela Fapesp (e participa praticamente em todos), e é sede de seis Institutos do Milênio, entre os 15 escolhidos nacionalmente pelo MCT, comparemos simplesmente os números brutos, conforme sugere o professor Nogueira. A USP dispõe de 0,20 funcionário por aluno, ao passo que na Unesp tal relação é de 0,22 A partir dos dados publicados nos anuários das duas universidades, obtêm-se indicadores relevantes. Dividindo-se o número de funcionários (exceto os de hospital) pelo total de alunos, a USP dispõe de 0,20 funcionário por aluno, ao passo que, na Unesp, tal porcentagem é de 0,22. Considerando-se o número de docente pelo total de alunos, na USP esse indicador é de 0,08 e, na Unesp, 0,10. Na graduação da USP, a relação de alunos por docente é de 0,12, e na Unesp, 0,13. Na pós-graduação chega a 0,21 na USP e 0,37 na Unesp, Observando-se tais quocientes, conclui-se que a supressão dos recursos orçamentários destinados à USP não se justifica, em hipótese alguma, porque ela, com menos, tem feito mais. Suprimi-los não faz a USP "sentir-se prejudicada", senão prejudica a todos os que dela esperavam vir a receber o que ela poderia fazer. Gilberto Tadeu Shinyashiki é professor da FEA - Campus Ribeirão Preto e diretor de Recursos Humanos da USP