Em todo o mundo, órgãos do governo financiam projetos sem fins lucrativos. Ao longo da história da humanidade, a universidade tem sido o lugar em que os cientistas, movidos pela curiosidade, desenvolvem o conhecimento fundamental e fazem avançar o domínio do entendimento humano sobre o mundo que nos cerca. Pela especialização em descobrir conhecimento fundamental, as universidades conseguem se dedicar também ao uso do conhecimento.
Essas aplicações são, freqüentemente, bem mais evidentes do que os fundamentos que a elas levaram; isso gera a percepção equivocada de que a principal atividade de uma universidade seja resolver problemas imediatos. Como, muito justamente, as universidades se orgulham toda vez que contribuem para minorar algum problema industrial ou social, cresce a visibilidade destas ações. Mas na base desta capacidade de ter impacto sobre a sociedade, sempre está a competência delas para trabalhar com o conhecimento fundamental e abstrato.
É na universidade também que a atividade do avanço do conhecimento se associa à atividade educacional, para tornar esta última mais efetiva e capaz de formar verdadeiras lideranças intelectuais. O ambiente de uma organização acadêmica que se dedica ao avanço do conhecimento estimula os jovens estudantes a aprender e os ensina a usar a mente segundo as regras do método científico - para entender o mundo e, eventualmente, modificá-lo.
Portanto, a pesquisa na universidade não é mero capricho, elemento de marketing institucional ou objetivo alheio ao ensino, que compete com ele: é atividade essencial para que a educação seja a mais completa possível.
A conexão entre a pesquisa e a educação dos estudantes na universidade agrega à pesquisa acadêmica uma qualidade não existente na pesquisa feita em empresas: o fato de poder ser mais remota sua utilidade ou funcionalidade. No laboratório de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de uma empresa, onde não há a função de educar estudantes, a única razão de ser da atividade de pesquisa é melhorar os produtos ou processos dos quais a empresa depende. Por isso, a pesquisa é de natureza muito aplicada.
Na universidade, há margem para se trabalhar com projetos de pesquisa muito mais exploratórios, especialmente aqueles que tratam dos fundamentos das ciências. No entanto, não seria correto supor a pesquisa "fundamental" como necessariamente desprovida de utilidade prática. Descobertas acadêmicas como a eletricidade, a física atômica, a física quântica, a estrutura do DNA e a engenharia genética tiveram e ainda têm enorme impacto sobre o desenvolvimento econômico e social da humanidade.
No mundo todo, as universidades disputam a primazia, especialmente, das atividades de pesquisa fundamental, mas também da pesquisa aplicada. Os professores pesquisadores são os principais impulsionadores da pesquisa numa universidade - aquelas pessoas treinadas por quase 30 anos para aprenderem como "perguntar à natureza"- na descrição precisa de Isaac Newton. O ponto culminante do treinamento de um pesquisador ocorre quando ele obtém o título de doutor.
Um doutor é alguém reconhecido na comunidade de cientistas acadêmicos como capaz de elaborar e levar a bom termo um projeto de descoberta original sobre a natureza, o homem ou a sociedade. O título não é mera formalidade - para obtê-lo, o candidato demonstra a uma banca de cientistas que soube conduzir, pelo menos uma vez, uma ou mais descobertas originais; e que se mantêm sólidas perante os testes do método científico.
Além de desenvolver seus projetos de pesquisa, pesquisadores bem preparados sabem, também, obter o financiamento necessário para sua realização. Em geral, bons projetos de pesquisa custam caro - requerem instalações, equipamentos, pessoal, materiais - e, em todo o mundo, agências governamentais financiam parcialmente estes projetos em universidades públicas ou em universidades privadas sem fins lucrativos. Muitas vezes, instituições jovens olham para o acervo acumulado em universidades já estabelecidas e deixam de perceber a perspectiva - o fato de aquele acervo de equipamentos, materiais, volumes em bibliotecas ter sido acumulado ao longo de décadas, em projetos de pesquisa executados por doutores e financiados por agências governamentais.
Desenvolver uma base de pesquisa em uma universidade jovem requer esforço continuado durante anos, quase décadas; e a manutenção, no período, de uma massa crítica de doutores dedicados integralmente à pesquisa e ao ensino.
É preciso lembrar das palavras atribuídas a Louis Pasteur: "Não existe ciência aplicada, mas somente aplicações da ciência." O objetivo de aliar a capacidade para fazer tecnologia - e, assim, desenvolvimento econômico e social -, ao já expressivo desenvolvimento da capacidade nacional de fazer ciência, não pode prescindir do forte apoio à ciência fundamental.
Ao contrário: especialmente nos dias de hoje, requer o desenvolvimento mais acelerado da capacidade de gerar ciência fundamental - justamente aquele conhecimento que gera mais conhecimento.
Notícia
Gazeta Mercantil