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Gazeta Mercantil

A ÚLTIMA FRONTEIRA (1 notícias)

Publicado em 29 de setembro de 1995

Por BUSINESS WEEK
Nesse momento o Chile pode ser considerado o mercado de telecomunicações mais agitado do mundo. Em novembro passado, em um esforço para impulsionar o seu sistema de telefonia, problemático e inadequado, o governo chileno abriu a concorrência para os mercados de chamadas internacionais e de longa distância e eliminou as regulamentações sobre as tarifas. O número de empresas servindo os 14 milhões de chilenos aumentou de duas para nove, e a demanda deu um enorme salto. Os chilenos fizeram 10,2 milhões de minutos em chamadas de longa distância entre janeiro e julho, o dobro do volume registrado no mesmo período do ano passado. Os minutos em chamadas internacionais aumentaram 77% no último trimestre de 1994. As receitas das chamadas estão crescendo a uma taxa de 14%, duas vezes mais rápida do que a da economia como um todo. O problema é que ninguém está ganhando muito dinheiro com isso. A abertura do mercado fez com que as tarifas por minuto das chamadas internacionais ficassem muito baratas - a ponto de os chilenos ligarem para a China somente para conhecer o som da voz dos chineses. No primeiro trimestre deste ano, as companhias telefônicas do Chile estavam entre as muitas, no mundo, que,não tinham lucros. Um fator prejudicial é o sistema de cobrança primitivo existente no país: em dezembro, uma mulher recebeu uma conta de apenas US$ 18,00 por sete horas de chamadas internacionais para os Estados Unidos, Malásia, Israel, Inglaterra, Suécia e Austrália. Em julho, uma chamada de 22 minutos para o Canadá lhe custou US$ 180,00. As contas da Telex Chile entregues pessoalmente, só chegam às residências depois do seu vencimento. A Entel, que constituía o antigo monopólio da telefonia de longa distância do país, enviou para os seus assinantes quatro contas de telefone mensais distintas em um período de cinco semanas. Portanto, quem gostaria de atuar no mercado chileno? O que você diria da BellSouth, Bell Atlantic, SBC Communications, STET, da Itália, Telefônica de Espana e Samsung Group? Essas empresas já entraram no mercado chileno, e a Sprint e a MCI Communications podem decidir em breve a entrar nessa onda. A Bell-South, que viu a sua participação no mercado chileno de telefonia de longa distância dobrar no período entre janeiro e julho, alcançando 7%, tem planos para investir cerca de US$ 300 milhões no país por volta do ano 2000. "Nós sabíamos que seria difícil entrar no mercado chileno, e isso se confirmou," afirma Gerald Breed, diretor-geral da BellSouth no Chile. Essa é a vida nos lugares em que a revolução na área da informação foi esquecida. Da América do Sul até a África, Ásia e Leste europeu, as economias menos desenvolvidas e emergentes em todo o mundo representam a última fronteira para o setor de telecomunicações. Como os problemas chilenos mostram, o caminho em direção a um sistema de telefonia moderno e de amplo alcance é bastante acidentado. Além disso, há problemas ligados às mudanças dos regimes políticos, a colapsos de moeda, corrupção disseminada, surtos imprevisíveis de nacionalismo e, dessa forma, qualquer empresa estrangeira que tem planos para atuar em uma economia emergente tem que estar preparada para resistir aos problemas por um longo período. Afinal de contas, a empresa não pode simplesmente arrancar as suas linhas telefônicas e ir embora quando a situação se complicar. Mas os problemas e os riscos de curto prazo parecem pequenos perto dos ganhos em potencial: os países em desenvolvimento do mundo possuem planos para investir cerca de US$ 200 bilhões nos próximos cinco anos para impulsionar as suas redes de telefonia - como também as suas nações - para dentro do século 21. É certo que o planejamento e o investimento real são duas coisas diferentes. E pode parecer muito mais fácil para as grandes empresas de telecomunicações do mundo permanecerem em casa. A desregulamentação e as novas tecnologias também estão aquecendo o setor de1 telecomunicações nos Estados Unidos e na Europa. Mas essas regiões estão rumando para uma liberalização em pequenos avanços. E, mesmo se o Congresso concordar com um projeto de lei para a desregulamentação do sistema de telefonia, e países como a França e a Alemanha abrirem os seus mercados, não se encontrará nessas regiões o mesmo potencial de crescimento. Para a obtenção de resultados maiores vale a pena se voltar para o mundo em desenvolvimento. Nesse momento, uma grande quantidade de países ricos, com apenas 15% da população mundial, detém 71% das principais linhas telefônicas do mundo. A situação é tão calamitosa que a União Internacional de Telecomunicações (ITU, em inglês) define a existência de um sistema de telefonia para todos em um país quando todas as pessoas deste vivem dentro de um perímetro de 5 quilômetros de distância de um aparelho telefônico. Esqueça a presença de um aparelho em cada cozinha. Diante dessa escassez, os empreendimentos na área de telecomunicações são um tiro certeiro. Apesar de uma recessão disseminada, a demanda constante por mais telefones levou a uma aceleração estável no crescimento anual das linhas-tronco (linha que conecta o assinante ao comutador central) em todo o mundo durante a última década, de 4,5 para 5,2%. Segundo a ITU, o futuro parece ser ainda mais promissor: os países em todo o mundo planejam gastar cerca de US$ 60 bilhões por ano até o ano 2000 para o estabelecimento de 310 milhões de linhas-tronco - dois terços das quais estão planejadas para ser implantadas em países em desenvolvimento. Esses países, que abrigam 80% da população mundial, planejam um aumento no número de linhas telefônicas em uma média de 11,7% ao ano durante os próximos cinco anos, em comparação com a média de 3,7% dos 24 países mais ricos do mundo. A China, sozinha, representa um mercado enorme e um desafio para os fabricantes de equipamentos. O país mais populoso do mundo pretende instalar 100 milhões de linhas digitais por volta do final desta década, dentro de um custo de US$ 40 bilhões. A sua meta: elevar a penetração do sistema de telecomunicações de três linhas para cada cem pessoas para oito linhas no período de cinco anos. Isso significa que o país terá que implantar uma rede do porte da Bell Canada por ano, durante esse período: "A China representa a melhor oportunidade no mundo," afirma James R. Long, presidente de comércio exterior da Northern Telecom do Canadá. "Todos estão tentando entrar no mercado chinês." Tanto na China como no Chile, há uma boa razão para essa excitação no setor de telecomunicações. Os países emergentes percebem que não podem desenvolver as suas economias ou competir realmente nos mercados mundiais sem sistemas de comunicação de primeira linha. E para provar isso, tudo que eles precisam fazer é colocar seu Produto Interno Bruto e o número de linhas telefônicas per capita em um gráfico. Há uma ligação direta entre esses dois fatores: quanto maior o número de linhas telefônicas, maior a renda. Com a economia global se direcionando mais para o setor de serviços, os países que não estão adequadamente equipados em termos de telecomunicações ficarão para trás - especialmente se quiserem ser mais do que "oficinas de fundo de quintal" para o resto do mundo, tendo como meta atrair empresas de alta tecnologia e altos salários. Como um funcionário do governo americano diz: "Se você não estiver conectado à rede global, você não está em lugar nenhum." Cada vez mais, uma infra-estrutura moderna de telecomunicações serve como um fator lubrificante para a máquina da economia de um país. Observe o caso da Turquia. O país começou a modernizar a sua rede de telecomunicações nos anos 80, elevando o número de linhas telefônicas para cada 100 habitantes de 3,5 em 1983 para 16 em 1992. Hoje, a renda das chamadas telefônicas da Turquia é alta o suficiente para pagar pelo desenvolvimento da sua própria rede, eliminando a necessidade de empréstimos externos para escorar o seu sistema de telefonia. A Turquia também desenvolveu um setor de fabricação de equipamentos de telecomunicações, que já exporta comutadores. No mesmo período, o PIB per capita da Turquia aumentou de US$ 1,460 mil para US$ 1,905 mil. OPORTUNIDADES MIL Mas, ainda assim, as nações mais pobres não podem iniciar a modernização das suas redes de telecomunicações sem infusões maciças de investimentos, conhecimentos e tecnologias estrangeiros. Para obtê-los, os países estão afrouxando as suas regulamentações e abrindo as suas portas para companhias de telecomunicações estrangeiras de todos os tipos. Os fabricantes de equipamentos são os primeiros a entrar nesses mercados - AT&T, Motorola e Northern Telecom, da América do Norte; Alcatel Alsthom e Siemens, da Europa; NEC, do Japão. Os países em desenvolvimento podem ter escassez de capital e conhecimentos técnicos, mas eles possuem uma fonte futura de lucros - um fluxo de crescimento constante de receita de chamadas telefônicas, uma vez que o sistema esteja implantado. Em um acordo típico, a fabricante de equipamentos estrangeira, ou a companhia telefônica, financia a rede e, provavelmente, até a administra - recebendo uma parcela garantida nas receitas futuras. As empresas de telecomunicações estrangeiras estão atoladas em meio a oportunidades, nos países em desenvolvimento, para comprar participações acionárias em companhias telefônicas, ganhar licenças para o setor de telefonia celular, ou implantar e administrar uma rede de telefonia por alguns anos antes de transferir o controle de volta ao país. "Há uma grande quantidade de projetos em que nós, fabricantes de equipamentos, temos que assumir uma parcela no risco do fornecimento e instalação dos equipamentos para os países em desenvolvimento," afirma Bert de Grave, diretor de operações da divisão internacional da Alcatel Alsthom. Para os projetos realmente grandes - como a implantação de 3 milhões de linhas na Argentina, por exemplo - os países pretendem vender a companhia telefônica local para uma operadora estrangeira. Mas há uma grande variedade de acordos para projetos menores: empréstimos em condições favorecidas, "joint ventures", acordos de instalação, operação e transferência - os quais estão se tornando comuns para as empresas fabricantes de equipamentos que, nos outros países, simplesmente instalam os equipamentos. BONS NEGÓCIOS A Motorola Inc, por exemplo, é mais conhecida como a maior fornecedora de equipamentos para telefonia celular. Mas em 1988, ela estabeleceu uma unidade para a operação de sistemas no mundo em desenvolvimento, através da formação de "joint ventures" com empresas locais. Atualmente ela opera 20 redes de telefonia. "No início, nós vimos que esse era um bom meio para estimular a venda de equipamentos," afirma Michael Norris, presidente da área de "joint ventures" da Motorola. "Mas, hoje, vemos que a operação é uma boa fonte de receita." Onde estão as oportunidades? Podemos começar com uma lista de países que pretendem vender as suas companhias telefônicas estatais. Há 26 privatizações de companhias telefônicas agendadas para os próximos três anos nos mercados emergentes. Ao mesmo tempo, licenças para novos sistemas de telefonia sem fio estão sendo liberadas em um ritmo bastante acelerado. A Índia, por exemplo, está abrindo licitação para quarenta contratos na área de telefonia celular - duas para cada uma das vinte regiões operacionais. Quando um mercado é aberto, o capital se direciona para ele rapidamente. "Na Europa, eles estão liberalizando o sistema de telefonia para introduzir o sistema de concorrência. No mundo em desenvolvimento, eles estão fazendo o mesmo para levantar capital para a rede," afirma William W. Amabrose, presidente da Pyramid Research Inc., uma empresa de consultoria na área de telecomunicações com sede em Cambridge, Massachusetts, que se especializou em países em desenvolvimento. Todavia, não haverá um fluxo de capital se os governos locais não forem dignos de confiança. Nesse momento, os investidores estão cautelosos em participar das licitações para os contratos de telefonia celular na Índia, pois o governo indiano cancelou abruptamente um contrato de US$ 2,8 bilhões com a Enron Corp. para a construção de uma usina de energia elétrica, embora a construção já tivesse sido iniciada. E, quando um acordo é considerado incerto, o capital se direciona rapidamente para as melhores oportunidades. "Há um volume substancial de capital buscando por oportunidades de investimento", assegura Michael T. Masin, presidente da área de operações internacionais da GTE. BEM-VINDOS OS RISCOS As empresas que fazem as suas opções sensatamente, encontram grandes retornos. As vendas anuais da Northern Telecom na região do Pacífico Asiático triplicaram nos últimos três anos, alcançando US$ 1 bilhão. O investimento de US$ 100 milhões feito pela US West Inc. em uma companhia telefônica russa em 1992 também triplicou em valor. Em 1992, a Nynex Corp, comprou uma participação acionaria de 15% em uma companhia telefônica tailandesa recém-estabelecida, TelecomAsia, por US$ 470 milhões. Na época, os analistas afirmaram que a Nynex estava pagando muito caro pelas ações. Hoje, a sua participação está avaliada em US$ 1,2 bilhão. Negócios como esse abriram o caminho para a Ásia, América Latina e Leste Europeu, que passaram a receber visitas freqüentes de executivos de empresas de telecomunicações de grande e pequeno porte. "Você não pode se dizer um participante nesse setor se você não estiver atuando nos países em desenvolvimento,"coloca Martin Shum, presidente executivo da ACT, Networks Inc., uma empresa fabricante de equipamentos para melhora a capacidade de rede de satélites, com sede na Califórnia. "É nesses países que está o crescimento. É neles que estão todos os seus concorrentes." Mas fazer negócios nas regiões em desenvolvimento exige que certos riscos sejam assumidos, algo que as companhias telefônicas mais conservadoras do mundo industrializado raramente precisam fazer. E os riscos são tanto políticos quanto financeiros. Uma companhia telefônica estatal de um país em desenvolvimento faz muito mais do que apenas transmitir chamadas telefônicas. Freqüentemente, ela é a maior empregadora do país. As tarifas telefônicas podem subsidiar várias coisas, desde escolas até o palácio presidencial. E as receitas das chamadas internacionais - elevadas por grandes sobretaxas - constituem a fonte primária de moedas fortes para os países pobres com um volume pequeno de exportações. "As telecomunicações representam um empreendimento intensamente político, e não apenas por causa do porte do investimento," afirma Ken Zita, consultora da Network Dynamics Inc., uma empresa de consultoria na área de telecomunicações para os países em desenvolvimento, sediada em Nova York. "Há uma série de questões macroeconômicas e políticas, realmente fundamentais, envolvidas." Em alguns casos, a política chegou a conter planos ambiciosos de modernização do setor de telecomunicações. Pegue o Quênia como exemplo, onde o Banco Mundial vinculou um empréstimo para o setor de telecomunicações à uma desregulamentação do mesmo. A companhia telefônica nacional teria que eliminar milhares de empregos para se tornar mais eficiente. "Eles tentaram obter o financiamento fingindo que estavam demitindo os funcionários," segundo Richard Brolly, diretor de operações na Rússia, no Oriente Médio e na África da Sprint Corp. "Tudo isso é uma verdadeira batata quente." Existe também uma sensação inquietante por parte de alguns países de que estão vendendo uma parte valiosa do seu patrimônio para os seus ex-colonizadores. "Nesse momento, os países estão lutando para controlar essa situação," argumenta Long, da Northern Telecom. "Esses países podem ter tido estrangeiros como consultores dentro do setor, mas nunca como proprietários." O nacionalismo pode desacelerar o desenvolvimento: a China, que por muito tempo manteve uma postura de suspeita em relação aos estrangeiros, continua eliminando a possibilidade de qualquer participação acionária, controle operacional ou administrativo por parte de uma empresa estrangeira nas suas empresas de telecomunicações. "Quando eu falo com os chineses sobre investimentos estrangeiros, eles dizem: "Bem, nós estamos estudando essas questões," afirma Surinder Hundal, diretor de relações corporativas para operações na região do Pacífico Asiático da British Telecommunications PLC. "A companhia telefônica é um ativo valioso, e acredito que eles preferem manter o seu controle nas mãos do governo." Todavia, a China começou colocar as suas máquinas em movimento para receber a assistência de empresas estrangeiras. O país criou uma segunda companhia telefônica, a Unicom, para desafiar o monopólio absoluto detido pelo Ministério de Correios e Telecomunicações. A Unicom firmou uma série de memorandos de entendimento, que envolvem participações acionárias minoritárias, com empresas estrangeiras. Mas, segundo um assessor, "esses memorandos nunca valem o papel em que estão escritos". Ahmed Laouyane, diretor do conselho de desenvolvimento da ITU, lamenta: "Não importa o quanto nós nos esforçamos para reduzir essa disparidade, pois as políticas e as estratégias locais e internacionais estão sempre no caminho para atrapalhar." AVANÇOS ANTECIPADOS Ainda assim, o setor de telecomunicações é um provedor de lucros tão garantido que poucas empresas querem sair do setor - principalmente em um mercado do porte da China, da Índia ou da Indonésia. Por volta do ano 2000, 40% da população mundial estarão vivendo apenas nesses três países. Uma outra perspectiva é o Brasil. Ele é a nona maior economia do mundo, mas possui uma densidade de linhas telefônicas de apenas 6,8 linhas para cada cem habitantes. A Rússia também é um mercado bastante promissor, estando na dependência da resolução dos seus principais problemas políticos e econômicos. Além dos gigantes, países como El Salvador ou Bangladesh também estão querendo desenvolver ás suas redes de telecomunicações da forma que podem. Mesmo a África, sede dos países mais pobres do mundo, está começando a atrair empresas estrangeiras. Todavia, nenhum desses países irá implantar sistemas com o uso de equipamentos ultrapassados. Os países em desenvolvimento, livres dos fios de cobre usados há décadas, estão instalando comutadores digitais, linhas de fibra óptica, e a mais moderna tecnologia de telefonia celular. As redes de telefonia mais modernas dó mundo estão em Djibouti, Ruanda, Maldivas e nas Ilhas Salomão, onde 100% das linhas-tronco são digitais, em comparação com 49,5% nos Estados Unidos. Os avanços em tecnologia celular também estão surgindo primeiramente nos países em desenvolvimento, pois a tecnologia permite que eles instalem sistemas de telefonia de última geração em semanas ou meses em vez de gastarem os anos necessários para a instalação de cabos. As empresas de telecomunicações podem usar essas tecnologias de ponta, como satélites digitais ou telefonia sem fio fixa, nas quais a ligação final com a residência em uma rede de fibra óptica é uma conexão celular de baixa potência, não precisando se preocupar em incorporar uma enorme rede já existente. O Chile tem planos para implantar uma rede de serviço de comunicação pessoal sem fio (PCS) em dezembro, vários meses antes da implantação do primeiro sistema nos Estados Unidos. As companhias telefônicas estrangeiras se surpreendem, freqüentemente, com a velocidade com que os países pobres adotam o serviço de telefonia. Coloque um aparelho telefônico, e alguém rapidamente fará uma chamada. Não importa o quão pobre, quando um país implanta a sua rede de telecomunicações, a demanda por telefones e minutos de chamadas aumenta. "O desejo dessas populações para pagar por telefones é muito maior do que se pode imaginar," afirma Roger A. Dorf, presidente da área de sistema de rede de telefonia na América Latina e no Caribe da AT&T. "Em todos os países esses serviços possuem tarifas defasadas." A COBIÇA Portanto, o maior problema para as empresas de telecomunicações não está em achar um lugar para investir, mas sim em decidir qual é o melhor lugar. Gary M. Epstein, um especialista em telecomunicações internacionais do escritório de advocacia Latham & Watkins, sediado em Washington, adverte que as empresas interessadas em entrar em um país em desenvolvimento, cujo mercado de telefonia foi recentemente aberto, decidam, primeiramente, o quanto, em termos de liberalização desse mercado, é suficiente. A maioria das empresas evitaria a abertura total do mercado, como no caso do Chile, preferindo, em vez disso, a implantação gradativa da concorrência, enquanto preparam as redes antiquadas para essa concorrência. A questão mais difícil, todavia, é descobrir onde a oportunidade de investimento possui um preço justo. "Você tem que descobrir a razão do governo para efetuar a venda," acrescenta Epstein. "Devem ser considerados objetivos e metas certos, como o fornecimento de serviço para todos. Se o governo estiver vendendo a companhia telefônica apenas para fazer dinheiro, há muitas chances desse ser um mau negócio." O Paquistão é citado, freqüentemente, como um provedor de maus negócios. O seu governo abriu o capital da companhia telefônica local, vendendo 10% das suas ações no ano passado, e atualmente está buscando por um investidor estratégico. O governo paquistanês avalia a sua empresa em US$ 8 bilhões. Mas com a infra-estrutura fraca do país, a sua pobreza e turbulência política, a "maior parte do mundo não acredita na avaliação do governo", afirma Brolly, da Sprint. Mesmo os acordos que trabalham com preços justos podem se tornar prejudiciais: GTE, AT&T e a Telefônica de Espana aprenderam essa lição muito bem. Elas gastaram US$ 1,8 bilhão na compra de uma participação conjunta de 40% na companhia telefônica venezuelana CANTV, que detém o monopólio do setor. No ano passado, uma crise financeira fez com que o governo venezuelano impusesse controles cambiais, impedindo a CANTV de pagar os detentores estrangeiros de seus títulos da dívida. A empresa não pagou, e o governo também voltou atrás no se compromisso de deixar a CANTV aumentar as suas tarifas a cada três meses para acompanhar a inflação. APELO À PRIVATIZAÇÃO Mas os operadores estrangeiros não se dissuadiram com esse problema. Eles apenas renegociaram a dívida da CANTV, e a GTE afirma que atingiu o ponto de equilíbrio entre o seu investimento e o retorno no final do ano passado. "Você tem que entrar em investimentos como esses tendo em mente que você irá permanecer, e tem que estar pronto para superar alguns obstáculos," coloca Dorf, da AT&T. "É muito fácil dizer que as coisas estão muito difíceis na Venezuela e então cair fora, mas, com essa atitude, a sua credibilidade estaria afetada no restante da região." Isso não é uma boa idéia, dado o grande porte dos mercados da América Latina. As companhias telefônicas da região estão sendo privatizadas e desregulamentadas em uma velocidade maior do que a observada em qualquer outra região, e a América Latina também está recebendo muito bem o investimento estrangeiro. A sofisticação técnica das suas redes de telefonia está entre a maiores do mundo. A Telecom Argentina, a operadora que atua na região norte do país, na qual a France Telecom e a STET da Itália possuem uma participação acionária, tem planos para a implantação de uma rede de telefonia combinada com um sistema de TV a cabo. Mesmo o México, com a crise da sua moeda, que afetou a região como um todo, não chegou a espantar os investidores. A Bell Atlantic e a SBC viram o valor das suas participações acionárias cair, mas a crise forçou o governo mexicano a acelerar a liberalização do seu mercado para levantar capital. "As grandes operadoras dos Estados Unidos ainda estão ansiosas para entrar no mercado mexicano," afirma a analista da Pyramid Research, Linda Barabee. O maior filão da América Latina-Brasil - está próximo do alcance dos investidores. O País tem uma economia em crescimento, 156 milhões de habitantes - e um sistema de telefonia totalmente inadequado. Mário Henrique Simonsen, ex-ministro da Fazenda, comenta: "Se você está no Rio, tentando fazer uma ligação de Ipanema para o bairro de Botafogo, depois de 15 minutos de tentativas frustradas você tem vontade de gritar. "Por favor, privatizem a companhia telefônica!" Em agosto, o Congresso Nacional brasileiro votou exatamente isso, aprovando uma lei para afrouxar o monopólio da estatal Telebrás, permitindo a privatização e o investimento estrangeiro. A privatização das 27 companhias telefônicas regionais da Telebrás poderá ser iniciada em 1997. DESAFIO AO STATUS QUO Além disso, o sistema de telefonia celular deverá ser aberto à concorrência, criando grandes oportunidades de investimento. Cerca de 721 mil brasileiros possuem telefone celular, e 1,5 milhão estão na lista de espera. Estima-se que o número de assinantes deva chegar a 6 milhões por volta de 1998. Na Ásia, enquanto a China e a Índia estão rastejando em direção à liberalização, outros países estão disparados na frente. "Quando você olha para a China e a Índia levando em consideração o volume populacional, as perspectivas realmente são enormes," afirma Roy A. Scholvinck, diretor de operações globais para o grupo de consultoria administrativa EDS, sediado em Los Angeles. "Mas quando você olha para a receita disponível, você obtém um panorama totalmente diferente." Pegue as perspectivas da Indonésia como exemplo. O país tem uma população de 190 milhões de habitantes e possui um PIB per capita equivalente ao dobro do da China, e quer instalar 5 milhões de linhas telefônicas nos próximos três anos e meio - a um custo de US$ 6,8 bilhões. A Indonésia abriu o seu mercado à concorrência no ano passado, e trinta consórcios internacionais diferentes participaram das licitações. A companhia telefônica estatal PT Telkom selecionou cinco consórcios em junho passado - liderados pela Nippon Telegraph & Telephone, Tlekom Malaysia, Singapore Telecom, France Telecom e a Telstra da Austrália - para implantar e operar as redes por um período de quinze anos. Um fator significativo foi o de que duas empresas ligadas à família do presidente Suharto foram eliminadas por não terem apresentado as melhores ofertas, o que representou um duro embate com a eqüidade de direitos. ESCAMBOS Os investidores estrangeiros também estão de olho no ex-Bloco Oriental. Mas o entusiasmo que emergiu após a queda do Muro de Berlim já esfriou. A mudança dos regimes políticos levou a uma desaceleração do processo de tomada de decisões até o ponto de estagnação. Nesse período já passaram cinco diferentes ministros no Ministério das Telecomunicações e Correios da Polônia, e essa mesma turbulência tem sido observada em outras novas democracias - sendo que cada mudança de ministro é acompanhada por um novo plano. O financiamento é outro grande problema. As tarifas telefônicas em algumas das ex-repúblicas soviéticas praticamente não existem, devido à falta de equipamento para cobrança, e, desse jeito, as regiões não podem pagar, por conta própria, por grandes melhorias no sistema de telefonia. Ainda assim, a Siemens consegue ganhar "centenas de milhões de marcos" por ano em operações na região, segundo Jürgen Lagleder, presidente de vendas da área de telefonia pública da Siemens, mas nem todo esse valor é pago exatamente em dinheiro. A Siemens vendeu, recentemente, uma estação de telefonia para um governo local na Rússia, na região do mar Cáspio - recebendo em caviar o valor de US$ 6 milhões. Mas esse não é um mau acordo, se você gosta de caviar. E quando o governo conseguir implantar uma infra-estrutura de telecomunicações moderna, ele poderá exportar o seu caviar e usar o dinheiro para a implantação de mais linhas telefônicas. Essa é uma visão que é compartilhada, de uma forma ou de outra, por todos os países em desenvolvimento, e, se isso acontecer, proporcionará um grande impulso para a economia mundial. Não seria bom, se todos pudessem telefonar para casa?