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B2B Magazine

A real discussão dos transgênicos

Publicado em 01 outubro 2003

Por Por Florencia Ferrer
Muito se fala sobre a Sociedade da Informação, mas quais são seus fundamentos? Qual é o conjunto de idéias que nos ajuda a entendê-la? Como diz Manuel Castells - professor da Universidade de Berkeley, conhecido pela trilogia A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura - a primeira característica do novo paradigma é que a informação é matéria-prima. Agora as tecnologias são para atuar na informação, não só informação para atuar em tecnologia, como no caso das anteriores revoluções tecnológicas. A segunda característica é a que se refere à capacidade de penetração desses novos recursos. Já que a informação é parte integral de toda a atividade humana, todos os processos de nossa existência individual e coletiva estão diretamente modelados pelo novo meio tecnológico, inclusive a vida e o conhecimento sobre ela. É essa a discussão central quando falamos de transgênicos e que nos demonstra como estamos despreparados para falar de tecnologia e de seu impacto na nossa vida. Pode uma empresa ser detentora de uma informação genética sobre a vida, seja da soja, seja de um ser humano? É inquestionável que se a Monsanto investiu em tecnologia e com isso produziu melhoras no plantio de soja, nada mais justo que lucrar com esse investimento. Mas quais as regras do jogo? Até aonde pode ir esse processo? E se as modificações fossem num ser humano? A empresa poderia apropria-se de seu resultado? Se a lógica for a mesma não teríamos como questionar. Não há dúvidas que se os investimentos devem ser protegidos, regras devem ser criadas para orientar as inovações. Mas é isso o que deve ser discutido. Acredito que ninguém pode ser tão ingênuo ao ponto de achar que modificar geneticamente uma semente pode ser um problema em si. Não há nenhuma fundamentação científica que prove isso, pelo contrário, modificar geneticamente pode permitir diminuir os defensivos agrícolas, esses, sim, provadamente contrários à saúde. Não há substâncias nocivas nos conservantes dos alimentos e das bebidas? O ar de São Paulo não é mais prejudicial à saúde que uma soja modificada geneticamente? Acho que não restam dúvidas que uma boa parte da soja plantada no Brasil deverá ser transgênica, com isso se melhora a produtividade, diminuem-se os poluentes da cultura, melhora-se a qualidade do produto. Os produtos orgânicos devem continuar sendo um nicho de mercado, mas excessivamente caro para suprir toda a cadeia produtiva da soja. Com isso, quero dizer que não há volta com as inovações tecnológicas, quando elas se provam efetivas não há regulamentação que segure sua utilização. Dificilmente os agricultores seriam convencidos de não utilizá-la. O verdadeiro problema aparece quando um dos principais componentes da pauta de exportações brasileiras deverá pagar royalties a empresas estrangeiras, piorando com isso o saldo da balança comercial. Tecnologia sim, avanços e inovações têm de ser bem-vindos, mas regulamentados e inseridos numa política de desenvolvimento. O que estamos discutindo é um posicionamento sobre o novo paradigma tecnológico e sua regulamentação, e não se podemos deter os avanços tecnológicos. Florencia Ferrer é doutora em sociologia econômica pela USP, pesquisadora da FAPESP e consultora em implementação social da tecnologia Florência.ferrer@terra.com.br